quarta-feira, setembro 17, 2014

Momentos no Ferrugem

Carpaccio de Bacalhau (Foto: © Ferrugem)
Ele há raros restaurantes assim. Algures perto de Famalicão, onde menos se espera, encontra-se um espaço onde se criam preciosidades gastronómicas, espécies de filigrana feito iguaria. Dificilmente encontraríamos melhor forma e lugar para celebrar os nossos 3 anos de casados. Passemos então aos momentos de rara beleza e complexos sabores.

Fomos iniciados com um incrível carpaccio de bacalhau (na foto), seguiram-se: pauzinho de gelado de polvo com molho verde e camarão desidratado; o caldo verde e a broa de milho tostada com azeite; bochecha de porco com puré de favas; e o robalo, a cabidela e o nabo num retrato a preto e branco da Costa Verde. De um nível de excelência a rasar o estratosférico (tal como o nosso casamento, diz a Maria, e com razão, digo eu).

Terminou-se com um Tributo ao Abade de Priscos v. 3.0 (a mousse do famoso pudim e o coração de filigrana num refrescante copo de gelo).

Além da qualidade das iguarias, de salientar o simpático e atencioso serviço, o privilégio da presença e amáveis palavras trocadas com o talentoso chef Renato Cunha que tão bem nos recebeu em sua "casa". Magnifico, este ferrugem restaurante.

Obviamente, recomendo (e muito).

domingo, agosto 17, 2014

O Regresso do Tombalobos

Pétalas de bacalhau com ananás
Depois de ter fechado mais de um ano, um dos meus restaurantes preferidos deste Portugal reabriu em 2014. É ele o Tombalobos, de um dos nossos melhores chefs – embora ache que o José Júlio Vintém prefere ser tratado por Cozinheiro -. Claro que tinha de lá voltar, mais a minha Maria.

De regresso às origens, o Tombalobos fica na localidade de Pedra Basta, nos arredores de Portalegre já em plena Serra de S. Mamede. E confirma-se, é um dos nossos melhores restaurantes e, sendo alentejano, é bastante mais do que isso. Continuem a ler que já percebem.

Repetimos a dose de 2012. Mesa marcada para jantar na sexta e, ainda não tínhamos terminado o excelso repasto, e já estávamos a marcar mesa para o almoço de sábado. Os restaurantes assim perfeitos entranham-se e marinam-se no corpo. Digo perfeito sem qualquer tipo de exagero: um Cozinheiro de talento inato (e pessoa de simpatia igualmente natural), iguarias que prestam a justa homenagem à matéria-prima (seja ela carne, peixe, tomate, cebola, erva aromática,…), boa carta de vinhos (apesar de ainda não o poder sequer cheirar) e um serviço à altura (simpático, eficiente, conhecedor e bom conselheiro). Perfeito, portanto.

Passemos então às iguarias, de sexta e sábado, todas elas nunca abaixo da fasquia do excelente: salada de camarão em leito de espinafres com molho de ervas aromáticas, pétalas de bacalhau com ananás, peixinhos da horta (autêntica tempura), ceviche de cavala (que dá baile aos chilenos), salada de pato (têm-na enfrascada para quem quiser levar para o conforto do lar), caracoletas com molho de mostarda e açorda de garoupa. Aqui não se trata de comer, é mais deleitar. 

Deleite, no seu estado mais puro.

quarta-feira, janeiro 01, 2014

Ao Admirável Ano Novo - Restaurante Ibo

Camarões panados ao alho e gengibre
O nosso derradeiro jantar de 2013 não poderia ser de outra maneira. Voltámos ao local do nosso inesquecível casamento e ficámos no lugar ocupado pelo meu avô Manuel (numa das últimas vezes que o vi assim feliz e a aproveitar a vida que lhe restava), ali junto à janela e com vista sobre o rio. Fomos ao Ibo, um dos nossos favoritos.

Infelizmente, mas por boas e mais que justificáveis razões, o nosso amigo Rodrigo Martinho não estava lá mas tratou de nos mimar através dos seus meninos: tratamento VIP, um vinho incrível do Douro "Quinta dos Poços - Grande Reserva 2005" (o Rodrigo é das poucas pessoas em que alegremente delego a tarefa de escolher o vinho) e ainda uma surpresa para terminar em beleza.

A refeição andou pelos níveis da excelência (demos pessoalmente os parabéns ao simpático e talentoso chef João Pedrosa): abriram-se as hostilidades com uns camarões panados ao alho e gengibre, passou-se aos camarões selvagens à “Laurentina” (um clássico do Ibo) e depois destes para um absurdamente delicioso caril de caranguejo desfiado; fechou-se o ano com um cheesecake com frutos silvestres, dois cafés e uma aguardente velha para ajudar a digestão.

Obviamente, recomenda-se.

quarta-feira, agosto 14, 2013

Pinot Noir. Sim, não é um vinho normal. E depois?


Apesar de gostar muito das castas Alicante Bouschet, Merlot ou Syrah nos tintos, isso não impede que goste de outras que se situam em gamas de aromas e sabores completamente distintas e, por vezes, “fora do baralho”. Castas como a Alfrocheiro (a sul) e a Pinot Noir (a norte). Falemos então desta última.

A Pinot Noir tem uma gama de aromas, sabores, texturas e sensações que pode embaralhar uma pessoa toda (principalmente as que só estão habituadas a vinhos “normais”). O vinho tende a não ser encorpado e com um aroma que remete para as cerejas e frutos silvestres mais para o escuro. O vinho tem uma cor granada, sendo mais claro que outros tintos (ele há gente abrutalhada que vê isso como um defeito); isto é natural e não uma falha de vinificação, uma vez que a Pinot Noir tem menos antocianina (matéria corante) que a maioria das outras variedades. No entanto, estão a ser feitos vinhos no Chile e Nova Zelândia mais potentes e escuros que se aproximam dos Syrah em profundidade e teor alcoólico.

Obviamente, recomendo.

terça-feira, junho 11, 2013

Chrysta Bell



A Chrysta Bell é muito mais que uma carinha (e um corpo, já agora) laroca. É sempre tão bom quando se percebe que a voz do disco é a mesma do palco, sem recurso a auto tunes e demais artifícios; perceber que estamos perante uma grande voz. Outro aspecto a salientar, e que lhe é igualmente natural, é a sua sensualidade em palco; sem precisar das coreografias circenses nem das poses manhosas do alegadamente “sexy” que a malta do R&B tanto gosta. Não é por acaso que está a colaborar com o David Lynch, ou que este faz música especialmente para ela: a Chrysta Bell poderia muito bem ser uma personagem de um dos seus filmes.

Outra coisa boa foi o facto da alegada “comunidade indie” ter preferido os arraiais de música duvidosa, sangria com vinho do Minipreço e sardinhas a preço de cherne. Haverá coisa mais “mainstream” – que eles tanto detestam – do que isso? Conseguimos bilhete facilmente e havia espaço na sala.

O concerto de domingo passado no Musicbox foi uma sucessão de momentos de rara beleza, poucas vezes se sente música assim. O álbum “This Train” é das melhores coisas deste século e este concerto não ficou atrás.

segunda-feira, junho 03, 2013

Dragões

Foto: Maria João T
O meu borreguito diz que gostava de ter pele de dragão. Conheço muitos dragões que trocavam de pele com ele sem sequer pensar três vezes.

quinta-feira, janeiro 31, 2013

Django Unchained #1



Um western brilhante e brutal, como uma vingança deve ser: uma aventura das antigas em grande forma e estilo num cenário de plantação de escravos, em 1858. O filme e realizado com a soberba provocação e audácia de Quentin Tarantino, com chicotadas de crueldade, a arrogância de quem sabe muito bem o que faz e o total desprezo em relação às mentes formatadas pelo politicamente correcto. Soberbamente interpretado por Christoph Waltz, Jamie Foxx (uma dupla como há muito não se via. Pulp Fiction?), e Samuel L Jackson, na pele de um sinistro personagem chamado Stephen.


segunda-feira, novembro 19, 2012

Pedro e o Lobo. Mau?



Há não muito tempo disse-me alguém que era o seu restaurante favorito, o mais fashion, o mais “glamouroso”, que iria promover a paz mundial e o arrefecimento global e que era uma falha enorme eu nunca lá ter ido. Pronto, fui lá este sábado.

Pedro e o Lobo, o restaurante com dois chefs imberbes e alegadamente talentosos. Confesso que estava curioso. A sala de refeições é bonita e bem mobilada, apesar do excesso de luz artificial. A refeição? Consegue-se bem melhor pelo mesmo preço (Alma) ou mais baratos (Cantinho do Avillez, Tasca da Esquina, Ibo, Salsa e Coentros,…). As navalhas com pera e rabano eram de uma mediocridade confrangedora; os peixes (robalo, salmonete e bacalhau) apenas impressionaram pelo tamanho diminuto da dose; a carta de vinhos é curta e altamente inflacionada (nenhum tinto abaixo dos 22€). Uma pessoa não pode deixar de se sentir enganada.

Pedro e o Lobo. Mau? Não exageremos, digamos antes medíocre. É daqueles restaurante de moda, com imenso cachet e armado em gourmet. E é um restaurante a que não voltarei. Foi uma perda de dinheiro para toda a gente, incluindo para o próprio restaurante.

segunda-feira, setembro 03, 2012

Oslo, August 31st


Muito bom este filme: um actor extraordinário (Anders Danielsen Lie), fantástica a adaptação de um romance dos anos 30, excelente fotografia e realização (Joachim Trier). Sim, é sobre um toxicodependente; sim, é forte e triste; não, não acaba bem. E depois? A vida não é um sonho, se as pessoas se querem continuar a enganar-se, a tapar os olhos, a viver a vida como se estivessem entre o Canal Panda e o Sexo e a Cidade, então escusam de ir ver este filme. A opção é delas, mas nunca a minha.

sexta-feira, julho 06, 2012

Este Belcanto do Avillez



Agradeço desde já ao meu querido cunhado o convite para este fantástico jantar no Belcanto, o restaurante de José Avillez. “Não custa nada.” Claro que custa chef, não se atinge este nível para além da atmosfera assim por acaso.
Este é daqueles raros sítios em que há uma relação emotiva com as iguarias, e um chef que merece bem a reputação. O espaço é sóbrio, acolhedor, de um subtil e discreto bom gosto, além de revelar um enorme respeito pela história do local. Vamos então à refeição. Depois de uma excelente série de pequenas entradas para animar a boca, comi uma cavala marinada e braseada e, como prato principal, um salmonete com molho dos fígados e ovas vegetais. Terminou-se com uma sobremesa chamada Tangerina, com o citrino em diversas texturas e temperaturas. Tudo nada menos do que soberbo.
É óbvio que este nível de cozinha tem o seu preço e não será para todas as bolsas. Não o aconselho a quem não dê o devido valor ao que come ou que o faça apenas para encher o bandulho. É um mimo que me posso permitir oferecer (vá lá) uma vez por ano, mas isso sou eu e as minhas prioridades. Na realidade não se trata de comida óptima ou de um bom restaurante, é uma experiência que emociona.