terça-feira, novembro 08, 2005

Paris 2006



Sem dizer palavra, levantou um pouco o fragmento. Todos o tinhamos visto, ainda que ela aparentemente o ignorasse. À medida que crescia o medo, tornavamo-nos mais cautelosos. Corriamos como loucos, populações inteiras em fuga. Algo novo e poderoso rompeu a vida da cidade, homens e mulheres só pensavam em salvar-se, abandonando casas, empregos, negócios, tudo, mas não o nosso comboio, a maldita máquina da qual já nos sentíamos parte, como mais um assento, continuava com a precisão de um relógio.

Faltavam duas horas. Duas horas mais tarde, à chegada, já saberíamos o que nos esperava. Duas horas. Uma hora e meia. Uma hora. Já caia a escuridão. Vimos ao longe as chamas da nossa cidade e ela sem poder fugir, um halo laranja no ceu. O comboio apitou, as rodas ressoaram no labirinto de encruzilhadas. A estação – agora escura - , os cartazes, os horários, tudo estava como de costume. Ainda estavamos em movimento, quando reparei que a estação estava deserta. Por mais que procurasse não vi uma única figura humana. O comboio parou, por fim. Corremos para a saída. Pareceu-me ver ao fundo um funcionário que desapareceu por uma porta, aterrorizado. Que se teria passado aqui? Não encontraríamos uma pessoa nesta cidade? De repente, a voz de uma mulher, alta e violenta como um disparo, “Socorro!”. O grito ecoou com a sonoridade dos lugares abandonados para sempre. O ódio já tinha chegado.

1 comentário:

Lu disse...

Não estou surpreendida com os acontecimentos de Paris. Era uma questão de tempo e toda a gente sabia.

Também chegará ao nosso pequeno país.

Vamos estar ainda menos preparados.

O medo assusta-me mais que o ódio.