terça-feira, novembro 20, 2007

Tempo de nada



O outono é a estação preferida dos convertidos. Detrás das folhas, por debaixo do dourado começam a trabalhar vermes invisíveis, mensageiros do inverno e do esquecimento. Desconfio da serenidade com que estas folhas esperam a sua inevitável queda, da sua vocação de pó e nada. Seremos assim como as folhas? Elas podem permanecer ainda uns instantes para testemunhar a condição do tempo; a derrota final dos mais altos destinos de verdura e estação. Há objectos que não viajam nunca. Permanecem assim, imunes ao esquecimento e às leis que impõem o uso e o tempo. Detêm-se numa eternidade feita de instantes paralelos. Esta condição singular coloca-os à margem da vida. Não os visita a dúvida nem o espanto.

O sono dos insectos é feito de metais desconhecidos que penetram até ao reino mais obscuro. Ninguém levanta a mão para alcançar aos breves astros que nascem. Cuidado. Uma ave desce e, atrás dela, a manhã.

No fundo do mar cumprem-se cerimónias lentas presididas pela quietude das matérias que a terra enviou há milhões de anos para o esquecimento das profundezas. Florescem os gestos desmaiados e o despertar das medusas. Como se a vida tivesse inaugurado uma face nova da terra.

quinta-feira, novembro 08, 2007

É o teu chefe uma besta?



Questão: Quantos chefes são necessários para atarraxar uma lâmpada?
Resposta: Um. Ele segura a lâmpada e espera que o universo rode à sua volta.

A um nível básico, a resposta à questão seguinte é muito fácil: É o teu chefe ordinário? Os chefes-besta deixam as pessoas à espera; gritam-te aos ouvidos. E pensar que o podem continuar a fazer porque sempre o fizeram desde que a sociedade tolera estas merdas dos “poderosos” e influentes chefes de departamento e estes do super-rato-da-barbatana.

Dou por mim a pensar sobre o que apareceu primeiro: Terá essa pessoa sido sempre uma besta ou ter conseguido realizar algo importante (provavelmente por sorte) significa que as pessoas devem tolerar este comportamento de merda? Uma coisa é certa: nem todas as bestas fazem grande coisa, logo não existe relação causal. O chefe-besta:

1. Pensa que as regras são diferentes para ele. Por exemplo, um lugar de estacionamento para deficientes é na realidade para os deficientes mais ele, porque o seu tempo é tão valioso que não poderá 25 metros extra. Ou, o corredor “bus” é para autocarros, táxis e o carro dele pois está atrasado para uma reunião.

2. Não percebe a diferença entre uma função fazer uma pessoa e uma pessoa fazer uma função. O Financial Controller de um hotel de cinco estrelas é uma grande coisa, mas todo o seu poder, e o poder agir como uma besta, evapora-se sem este titulo. Geralmente, as bestas não entendem que a sua posição actual apenas lhes dá privilégios com prazo de validade.

3. Precisa de ajudantes. Ou seja, assistentes pessoais, secretária e chauffeur. É engraçado mas se uma besta não tivesse a posição/poder/status, provavelmente nem seria capaz de atender o telefone, marcar reuniões, falar à imprensa, e conduzir.

4. Precisa de satisfazer pedidos especiais para ser feliz/produtivo/eficiente. Por exemplo, ele precisa de um chá de uma marca especial apanhado por crianças de 5 anos no Bangladesh sempre que está a dar instruções ao seu assistente para a apresentação Powerpoint com que irá fazer um brilharete perante os accionistas. Este tipo de coisas respresentam caprichos do tipo “porque sim” – não porque qualquer desta merda seja necessária.

5. Relaciona-se com as pessoas na medida do que estas podem fazer por si. Por outras palavras, as pessoas “boas” podem fazer muito por si. Os “medíocres” não lhes são úteis e, como tal, passam a incompetentes. A maneira de um medíocre se tornar numa “boa” pessoa é mostrando que pode ajudar o chefe de algum modo.

6. Julga as pessoas segundo os seus próprios valores, não os valores dos empregados ou da sociedade. As bestas julgam as pessoas apenas de acordo com o que pensam que é importante. Por exemplo, um chefe pode valorizar apenas o desempenho profissional, logo alguém que se foque na família, namorada/noiva/cônjuge ou amigos é portanto inferior.

7. Pede-te para fazeres algo que ele não faria. Este é um bom teste. Ele pede-te para trabalhares no feriado enquanto ele tira a ponte para ir passear? Eu sou a favor de rentabilizar o tempo do chefe (por exemplo, não o obrigar a ir às finanças entregar uma declaração), mas caso não estivesse ocupado com assuntos mais importantes para a empresa, iria ele fazer aquilo que te está a pedir?

8. Liga para os empregados durante o período de férias destes. A sua felicidade não é um problema teu/meu. Tens direito à tua vida pessoal, ao teu tempo e espaço pois a escravidão já foi abolida há um bom tempo.

9. Acredita que o mundo está contra ele quando é criticado ou até omitido. Por exemplo, as revistas da especialidade não escrevem sobre ele porque têm todos inveja. Este chefe precisa de aprender o mundo não gira à volta do seu umbigo.

10. Atrasa ou pára o teu progresso/carreira. Até podes perdoar ou ignorar os pontos anteriores, mas este é de longe a pior coisa que um chefe-besta pode fazer. Normalmente, é algo que lhe convém: “Como me podes abandonar? Eu preciso de ti.” Por fazer isto, um chefe devia entrar nos anais das bestas. A tua mãe não te pôs na terra para tornar a vida do teu chefe melhor, portanto não hesites em abandonar um chefe que não te deixa avançar.

Se pensas que o teu chefe é uma besta, muito provavelmente a maioria das pessoas pensará o mesmo.

Nota: Esclareço desde já que não tenho qualquer filiação partidária de esquerda e muito menos estou afecto a qualquer sindicato.