quarta-feira, maio 31, 2006

Coisas de que eu me lembro #1

Lembro-me que, em tempos, conheci um anónimo.

terça-feira, maio 30, 2006

Critica-me isto!



Se, para além da nossa mãe, há algo em que podemos acreditar toda a nossa vida: os críticos de cinema são uma merda.
Não tenho qualquer tipo de problema com as suas opiniões sobre filmes, ou sobre o seu carácter como ser humano, mas tenho problemas com a sua capacidade de percepção completamente condicionada por tudo o que um crítico espera de um crítico. Na realidade, eles escrevem uns para os outros.
Eles é que a levam a direito. Fizeram um curso de qualquer coisa com uma boa média para uma universidade privada, usaram os seus dons de retórica para sacar gajas, beberam marcas de cerveja de que ninguém ouviu falar (conhecidas nas respectivas terras como “aquela merda que sabe a mijo de gato mas que os estrangeiros gostam de beber para se armar”), e acabaram finalmente num qualquer jornal dito de referência a criticar filmes para as massas ignorantes (nós, portanto).
O problema é que que estes grupos de comunicação social, estas corporações do anti Cristo, lavam-lhes a massa cinzenta e fazem-nos escrever tanto que não lhes sobra tempo para escrever algo que seja criativo e valha a pena ler. São forçados a assistir a horas sem fim de filmes por semana, sobre os quais é esperado que escrevam críticas com 2 a 5 centenas de palavras até à sua reforma.
O resultado deste abuso são centenas de páginas merdosas com dezenas de críticos de cinema a plagiarem-se uns aos outros e a escreverem a mesma merda de opinião. É claro que há uns poucos inconformados por aí. Se todos os outros dizem que o filme é uma merda, eles que é uma obra-prima.
Este espertos do demo descobriram que para serem notados se devem por à parte do esparguete popular, e fazer uma crítica completamente oposta ao que o povo anda a dizer. O povo gosta de dizer coisas, e de esparguete sobre-cozido com ketchup às costas. Estes génios do mal descobriram que o seu jornal dá valor a esta cruzada contra o gosto popular.
O problema é que estes críticos são acefalos. Na verdade, eles não têm qualquer opinião acerca do filme, e escrevem a crítica numa perspectiva que não a própria. E ainda piora, agora todo o crítico aprendeu isto, atirou a ética janela fora e começou a fazer o mesmo.

A solução para os críticos de cinema e suas opiniões de merda:

Não lhes dês atenção. Se és um adolescente imberbe, um rebelde que fuma charros, como podes não curtir o Tom Cruise a rebentar com tudo em seu redor? Não há nada mais divertido do que o som de um pescoço a quebrar para os poucos que têm a capacidade de ver a coisa de um ângulo completamente diferente. A percepção é tudo, e a maior parte dos críticos de cinema devia estar a coçar as hemorróidas na aula em que este conceito foi ensinado.
Se vais escrever uma crítica, primeiro aprende a ser original e criativo (não copies este texto como eu). Vê o filme de todos os ângulos possíveis, e percebe que a tua opinião é apenas isso. Irás então descobrir a tua independência como escritor que é livre de escrever o que bem lhe apetecer, e que podes finalmente e de uma forma honesta afirmar que todos os críticos de cinema são uma merda.

Cinema Descodificado

Fui ver o filme que lidera as bilheteiras nacionais. Nunca nenhum outro filme foi tão visto na primeira semana de exibição. Um livro milionário que se transformou em filme milionário. E os críticos de cinema não perderam a oportunidade de fazerem a criticazinha da praxe; a literatura descartável que pode, ou não, resultar num bom filme.

Pensei que fossem críticos de cinema, mas afinal também percebem de literatura! Porquê que tudo o que é mainstream tem de ser considerado mau pelos supostos intelectuais. Será que a democratização das ideias põe em causa o estatuto de iluminados da triste elite de intelectuais.

Fui ao cinema, não fui ver o filme, fui ao cinema, fui à sala que não tem pipocas distrair-me um bocado. Sem expectativas. Não gostei do filme, foi fraco, muito fraco. Gostei do livro, não o transformei na verdade absoluta da minha vida ou da minha crença religiosa. Foi importante ter uma perspectiva diferente do que veio pre-formatado da minha educação religiosa, dos sermões dos padres, do mistério divino. Descartável? Pôs uma população inteira a ler, numa sociedade em que a leitura está longe de ser um hábito corrente. Os líderes religiosos entraram em pânico, fizeram comunicados, palestras, proibiram, ameaçaram. Descartável?

Quando tantos milhares de portugueses se interessam por um tema tão controverso, é porque estamos no bom caminho. Descartável? Os críticos é que têm de descartar as ideias preconcebidas do que é descartável, não é desprezível uma curiosidade colectiva que provoca questões e discussões.

É pena a arrogância não ser destacável!

segunda-feira, maio 29, 2006

A tua igreja é uma bela merda!

Este homem era um padre de uma igreja local. O meu amigo não estava a falar. O padre queria saber porque tinha ele deixado de ir lá. O meu amigo sorriu e disse-lhe educadamente para ir levar onde as galinhas põem os ovos, e que agora ia a outra igreja ali para os lados da fonte luminosa. Agradeceu a preocupação. O padre perguntou porque não tinha ele regressado à “sua” igreja. O meu amigo, mais uma vez tentando ser educado, tentou contornar a questão e não decarregar neste homem ambos os cartuchos da sua caçadeira emocional de canos serrados. Eu consegui perceber que ele estava a ficar um pouco desconfortável. Tentei dizer algo, mas o padre interrompeu-me. Tentei desviar a conversa quando me olhou e disse, “Quer fazer o favor de não se meter nisto? Isto é entre o João e eu.” Acho que exagerou e o meu amigo rebentou. “Muito bem. Quer mesmo saber porquê?” “Sim.” Disse inquisidor. O meu amigo olhou para ele e tentou explicar, mas sempre que lhe saia uma palavra o padre contrapunha com uma qualquer obscura razão que nada tinha a ver. Estava a tentar invalidar os pontos de vista do meu amigo, e a fazer um pessimo serviço nesse aspecto. Finalmente, quando o nível de frustação aqueceu mais do que um ferro em brasa para marcar um bezerro tresmalhado, olhos nos olhos e em bom som, “Aqui estão as razões porque acho que a sua igreja é uma merda.” Quando começa esta lista olha para mim e repara no meu sorriso – nunca o tinha ouvido falar assim.

sexta-feira, maio 26, 2006

A mais bela bandeira



As bandeiras penduradas de nada serviram. Triste país este em que patriotismo é coisa de bola e em que todos os seus deprimidos cidadãos se mobilizam à volta de 11 macacos que ganham por mês o mesmo que eles em dois anos para andarem atrás do esférico que rola no relvado. Dá todo um novo significado a "dinheiro a pontapés".

As esperanças perderam-se, as bandeiras estão murchas. Em breve, poderão voltar a ser guardadas, umas e outras junto ao terço, até ao próximo show de bola.

terça-feira, maio 23, 2006

Budapeste

Fui a Budapeste, a ver se me encontrava. Afinal, não era eu.
Dei uma volta, regressei. Cheguei cansado e encontrei-me, perdido.

sexta-feira, maio 19, 2006

Eurotrashvision Song? Conteste!



Ontem dei por mim a tentar saber o que é na realidade o Festival da Eurovisão, e até onde poderá descer a sua qualidade? Ou será que é propositado, como uma escultura de Nossa Senhora de Fátima feita de excrementos de ovelha enquanto objecto artístico?

Desde 1956 que o Festival da Eurovisão atemoriza as pessoas pela Europa fora. Os países votam em canções (?) e em grupos, destes juris fazia parte a minha avó (em 1977, o Reino Unido teve um concorrente punk, que ficou em último lugar com uma canção chamada "Shut the Door in my Face". Eu tinha 7 anos e até eu teria achado uma merda). Por vezes, os países escolhem as suas maiores estrelas para os representar... De qualquer modo, a maior parte dos concorrentes da Eurovisão parece que vieram directamente de um salão de cabeleireiros especializados em choques electricos. A Eurovisão é fundamentalmente uma questão de vergonha nacional.
Ocasionalmente, como no caso dos Abba, a banda vencedora segue para a fama e fortuna, mas a maior parte nem por isso. Tem ali mesmo os seus 3 minutos e 12 de fama e ficam condenados ao limbo eterno das festas de provincia, talk shows matinais para estrelas decrepitas que nunca o foram e natais de hospitais.

quarta-feira, maio 17, 2006

Be my sheep



O casamento inter-espécies iria forçar as igrejas a casar homens e ovelhas mesmo tendo uma objecção moral em fazê-lo. Este argumento, usado pelas igrejas que se opõem ao casamento inter-espécies, é simplesmente falso. Não há nada em nenhuma lei matrimonial, existente ou proposta, que obrigue uma igreja a casar um casal contra a sua vontade. As igrejas sempre puderam recusar casais, e por qualquer razão que lhes sirva, e isso não irá mudar. Algumas igrejas continuam a recusar casamentos interraciais, e outras casais de diferentes religiões, e alguma ainda recusam casais com grandes disparidades etárias ou porque têm os dentes tortos ou por qualquer outra razão que lhes apeteça ou porque sim.

O casamento ovinossexual não irá alterar qualquer direito da igreja para recusar a santificar qualquer casamento inteiramente ao seu gosto – iria simplesmente dar às igrejas a oportunidade de casar legalmente casais inter-espécies – a liberdade religiosa iria na verdade expandir-se, não contrair-se.

sexta-feira, maio 12, 2006

Estranho desconforto



Desafio os liberais a repensar as suas ideias de diversidade e do Estado-providência. Há não muito tempo atrás, Portugal era um país estratificado por classes e regiões. Na maior parte das cidades, subúrbios, vilas e aldeias era possível prever atitudes, e até o comportamento, das pessoas que lá viviam. Na maior parte do país, hoje já não é verdade. O país deixou de ser a família da santíssima trindade: futebol, fado, fátima.

Para algumas pessoas isto é causa de desorientação – uma mudança que associam à crescente incivilidade da vida urbana moderna. Para mim, é um sinal da inevitável, e benvinda, marcha da modernidade. Após séculos de normalização, industrialização, urbanização, construção da nação e revolução, os portugueses ficaram mais livres e, consequentemente, mais diferentes entre si.

quinta-feira, maio 11, 2006

No metro

É curioso ver como os limites de tolerância ao desconforto, formas de vida, prioridades variam conforme a sociedade onde estamos. Em Londres as pessoas vivem em quartos alugados grande parte das suas vidas, partilham a casa de banho com desconhecidos, no frigorífico da casa tem direito a uma prateleira e suportam o cheiro das cenouras em avancado estado de decomposição da outra prateleira.

Lembro-me de quando cá estive a viver (estou a escrever de Londres) o Harpic era o meu melhor amigo, a rotina matinal. Tudo correu mais ou menos mal ate o quarto do fundo ter sido ocupado por uma inglesa que assaltava o frigorífico.

Em Lisboa as pessoas ficam escravas da casa, da prestação do banco, dos impostos municipais, ao condomínio e das 1001 cartas que chegam todos os anos/meses com novas contas que nunca ouvimos falar.

Estilos de vida... Opções?

Eu? Nunca mais comprei Harpic. Mudei de marca...

terça-feira, maio 09, 2006

The Fucking Mansions - part 2



As Mansions têm um historial de violência e são uma armadilha em caso de fogo ou qualquer tipo de acidente que cause o pânico generalizado. Tomem nota: um aviso do guia da Lonely Planet – “Take a look down the light wells off the D-Block stairs for a vision of Hell”. As Mansions são um aglomerado de cerca de 900 casas de hóspedes, pensões, lojas, restaurantes, nano-apartamentos e fábricas incrustadas numa velha estrutura de 17 andares. Têm a reputação de ser um lugar onde se pode satisfazer qualquer tipo de vício.

Há mais de 30 anos que as mansões têm sido um iman para as legiões do baixo orçamento que chegam a Hong Kong. O seu lado positivo? Não há nenhum. Podem dizer que é barato, mas o que se poupa em Hong Kong Dollars desperdiça-se em horas de sono perdidas. O meu sono tem um preço, e não é este.

sexta-feira, maio 05, 2006

The Fucking Mansions - part 1



Este é o diário possível das experiências (muitas delas, intensas) vividas. O ponto de chegada foi Hong Kong. Foram-nos recomendadas umas tais de Mansions, fomos para as Mirador Mansions (versão light das Chungking) ; alojamento barato e típico. Seguimos a recomendação, reservamos quartos. Chegámos lá já de noite – impacto profundo.

Há pouco tempo, uns clientes desta estranha forma de pensão (algo entre um formigueiro e as traseiras de um restaurante chinês manhoso) queixaram-se acerca de um cheiro pestilento que vinha de um quarto. O pessoal chamou a polícia que, por sua vez, chamou os bombeiros. Quando entraram, encontraram dois corpos mortos há um dia ou dois. A verdade é que, nas deambulações pelos corredores, deparei com alguns cheiros estranhos. Quantos seriam de mortos? E quantos de pés por lavar?

(sem comentários)

quinta-feira, maio 04, 2006

Obrigado, Quixote.

Estava longe, no UM do sofá. Cheguei ontem, voltei a esgravatar a relva e fui avisado pela Pury que um Quixote que sonha em Marrakech nos tinha oferecido algo.

É escusado esgravatar a relva quando nos caem no sofá prendas assim.

O momento 123456

Recebi ontem um e-mail onde era avisado que na madrugada de quinta-feira, 4 de Maio 2006, 2 minutos e 3 segundos depois das 01:00 AM da manhã, a data completa seria 01:02:03 04/05/06.

Era também informado que isto nunca mais iria acontecer na minha vida. O momento 123456... Bem, por outro lado, o momento 2:50 PM, 04/05/06, também nunca mais se repetirá na nossa vida.

Chama-se a isto Tempo: imparável e irrepetível, apenas passa por nós uma única vez.

quarta-feira, maio 03, 2006

Regressei.



Esta luz de Maio tudo atravessa;
tudo no hoje de ontem,
que o tempo conta nas suas maduras horas.
A ti, esta minha nostalgia.