terça-feira, junho 26, 2007

Obscuro (inspirado em Blanchot)

Viu-o chegar sem surpresa, este ser inevitável de quem ela tentou escapar em vão, mas que iria reencontrar todos os dias. Todas as vezes, ele vinha direito a ela, seguindo a um passo inflexível um caminho estendido a direito por cima do mar, das florestas, até do céu.

Todas as vezes, quando o mundo se esvaziava de tudo menos do sol e este movimento parava ao seu lado, envolvia no seu silêncio a imobilidade, levada por esta profunda insensibilidade, sentindo toda a calma do universo condensar-se nela através dele, não se atrevendo a fazer um movimento ou a ter um pensamento, vendo-se a arder, morrendo, os seus olhos, a sua face em chamas, a boca meio aberta libertando um último folego, tornando-se denso, mais silencioso que o silêncio. Um momento desumano e vergonhoso que começava a cada novo dia, e do qual ela não se conseguia escapar.

2 comentários:

M disse...

Bom dia Sr. gato, voltaste!
e voltaste inspirado:)

Beijo

Unknown disse...

Bom dia m(enina)!
Sim, estou de volta; cidades com Berlim e Praga alimentam a inspiração. As fotos aparecerão em breve.

Beijo