terça-feira, fevereiro 28, 2006

Coincidências

Já acreditei que as coincidências tinham uma mensagem secreta, mágica, pronta para desafiar e ser descoberta.
Hoje limito-me a coleccioná-las, como se fossem selos coloridos de um país distante.

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Outro mar



O mar interpôs-se no caminho. Um barco atravessa lentamente o horizonte, à velocidade reduzida de uma formiga projectada à distância. A imagem de um amor ou de uma vida que chega ao fim. Quando a escuridão é total, permanece o barco visível, iluminado por uma luz rosada. De dentro aparece uma mulher. Os olhos são o que mais chama a atenção, pequenos espelhos circulares. Sei que são espelhos, ao ver-me neles vejo um mar diferente.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Poema

"Nomeei-te no meio dos meus sonhos
chamei por ti na minha solidão
troquei o céu azul pelos teus olhos
e o meu sólido chão pelo teu amor"
Ruy Belo

Azul #2



Escrevo o verbo do que está para vir. Nasci no espaço de um amanhecer; procuro por quem devo esperar. Abandonei a inspiração da cidade insana, com a mala cheia de aromas. Fui à selva, sacudi a cabeça sob a chuva quente e pesada. Procurei o calor no fundo do céu.

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

The Booklovers - Divine Comedy

Quando oiço esta música tenho vontade de ler todos os livros, sentir todas as histórias, percorrer com os olhos milhares de letras com significados infinitos. Sentir, ouvir, sentir, cheirar, sentir, tocar a vida que também passa a ser minha.

"This book deals with epiphenomenalism, which has to do with consciousness as a mere accessory of physiological processes whose presence or absence... makes no difference... whatever are you doing?"

Aphra Benn: Hello
Cervantes: Donkey
Daniel Defoe: To christen the day!
Samuel Richardson: Hello
Henry Fielding: Tittle-tattle Tittle-tattle...
Lawrence Sterne: Hello
Mary Wolstencraft: Vindicated!
Jane Austen: Here I am!
Sir Walter Scott: We're all doomed!
Leo Tolstoy: Yes!
Honoré de Balzac: Oui...
Edgar Allen Poe: Aaaarrrggghhhh!
Charlotte Brontë: Hello...
Emily Brontë: Hello...
Anne Brontë: Hellooo..?
Nikolai Gogol: Vas chi
Gustav Flaubert: Oui
William Makepeace Thackeray: Call me 'William Makepeace Thackeray'
Nathaniel Hawthorne: The letter 'A'
Herman Melville: Ahoy there!
Charles Dickens: London is so beautiful this time of year...
Anthony Trollope: good-good-good-good evening!
Fyodor Dostoevsky: Here come the sleepers...
Mark Twain: I can't even spell 'Mississippi'!
George Eliot: George reads German
Emile Zola: J'accuse
Henry James: Howdy Miss Wharton!
Thomas Hardy: Ooo-arrr!
Joseph Conrad: I'm a bloody boring writer...
Katherine Mansfield: [cough cough]
Edith Wharton: Well hello, Mr James!
DH Lawrence: Never heard of it
EM Forster: Never heard of it!

Happy the man, and happy he alone who in all honesty can call today his own;
He who has life and strength enough to say 'Yesterday's dead & gone - I want to live today'

James Joyce: Hello there!
Virginia Woolf: I'm losing my mind!
Marcel Proust: Je me'en souviens plus
F Scott Fitzgerald: baa bababa baa
Ernest Hemingway: I forgot the....
Hermann Hesse: Oh es ist alle so häßlich
Evelyn Waugh: Whoooaarr!
William Faulkner: Tu connait William Faulkner?
Anaïs Nin: The strand of pearls
Ford Maddox Ford: Any colour, as long as it's black!
Jean-Paul Sartre: Let's go to the dome, Simone!
Simone de Beauvoir: C'est exact present
Albert Camus: The beach... the beach
Franz Kafka: WHAT DO YOU WANT FROM ME?!
Thomas Mann: Mam
Graham Greene: Call me 'pinky', lovely
Jack Kerouac: Me car's broken down...
William S Burroughs: Wowwww!

Happy the man, and happy he alone who in all honesty can call today his own;
He who has life and strength enough to say 'Yesterday's dead & gone - I want to live today'

Kingsley Amis: [cough]
Doris Lessing: I hate men!
Vladimir Nabokov: Hello, little girl...
William Golding: Achtung Busby!
JG Ballard: Instrument binnacle
Richard Brautigan: How are you doing?
Milan Kundera: I don't do interviews
Ivy Compton Burnett: Hello...
Paul Theroux: Have a nice day!
Günter Grass: I've found snails!
Gore Vidal: Oh, it makes me mad!
John Updike: Run rabbit, run rabbit, run, run, run...
Kazuro Ishiguro: Ah so, old chap!
Malcolm Bradbury: stroke John Steinbeck, stroke JD Salinger
Iain Banks: Too orangey for crows!
AS Byatt: Nine tenths of the law, you know...
Martin Amis: [burp]
Brett Easton Ellis: Aaaaarrrggghhh!
Umberto Eco: I don't understand this either...
Gabriel Garcia Marquez: Mi casa es su casa
Roddy Doyle: ha ha ha!
Salman Rushdie: Names will live forever...

A dor de querer


A tarde vai morrer; nos caminhos de ar parado e luz baixa, queda mortal do último sol.

A sombra é o silêncio da tarde.
Há um fumo distante, um comboio que por acaso volta, enquanto dizes:

Sou a tua própria dor, queria amar-te.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

O Bom Aprendiz

"Kafka disse que não há rumo, há apenas a meta, aquilo a que chamamos rumo não passa de hesitação."
Iris

terça-feira, fevereiro 21, 2006

segunda-feira, fevereiro 20, 2006


Foste apanhado

And the Glass Handed Kites



Só posso comparar este álbum dos Mew a uma boa garrafa de vinho, a forma como o líquido aveludado se mistura com a saliva, o corpo fica solto, entre um sorriso aparvalhado e o flutuar à deriva sem pressa de parar. Imagino-me esticada no sofá, descalça, o vinho é CARM Gemelli. SPECIAL...

Enfrenta, em frente.



Se te ajoelham dez vezes, levantas-te outras dez, outras cem, outras quinhentas. Não hão-de ser as tuas quedas tão violentas nem ligeiras, hão-de ser tantas.
Obsessão carnal, intensa, nada mais necessita uma criatura. Todos os incuráveis têm cura cinco segundos antes da sua morte!

Não te sintas vencido, não te sintas escravo; a tremer de medo, pensa-te bravo e ataca. Age como um Deus que nunca chora: ou como Lucifer, que nunca reza. Que morda, já, rebolando no pó, a tua cabeça!

O mundo é um palco onde tudo é fingido, onde cada anfitrião esconde o seu verdadeiro ser, por detrás do pano. Não é dita a verdade nem a quem mais se ama; não se mostra medo nem ao mais aterrador.
Não acreditas que te tenham desejado por mais beijos apaixonados que te tenham dado: como o deserto deseja as núvens sem que a ninguém o diga.
Vives a vida, mas morto!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Pop Pop & Away? Dont be ridiculous!



Fernando M. identificou pelo menos dois impulsos diferentes. O primeiro é o que leva ao movimento, cuja ideia vai contra o que actualmente se aceita como mundo moderno. O outro impulso é o regresso às origens, aquele que nos leva a querer dançar completamente nus ao som de qualquer coisa parecida com uma manada de bois almiscarados em debandada geral.

Será isto próprio de um bom Cristão? Bem, isso interessa-lhe tanto saber como a composição química do coco de galinha.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Caricaturas de si mesmo

Na novela das caricaturas (ainda longe de terminar), são tantos os que nos falam de tolerância. A esses em especial impõe-se a questão: devemos tolerar a intolerância do islão?

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Infernos de antes



Os poetas infernais – Genet, Artaud, Rimbaud – que falem mais alto. Eles sabem muito mais do inferno que qualquer habitante da terra. Como explicar a quem não quer ver, a quem não sabe nem quer saber? A quem a imaginação abandonou, por se sentir abandonada. Como dizer?

Falem mais baixo. Estejam calados! Ouçam quem tocou no inferno ou morram e experimentem-no. Calaram-se...

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Como odeio rosa!



São Valentim trabalha para as empresas de cartões, para os restaurantes, fábricas de chocolates e floristas. É tudo uma estratégia de marketing: cria-se um dia para os namorados e as vendas disparam. Boom, Valentine's Day! Uma tortura para os solitários e uma benção que engorda os bolsos de quem vende rosas embrulhadas em papel celofane “i love you” e as empresas de cartões. Para onde quer que se olhe, lá estão as nojentas combinações de vermelho e rosa. Por um dia, como odeio o rosa!
Há pessoas que se sentem mal por não terem alguém a quem amar (excluindo, talvez, a mãe, o gato ou a PS2), e tudo por causa de um falso dia. Nos EUA, ele há pessoas que se sentem pressionadas a pedir a mão (não, não é de coentrada) no dia de S. Valentim. É ridículo, mesmo tratando-se de americanos.
Mesmo para quem já tem uma relação, o V-Day stressa. Porque fazem isso a vocês mesmos? Ignorem este dia ficcional. O que eu não daria por um belo Dia anti-Valentim? Isso é que era!

Sugestões para este dia:

1. Evita qualquer sítio onde vão casalinhos. Faz qualquer coisa para ti, em casa.
2. Aluga um bom “mau” filme. Agarra o “Reservoir Dogs” no clube.
3. Ouve a discografia completa dos Sonic Youth. Põe os auscultadores e deita-te no chão da sala.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Não há paciência

Para tantos corações, ursinhos, bonecos fofos, perfumes de amor, relógios de namorados, cuecas para os dois...

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

It's true!



Fernando M. foi conselheiro-chefe musical de Joseph Frings, ponto cardeal de água de Colónia (julga-se que Oeste), Alemanha. Frings foi uma figura-chave mesmo antes das Vatican Sessions II terem começado. “Apesar de ateu, Fernando M. parece abençoado por Santo Tirso! As suas sugestões musicais são ora uma benção ora tentações do Demo. É a única pessoa que conheço capaz de misturar Einsturzende Neubauten com uma sandes de fiambre”, disse Frings (em alemão, claro).

Candeeiros

Vistos de cima, do topo das escadinhas de São Cristóvão, os candeeiros amarelos de velhos têm um toque de mistério. É das sombras dos passos que passam sem passar, é da esquina do muro sem casa que corta os degraus da calçada, é dos meus olhos que procuram a cor na noite que acaba de chegar.

No meio desta luz triste, moribunda, quase viva, brilha uma janela, mesmo no cima das escadinhas de São Cristóvão. É a vida da cidade, mortiça, que encontra um sentir dentro destas paredes antigas.

Facto #1



Uma percentagem significativa dos Americanos continua a acreditar e a defender ardentemente a Teoria Criacionista, a teoria da concepção inteligente, negando o Evolucionismo de Darwin.
À luz deste facto, surgem na minha mente as seguintes duvidas:

Se a Teoria Criacionista é uma teoria de concepção inteligente como se explica a existência dos Americanos?

A sua estupidez super-potente sera um castigo divino ou resulta de terem evoluído directamente das amibas?

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Pensas que a RFM é uma merda? Acredita que não estás só.



" Será que ele escreveu mesmo merda? " diz um visitante do sofa ao amigo, surpreendido com o facto ter encontrado uma asneira num blog que julgava limpinho.
“Até acho a RFM muito fixe”, comenta o amigo.

Sabem que mais? A RFM enche os ouvidos de milhares de ouvintes com pázadas de merda vindas directamente das principais editoras. Porquê? Porque a maior parte dos ouvintes gosta mesmo disso e, se for preciso, ainda empurra com um cotonete (ou a tampa da caneta que tem à frente).
Anda por aí tanta música que não é tocada; a RFM não nos representa mas sim os mesmos mentecaptos que passam o domingo no Colombo a ver montras, compram a colectânea dos Queen e do Demis Russos, acham que o Pearl Harbor foi o melhor filme que viram e que no brasileiro do Parque das Nações se come muito bem. Meus amigos, fiquem desde já sabendo que tudo isso tresanda, tudo isso é uma monumental bosta, aliás torres gémeas cobertas de excrementos.

Saliente-se a importância da internet e da Radar na divulgação da música independente; através destes meios, consegue-se chegar às pessoas como nós e, potencialmente, tem um grande impacto (veja-se o sucesso dos Arcade Fire, Khonnor ou dos Clap Your Hands Say Yeah). O seu valor acrescentado é fugir à ditadura da playlist, da maioria e das grandes editoras. A internet é um meio fantástico para promover bandas menos conhecidas. Os downloads permitem-nos descobrir música que foi empurrada pela janela, arquivada no cesto do lixo ou que nem sequer passou da recepcionista da “indústria da música”.

Três links:
http://www.fs1.co.uk/ecard/kings/
http://www.arcadefire.com/yope.html
http://sigur-ros.co.uk/media/index.php

Fica a Promessa

Só volto a um concerto RFM quando tiver madeixas louras e um perfume forte e enjoativo.

Os Depeche Mode foram QB em vez de DM (demais), não surpreenderam, tocaram os hits todos como nos álbuns, o vocalista dançou como nos telediscos, os vídeos estavam giros e o som baixo com vários níveis de distorção.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

O casamento entre humanos e ovelhas ameaça a instituição do casamento



Bem, esta é uma perfeita contradição. Ameaça o casamento? Ao permirem casar-se? Não me parece muito lógico. Se se permite a alguém casar com uma ovelha, não se está a encorajar uma ovelha a casar com alguém por quem não se sente atraída, com quem não se pode relacionar sexualmente. Ao permitir o casamento com ovinos, estaremos a reduzir o número de casamentos heterossexuais que acabam em processos de divórcio. Se é a estabilidade da instituição do casamento heterosexual que te preocupa, acredita que ninguém te vai querer num casamento destes. Vais continuar a ter liberdade de escolha.

E falando de divórcio – argumentar que a instituição do casamento deve ser preservada a todo o custo, obrigando pessoas que não se suportam a manter-se juntas, é melhor argumento para a reforma das leis do divórcio do que para impedir o casamento com uma ovelha.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Cheguei

Tropecei, caí no chão, esfolei o nariz, torci o coração, levantei-me, ergui a cabeça, desafiei, senti, sofri, fui feliz, amei, chorei, ri, sonhei, desejei, encontrei o sonho e o pesadelo. Vivi.
Hoje cheguei aos 30, pronta para mais 30!

Portugal, que Futuro?



Estranho país este em que o futuro de 7 milhões de portugueses parece depender de um jogo de ir aos milhões...
Senhores e senhoras, meninos e ovelhas, não desanimem! A probabilidade de conseguirem concretizar esse vosso futuro é de 1 em 76.275.360, ou caso prefiram 0,0000013%.
Tenham o resto de um bom dia.


Provavelmente serão esses mesmos 7 milhões que acham que as relações homossexuais são imorais. Diz quem? A Biblia? De algum modo, eu sempre pensei que a liberdade religiosa implicava o direito a libertar-nos da própria religião. A Bíblia não condiciona a Constituição Portuguesa, ninguém tem o direito de impor regras a alguém baseado-se numa percepção moral de uma interpretação da Bíblia. Nem todas as religiões mundiais têm problemas com a homossexualidade; muitos sectores do Budismo, por exemplo, celebram livremente relações homossexuais e gostariam de ter a autoridade de as tornar em casamentos legais. Neste sentido, a sua liberdade religiosa está a ser violada.

Mais uma vez, aproveito para lhes desejar um santo dia.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Ele e Ela – Capítulo Final


Há dois dias atrás ela respondeu; gostava que vivessem no mesmo país. Ele entusiasmou-se: que o esperasse; ele iria tentar tudo para dar resposta à resposta com uma acção, uma viagem, uma nova vida.

Há dois dias que ela nada diz. Afinal não falavam do mesmo (traduções aparte): ele, falava de uma nova vida; ela, que tinha sido bom mas que a vida continuava. Um flirt de Verão fora da estação. Pior do que ser abandonado era sentir-se perdido, junto com um amor que nunca o chegou a ser. Morto à chegada, sem nunca partir.

Deu-lhe até à hora de almoço de hoje. Passou. Se calhar devia dar-se por satisfeito por a ter conhecido, pelos beijos, palavras e olhares trocados; pelo previlégio de sentir assim, de se ter apaixonado, desiludido, vivido. Isto deveria confortá-lo, mas de modo algum se sentia confortável. Haverá algum fim sem desconforto?

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Racional?



Racional? Por vezes a racionalidade leva-nos a calçar chinelos.

Faltam 7 dias...

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Saudade

No meio de uma conversa de circunstancia, de duas pessoas que acabam de se conhecer, o Luís pergunta-me: Nunca sentiste saudades de um livro, das personagens que invadiram a tua imaginação e que te abandonam com o virar da última página? Fiquei surpreendida, não estava à espera de uma confissão tão pessoal.

Para mim, os livros são referências temporais, lembro-me do que senti em cada um, principalmente nos livros que levo em viagem. Misturo as emoções das páginas escritas com as descobertas vividas. Tenho saudade do tempo, mas não do universo do livro, esse passou também a ser meu.

Lembrei-me de um abraço na “linguagem dos pássaros” em que ela diz que tem saudades dele, sente saudades do tempo que não vai estar com ele. A saudade antes da partida! A angústia do amor demasiado forte, que sofre com ausência mesmo no momento mais insignificante de uma vida ou de um sonho.