O primeiro aviso foi um ruído, de manhã bem cedo, quando me inclinava para lavar os dentes sobre o lavatório. Pensei que fosse o jorro de água da torneira e não prestei muita atenção: por vezes esquecia-me de portas, janelas e torneiras abertas.
Fecho a torneira para ouvir, como todos os dias, o silêncio meio azulado das manhãs, com os rumores dos automóveis, poucos ainda. Mas o ruído continuava. Como uma pequena fonte: água clara na pedra – recordei (só um pouco, porque não havia tempo) passeios remotos.
Quando me agachei para atar o sapato percebi que o ruído vinha do solo e, ainda mais agachado, exactamente de dentro do meu próprio pé esquerdo. Voltei a prestar muita atenção, até achei agradável poder sacudir de vez em quando o pé para ouvir o ruído trazer mares, memórias. Quanto atei o sapato direito, voltei a ouvir o mesmo ruído e sorri para mim próprio no espelho.
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