terça-feira, outubro 26, 2010

Os pássaros



Num passeio encantador em Lisboa, esquivei-me ao trânsito enquanto atravessava a avenida e lá fiz o meu caminho por todos os obstáculos do costume até à rotunda. Normalmente, esta é a parte mais fácil da minha viagem, sem trânsito, ruas tranquilas, nada com que me preocupar. É possível que eu tenha criado uma falsa sensação de segurança desta área na minha cabeça por nunca ter tido qualquer problema por aqui antes. Indepentemente do meu raciocínio, tinha baixado a guarda. Com algumas músicas a vibrar nos meus auscultadores, senti uma coisa no meu pescoço. Achei que era o meu cabelo, estava enganado. Num segundo olhar para me certificar que não estava a bloquear nenhum transeunte reparei numa besta alada no céu, gritando ao longe, possivelmente para me avisar do que aí vinha. Um aviso de facto, um aviso de ataque da dita besta à minha pessoa. O instante em que percebi estar prestes a ser atacado foi seguido de um momento em que me movi com a elegância e agilidade de um ninja do início do século 12. Eu fiz isto para sair do caminho deste portador de doenças alado mesmo a tempo. Como se dois ataques fosse um a menos, desceu novamente para a sua rusga triunfante. Eu estava preparado. Com um movimento do meu guarda-chuva saiu-me um potente swing na direcção do roedor celeste, falhei, mas não sem atemorizar o meu indigno oponente.

E foi tudo naquele dia, mas no dia seguinte repetiu-se a história. Só que desta vez eu estava mais preparado que nunca; coloquei uns chumbos de pesca dentro do meu guarda-chuva e confiava no meu swing mortal. Odeio sentir-me derrotado pela merda de um pássaro e a guerra ainda não tinha acabado; eu odeio pássaros, são imundos e transmitem mais doenças que uma prostituta romena.

terça-feira, outubro 19, 2010

Literal



Escrever é procurar a calma e, às vezes, encontrá-la. É o regresso ao lugar. Acontece o mesmo com a leitura. Quem escreve ou lê de verdade, isto é, para si mesmo, regressa à casa onde se sente. As pessoas que nunca escrevem nem lêem, ou o fazem por obrigação, estão sempre fora do seu lugar, ainda que tenham muitos. São pobres, e empobrecem a vida.

quarta-feira, outubro 13, 2010

Amigos imaginários



Já estau farto dos hi-fives, facebooks, myspaces, dos inúmeros convites de pessoas cujo objectivo de vida é coleccionar fotografias para colocarem no perfil,"Vejam todos os meus amigos ", ou melhor, “Vejam como eu tenho mais amigos do que vocês todos juntos, seus falhados de merda!”. Mas o que está ali são apenas fotografias, do próprio, do cão, gato, aquele gajo do SCI ou as mamas da Soraia. São apenas fotos.

Amigos? O mais certo é serem pessoas que também coleccionam imagens.