segunda-feira, abril 02, 2012

Dia das Mentiras: a sua avó está morta


Numa das piores piadas que o destino alguma vez esgalhou, a sua avó morreu no dia das mentiras.
Recebeu o telefonema da sua irmã por volta das 3 da madrugada – uma hora particularmente sádica devido ao facto de teres de acordar e pensar por uns minutos antes que te venha a ideia que se pode tratar da pior partida que alguma vez te pregaram.
"É a tua irmã," diz uma voz que parece... de alguma forma, embargada. "Desculpa acordar-te, mas não penso que pudesse esperar. A avó morreu há uma hora atrás." Espera lá... ela estava a conter lágrimas? Ou a tentar não se rir?
Ao início estava completamente atordoado, e sem saber o que pensar ou dizer. Lembrava-se de alguma coisa da noite anterior – qualquer coisa de hoje. Meu Deus. Como poderia ser a sua irmão tão cruel? Será que não tem qualquer noção dos limites do humor?
"És doente," disse à irmã. "Como podes fazer isto?"
"O quê?" disse a irmã. Soltando o seu choro, e/ou riso. "A avó foi-se! Porque me dizes isso? Não sabes que estou a sofrer?"
Ele começou a questionar-se. "Dia das Mentiras?" perguntou timidamente.
"Não!"
Afinal não era piada. A sua avó tinha mesmo morrido no Dia das Mentiras.
"Oh meu Deus, desculpa. Oh meu Deus!"
"A ambulância acabou de sair da casa. Queres vir cá?"
"Claro, sim. Vou agora mesmo." Acorda a mulher e conta-lhe a notícia, a chorar. Ela faz o melhor que pode para o consolar. Ela veste-se, traz-lhe roupa e sai de casa para ir aquecendo o carro e mantê-lo confortável até casa da sua avó.
Ele senta-se por algum tempo no escuro, pensando sobre a sua avó, nos seus biscoitos favoritos, que uma vez – era ele um adolescente rebelde – irritou-se, chamou-lhe um nome feio, correu para o quarto e bateu com a porta. E ela comprou-lhe os biscoitos, olhou-o nos olhos e disse-lhe que gostava muito do seu neto. Apercebe-se que, mesmo depois do que aconteceu nesse dia, nunca lhe retribuiu a confissão. E agora ela foi. Com carácter definitivo.
Ouve então a sua mulher lá fora, "Oh não!"
"O que foi?" gritou de volta.
"O carro não pega."
Mal consegue falar. Como pode a vida ser tão cruel? "Não pega? Estás a brincar comigo?"
Há uma pausa. E depois: "Dia das Mentiras!"
Mas sim... a sua avó continuava morta.

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