sexta-feira, setembro 22, 2006

The Pillowman



”Será crueldade matar uma criança? E quando esse acto a poupa a uma vida de sofrimento? O que prevalece: o direito à vida ou o direito à felicidade? A uma vida feliz, dir-se-á. Mas as palavras são tão fáceis de pronunciar e construir frases é tão mais simples que vivê-las. Que tudo pode mudar, que há sempre solução... penso que (quase) todos sabemos que não é bem assim.”
Fernando M.

Uma comédia não poderia ser mais negra. Os risos provocados pelo Homem-Almofada são do tipo nervoso, antes e após um engolir em seco, apropriados a um espectáculo em que temos um homem suspeito de torturar e matar crianças, sem piedade e com muita imaginação. A este respeito uma amiga comentava a semelhança com a vontade de rir nos velórios, mesmo os de pessoas mais próximas. É verdade, confesso que fico particularmente inspirado nessas alturas. Penso ser uma espécie de manobra de diversão.
“Não estou a tentar dizer absolutamente nada.” O Homem-Almofada celebra o instinto humano cru para fantasiar, para mentir por desporto, para pescar com peixes mais pequenos. Este instinto é tão primário como o apetite por sexo e comida. A vida é curta e (muitas vezes) brutal, mas as histórias são divertidas. Mais, ao contrário de nós, elas têm a oportunidade de viver para sempre.

Todos os personagens do Homem-Almofada acabam por ser contadores de histórias. Os estilos de narrativa vão desde os contos negros de fadas de Katurian até às decepções dos policias; e do interrogatório oficial, acompanhado por tortura, que é o motor para a inesperada fantasia sobre uma velhice com rebuçados.
A relação entre narrador e ouvinte tem os seus aspectos sado-masoquistas. Caçar apenas para me divertir, a mim e à criança que dorme em todos nós – a criança que esconde a cabeça entre os cobertores e pede, “Pai, assusta-me.”

quinta-feira, setembro 21, 2006

O que cai #3

Ontem fui ao médico. A minha tensão arterial estava boa, embora um pouco baixa (10,8 - 6,5); fora isso, a Srª Drª disse-me que tinha apenas cinco meses e três dias de vida.
A ver se vou ao teatro hoje.

quinta-feira, setembro 14, 2006

O que cai #2



Retirou os cobertores bruscamente e escutou com toda a atenção. Não se tinha enganado. Uma voz gritou ainda várias vezes: «Socorro!»
O Sr. L vivia numa vivenda junto ao rio. A voz vinha de um desgraçado caído ao Zezere.
Sem pensar no frio que fazia tremer os seus membros ressequidos, precepitou-se para o exterior. Atravessou a calçada e apoiado no parapeito olhou a água negra. Um homem, como se apanhado num líquido viscoso, debatia-se.

«Sou velho – disse o Sr. L – Que posso esperar mais da vida? Se salvo este homem que se está a afogar, terei mais satisfações que as que me podem dar alguns anos de vida miserável.»
Subiu o parapeito e lançou-se à água.
Foi ao fundo, porque tinha um coração de pedra.

quarta-feira, setembro 06, 2006

Uma certa água #2

Ao abotoar as calças, senti o umbigo saltar como uma concha empurrada por uma onda mais forte e, logo, o mesmo ruído, agora mais nítido, mais alto. Sentei-me, passei a mão pela cara, prevendo a barba áspera por fazer, apenas esperava.

Levantei-me para ver a minha cara no espelho, as calças cairam sobre os sapatos desatados, e abri a boca. Foi então que a àgua começou a jorrar boca fora. Primeiro em gotas, depois em fluxos mais fortes, ondas, marés, até que um quase maremoto me arrastou para fora da casa-de-banho. Espantado, tentei agarrar-me ao corrimão da escada, cheguei a esticar os dedos, mas não havia dedos, apenas água derramando-se escadas abaixo, atravessando o corredor, a saleta de fotografias desmaiadas. Antes de chegar ao saguão pensei que seria bom, agora, não ser mais riacho, nem fonte, nem lago, mas um rio farto, caminhando em direcção à rua, talvez ao mar.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Vou Ouvindo



So pull me out of this dream
Turn off the television
Put on a romantic vinyl
And come to bed again
Please be my next morning flower
But don't be there all the time
Leave me a couple of hours
Then bring me food and wine

sábado, setembro 02, 2006

Parei

Porque precisei de olhar para dentro, longe dos olhares dos outros.
Um verão introspectivo, diferente, único...