As montanhas são de uma indefinida substância clara, vidro pintado de verde. Só nas manhãs cinzentas, quando o céu não está coberto de núvens autênticas mas de uma súbtil tela enovoada, se descobre que as montanhas são de pedra. Tornam-se então mais sólidas; todo o país é como um curral fechado, rodeado por muros de prisão naturais. A liberdade é um conceito relativo; adverte-se logo a falta de vias que nos conduzam de regresso, ouvem-se veículos distantes a duas horas, quatro, doze, que param numa estação de serviço uma vez por semana.
Vista da cidade, parecia bem mais interessante. Estando aqui, pelo contrário, torna-se indiferente e banal, com noites sombrias e luzes tremulas, comida gordurosa, ataques de mosquitos, chás de ervas amargas. Em tais circunstâncias somos menos sensíveis à beleza natural que os turistas, com todo o optimismo de quem está apenas de passagem.
Registo o mais que posso: manhãs tranquilas de uma simplicidade quase perfeita, cheias de sol que queima até à sombra, passaros solitários (raros, pois as pessoas estão sempre prontas a disparar), bosques onde reina o silêncio, a profundidade, o infinito e o esquecimento.
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