quarta-feira, março 01, 2006

Sobreviver – Fragmentos

Tenho Fome
Todas as pessoas sabem que as doenças surgem com os exames médicos
É o seu pai. Está a morrer
Acredito em tudo o que aprendi antes dos seis anos. Tudo o que me disseram a seguir é mentira
Tenho a cabeça descalça
Conta os dedos. Cinco dedos. Vês, tens a mão toda
Sou esquizofrénica

Sobrevivente
É impossível morrer com tanta fome
Não me esqueci
Há alguma igreja que ainda esteja aberta?
Engoli um prego. Tenho um prego na garganta.
Julgo que três milhões é um bom valor
Quem comete um erro é excluído; é fechado dentro de uma caixa. Quem está fora vê apenas a caixa. Mas quem está fechado, excluído, consegue ver cá para fora. Vê tudo. Vê-nos a todos
Tenho fome

Teatro S. Luiz – Gonçalo M. Tavares

3 comentários:

Sofia Viseu disse...

Imaginei personagens do Tim Burton a interpretar estes textos.

Anónimo disse...

fomos ver..
entra-se calçado,
sai-se com a cabeça descalça.
(ou seria do prego na garganta?)
talvez da chuva lá fora
- da que não mata,
mas mói.
e inunda, esvaziando.
diferente, intensa, com arestas pontiagudas.
vão e vejam.

Anónimo disse...

"Confesso que ando a dormir com a sua mulher. Sinto, porém, um entusiasmo reservado". Foi a frase que me ficou mais presente.