sexta-feira, dezembro 30, 2005

Encontrei

A música...
http://easfadastambemseenganamnocaminho.blogspot.com
mas está sempre a bloquear!
Não percebo... Maldito PC, está mesmo acabadote!

Junto ao rio



O amor tinha-me transformado, o meu sentir vestia novas roupas, despertavam emoções pela primeira vez. Até então fazia-me falta o aroma. Tinha a certeza. Como teria passado todas os verões sem perceber o seu perfume que agora me enlouquece, engrossando o sangue e levando o meu pensamento para tão longe?
Não era menos verdade que até então tinha estado surdo. Já não escutava notas tocadas em pianos de brincar, agora a música entranha-se no peito, afunda-se no corpo e, algumas vezes, faz-me saltar as lágrimas. Eu, antes tão sólido e equilibrado, mostro-me inquieto e nervoso, entrego-me a comportamentos (que me dizem ser) infantís; mas, apesar de isto, era mais feliz que nunca. A minha vida anterior parecia-me a existência hibernante de uma besta fechada, ruminando ou dormindo, sem qualquer noção de um mais além.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Apaixonados

Parece que todas as músicas foram pensadas para nós. Todos os poemas escritos sobre nós. A terra mexe no dia em que os nossos corações estremecem. Chove no momento em que choramos a ausência. O sol brilha quando fazemos amor na praia com o mar a beijar a ponta dos nossos pés enrolados.

Comment #16

O destino é uma coincidência.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

O Beijo



A tua lingua é como veneno, tão inchada que me enche a boca. Prega-me ao chão e estripa-me. Tira a tua maldita voz da minha cabeça. Eu nunca quis isto, nunca quis nada disto. Quero é que morras.

Pluto Drive

Let's go to Pluto
The atmosphere's clear
We'll be really cool there
With nothing to fear

Let's go to Pluto
It's cold and it's damp
Where children are heroes
And death is high camp

I want to see Pluto
I want to have fun
I want to turn blue
Under an alien sun

Oh let me see Pluto
It seems such a gas
With oceans of methane
And petrified grass

Let's go to Pluto
Let's live on the dot
See the bad moon rising
In a lunacy knot

Come on let's do Pluto
It's really not far
An unleaded dream drive
To the prettiest star

I want to see Pluto
But maybe I'll wait
Til the earth turns to meet
It's plutonium fate

The days will be long here
The years will be more
Let's go to Pluto
Like we did before

Let's go to Pluto
Let's live on the dot
See the bad moon risingIn a lunacy knot

terça-feira, dezembro 27, 2005

Finalmente

Acabou o Natal. Acho que nunca recebi tantas prendas. Senti uma certa náusea ao ver aqueles embrulhos todos, cheios de cor e dourados. E sim, recebi o CD que andava a pedir há meses, não queria ser eu a comprar! E o livro que tem o papel especial para poupar o ambiente e mais tantas outras coisas. Até dinheiro. Dinheiro! Detesto receber dinheiro! Claro que tenho o que fazer com ele, mas... Que significado tem? Obrigado avó este ano patrocinaste 3 idas ao cinema, um jornal e um jantar de sushi com chá de pipocas. Compra umas calcinhas. Nem pensar, daqui a 1 mês estariam largas porque agora só tenho espaço para as camadas gordurosas de fritos e doces.

Ai... (suspiro)

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Natal a chupar no dedo



Fui a uma festa de Natal com os meus primos. Bem, eu não posso beber muito e a chiba chega depressa. Estava lá uma bela garina que se aproveitou de mim, apesar de lhe ter dito “não” pelo menos uma vez (seria ucraniana?). Pôs-me piercings nos mamilos e em ambas as orelhas, o que eu permiti feito idiota. Então disse-me que a podia ver nua se eu me despisse primeiro e fosse capaz de chupar o meu próprio dedo grande do pé (a rapariga tinha um fetiche com pés, não era ucraniana). Bem, após umas quantas tentativas, lá consegui abocanhar o dedão. Estava eu entusiasmado pelo aroma de roquefort quando a bácora abre a porta para que todos os presentes pudessem apreciar a cena. Que amigos de merda. Não posso continuar a viver nesta cidade; não volto a beber, não entro em festas e o Natal acabou para mim.
A partir de agora, fico em casa, só eu e o meu dedão; tomei-lhe o gosto e não quero outra coisa.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Tempo



Entre duas noites o dia: mar de luz que se levanta, relógio ao minuto. Enquanto avança o dia devora-se. E quando toca a fronteira em chamas começa a calcinar.
É meia-noite do início do século. Ouve-se o vento em fuga.
Todos nos questionam e acusam, mas nada nem ninguém responde. Nada persiste contra o passar do dia.

Ao meio da noite tudo acaba e tudo recomeça. O tempo luta com o céu; a única luz de um relâmpago. O tempo de uma vida.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Natal por acidente



Quatro dos últimos cinco Natáis foram passados com a família no hóspital ao lado de alguém morto ou por morrer. Primeiro ano: a minha avó morreu na sala de jantar enquanto eu desembrulhava uma boneca insuflável. Ano seguinte: nada. Apenas estranho. Terceiro ano: a minha mãe estava em coma devido à leucemia e morreu no dia a seguir ao Natal. Muito divertido. Quarto ano: na véspera de Natal descobrimos um tumor do tamanho de um ovo cozido no meu primo, e fomos a correr para o hóspital para passar lá mais uma consoada. Ano passado: na véspera de Natal, o meu irmão e o mesmo primo do tumor tiveram um acidente de carro que mandou ambos para o hóspital, com uns jeitosos implantes de tablier espalhados pelo corpo. Sobreviveram.

Então, o que irá acontecer este ano? Provavelmente será a minha vez.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Natal

Acabei de receber a primeira prenda.
Um Perfume. Sou alérgica.
Não faz mal... Foi a primeira!

Peru de Natal fumado



A minha mãe estava um pouco “seníl" e 1991 foi o último ano que a deixámos fazer o jantar de consoada. Ela teve que sair para ir buscar algumas especiarias ao Martim Moniz, enquanto nós tratavamos do resto dos preparativos para o jantar. O perú acabou por se revelar grande demais para a travessa, e o resultado óbvio foi um incêncio gorduroso no forno. Eu salvei a ave, e enquanto a minha irmã aguentava a porta do forno fechada, chamei os bombeiros. A minha mãe tinha tantas decorações nas janelas, que não conseguimos abrir nenhuma para deixar sair o fumo.
Quando a minha chegou, o fogo estava apagado. Eu passei a noite de Natal nas urgências de S. José, devido à intoxicação que a minha irmã sofreu. O Pai Natal também lá estava, no corredor deitado numa maca. “Cabrão do Rodolfo!”

terça-feira, dezembro 20, 2005

O casamento é uma instituição entre um homem e uma mulher?



Bem, este é o argumento mais vezes ouvido. No entanto é o mais fracos dos argumentos. Quem diz o que é o casamento e por quem deve ser definido? Os casados? Os casáveis? Isso não é como se permitissemos a um banqueiro decidir de quem é o dinheiro nos seus cofres? Parece-me que a justiça exige que, se a comunidade “straight” não consegue apresentar uma razão forte para negar a instituição do casamento entre homens e ovelhas, este não deva ser negado. E tais declarações simplistas e nebulosas, sem qualquer argumento moral válido, muito dificilmente serão razões fortes. Elas são mais expressões de preconceitos do que qualquer espécie de argumento real. O conceito de não negar às pessoas os seus direitos, a menos que se consigam demonstrar fortes razões para isso, é a base do ideal da Constituição da República Portuguesa.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Eu era um porco egoísta de merda



Penso que o meu pior Natal de sempre terá sido em 1985. O meu pai esteve doente nesse ano e o resto da família teve que trabalhar no duro para pagar as contas (a minha irmã chegou a ir vestida de índia para o Rossio tocar flauta de pã para sacar guito aos camónes e ao pessoal dos barcos do Montijo). Apesar destes tempos difíceis, o meu pai melhorou e voltou a trabalhar a tempo de pagar as dívidas.
Sobraram apenas alguns escudos, mas a minha mãe levou-nos à mesma às compras. Como naquela altura não havia a loja do chinês, contentei-me com um pão com chouriço e um sabonete do Mickey. Desde então, não mais tomei banho e nunca mais levei chouriços à boca.

Electrodomésticos

A frase da noite:
“Se olhas muito para dentro do abismo, o abismo também olha para dentro de ti.”
Resumindo, é melhor olhar para o fundo do copo e dançar.

http://www.planeta-pop.blogspot.com

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Aqui mesmo. Sim, ali.



Aqui passava a pé por estas ruas, sem emprego nem posto e sem peso. Estive no estrangeiro; nunca estive preso. Quando morrer não irei ter algum monumento.

Neste frio de inverno, sigo-te em todas as direcções do espaço e do tempo, menos numa em que não acredito: o futuro. Na direcção do meu futuro não vejo mais que um caminho sinuoso ao lado do qual o meu ego do costume segue para cima e para baixo como um pendulo bebado. Até que se dá um enorme impacto e todo o movimento cessa. É o ponto extremo do futuro. Uma espécie de meio-dia ofuscante, ou de meia-noite cega, em que já não há nada, nem eu.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

24 torpedos party people



Portugal comprou 24 torpedos, pela modesta quantia de 46,2 milhões de euros, a preços de saldo. Estes torpedos irão rechear os dois submarinos que adquirimos por uns miseráveis 769,3 milhões de euros e que irão ser entregues em 2008, ainda a tempo de participarmos na invasão do Irão.

Acham muito? Bem, se estas duas dúzias de hiper-supositórios explosivos lançadas em simultâneo desse pénis transatlânticos submersos forem o suficiente para afundar a Madeira (Alberto J.J. incluído é condição sine qua non), acho que foi tudo bastante em conta.

Come Armagedon, come!

quarta-feira, dezembro 14, 2005

A.

“Sometimes I’m dreaming
Where all the other people dance
Sometimes I’m dreaming”

Sala 2



Tudo está pronto e preparado para o corte. As facas fumegam. O abdomen marcado. Debaixo dos panos brancos há algo que geme.
“Sr. Dr., está tudo pronto.”

A primeira incisão, como se abre um pão. “Pinças!” Algo púrpura começa a sair. Mais profundo. Os músculos: húmidos, brilhantes, frescos. Há um ramo de rosas na mesa?
É pus o que salta? Terão cortado o intestino? “Dr., se se põe em frente à luz, nem o demo pode ver o diafragma. Anestesia, não consigo operar, o homem que vá passear mais o seu estômago.”

Silêncio pesado. Cai uma tigela de inox no azulejo, a enfermeira oferece bolas de algodão esterelizadas. “Não consigo encontrar nada nesta porcaria!” O sangue escurece. “Tire-me a máscara!” Por fim. “O ferro em brasa, enfermeira!”

“Por esta vez tiveste sorte. A coisa estava a ponto de rebentar. Estás a ver esta pequena mancha verde? Mais três horas e o estômago enchia-se de merda.”
Barriga fechada, pele cosida. “Bom dia, meus senhores.” A sala esvazia-se. A morte escorre para outra sala.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Aprendo



Da lua não tinha medo, era mais lunar do que solar; fixava, com os olhos bem abertos nas madrugadas tão escuras, a lua sinístra (assassina, na música que tanto gostava). Então banhava-se em raios lunares, como quem tomava banhos de sol. E ficava, límpida.

Alivia-me, sentir a tua mão na minha, por momentos sinto que a morte não existe porque já estamos em verdade na eternidade, faz com que sinta que amar não é morrer, que a entrega de mim mesmo não significa a morte, faz com que sinta uma alegria modesta e diária, faz com que não te questione demasiado, porque a resposta seria tão misteriosa como a pergunta; sinto-me previlegiado pelo sono que durmo, e deus nada tem a ver com isto.

Vou esperar, ainda que se passem anos; olho à minha volta, vejo o que tenho feito por mim e considero uma vitória minha a cada dia que passa. Amei acima de todas as coisas. Aceitei o que não entendia por não querer passar por imbecil. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada; disfarçamos com um pequeno temor o medo maior e, por isso, nunca falamos do que realmente interessa, sorrimos em público do que não achamos piada quando estamos sós. Tivemos medo um do outro, acima de tudo, mas eu escapei disso.
Um dia será o mundo com a sua impersonalidade contra o meu amor-próprio, nunca seremos um só. Avanço. Já não preciso de coragem, baixo a cabeça. Nada temo pois sei que nada voltarei a ter.

domingo, dezembro 11, 2005

Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...


Álvaro de Campos

sexta-feira, dezembro 09, 2005

um beijo na casa dos sonhos



Os teus lábios ataram-me ao segredo delicioso como mel agridoce,
agora são repousadas palavras que o mesmo gosto me leva a confessar,
e dias mais lentos que dividimos entre nós,
só para nós.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

beijo

Encontrei um escondido num olhar de despedida sem adeus. Dizia até logo enrolado em até já que queria dizer até amanhã, talvez até ao próximo nascer do sol.

dEUS

terça-feira, dezembro 06, 2005

Sister Moon



Quase sempre estiveste a meu lado, iluminando momentos terríveis; desde cedo acalmáste-me o medo, foste consolo em noites desesperadas; no meio da floresta, nos lugares mais assustadores, no mar, lá estavas; orientei-me por ti nos piores momentos. Protegeste-me.

Subia o olhar e olhava-te, sempre a mesma; no teu rosto uma expressão de dor, de amargura. E agora, subitamente, lua, estilhaças-te. É noite.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Paraíso perdido



Ali vai quem amei, que mais poderia eu dizer-lhe se já nem os meus olhos comovem?
Agora caminhas na rua como se nada tivesse em verdade acontecido. Mas eu não me esqueço do azul do céu sobre ti, acompanhando a tua nova camisa.
Levarei para longe de ti o meu rancor e se te encontrar novamente, em ti me irei gostando.

Não voltarei a querer nem a arrepender-me no ácido de recordações, não correrei emocionado nem te abraçarei. Deixar-te-ei seguir. Talvez te lembres então: “ali vai quem já me amou”.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

É assim

Que os dias se misturam com noites que acabam em dias. Ficam gravados no papel de toalha de uma mesa de restaurante, ou na memória de passos perdidos pelas ruas da cidade das cores amarelas torradas pelo sol dos dias que se misturam com noites que acabam em dias.

O que se espera



Trajectorias estelares que se dispersam bem acima de nós, é a sombra que se arrasta, o bosque mais sombrio, as árvores adormecidas, alguém passa e chama.
Não se ouviria esta música no ar em que os passaros se escondem, nomes que se apagam no tempo. Tenho os braços levantados, esperando por algo, não se sabe o quê.

quarta-feira, novembro 30, 2005

O gato sugere

Três sugestões musicais para o feriado:
  • TV on the Radio (alternativa 4AD),
  • Chromeo (colectânea disco-funk-party not too much gay), e
  • Bebo y Cigala (neo-flamenco not cheese).

Todos diferentes, nada iguais.

Noite encerrada



A noite vai-se fechando. Num momento cruzam-se sons vagos e algo sucede que a cidade cala, alarga-se o medo como um rio, os contornos encolhem-se e o horizonte tenta fechar a porta, cada vez mais frio, menos sol, cada noite escura, deixa a vida um pouco mais deserta.

Triste, sim, mas não com a tristeza suáve nem com qualquer sentimento egoísta, mas apenas com o ânimo deprimido de quem se vê no meio da multidão que entra e sai do metro, percebe o seu corpo como apenas mais um. Esquecendo-se que não é o corpo que interessa.
Baixo, em baixo. Ruas de tons sombríos, esse cinzento da cidade, cor de tumores ou escória.
Mais que de anoitecer, era um céu de dezembro, quando o dia nasce apenas para dar lugar ao crepúsculo, e este à longa noite. A brisa acalmou, vão-se perdendo os vermelhos e dourados das folhas e despem-se as árvores, ramos cinzentos, imóveis e de ramos aguçados, pontas que incharão ao longo do inverno guardando-se para um tímido sol quando o inverno se chamar primavera.

terça-feira, novembro 29, 2005

Elizabethtown

Este filme vai directamente para o top das maiores secas de sempre.
Pareceram 5 horas em que um tipo horroroso, com a mania que é giro, andou de cliché em cliché à procura de um qualquer sentido da vida. Ela sim, é gira, até tem uma personagem engraçada, divertida, mas até ela se perde naquele drama sem drama, na comédia sem interesse.

Saí tão entediada da sala que me esqueci de pedir o meu dinheiro de volta.

“Quero o meu dinheiro de volta
Tanta gente a dar-me a volta
Não foi para isto que eu vim cá
Quero o meu dinheiro de volta
Não é tarde, nem é cedo
Quero o meu dinheiro já”

Mr. Myagi is dead...




Ai os anos 80. Gosto desta década. Tudo bem, eu só fui dos 10 aos 20 à sua passagem, acho que é natural ter boas recordações desse tempo. Há uma memória em particular de um Verão em que eu estava a brincar ao Karate Kid a esmagar violentamente bagos de uvas na cozinha.
O Karate Kid é um clássico dos anos 80, puro entretenimento regurgitado. O filme tem um enredo bastante básico o que é provavelmente uma boa coisa; qualquer filme com pretensões intelectuais em que entrem montes de gajos a lutar uns com os outros é uma batalha perdida (aparte do primeiro Matrix!). O Daniel Larusso é o puto novo na cidade e a vida não lhe corre bem; conhece a garina dos seus sonhos numa beach party. Infelizmente, acontece que a boneca é a ex do lider de um gang do karaté, conhecido como Cobra Kai. Depois de levar uns valentes enxertos de porrada, o Dani tenta encontrar um sítio para o tornar no gajo que dá e não no que leva, mas vai parar ao dojo dos jagunços e lá leva mais um enxerto para o caminho. Tenta então aprender sozinho, tendo a sorte de encontrar o Sr Miyagi entretanto, caso contrário nem uma coreografia do D’Zrt conseguiria acompanhar. Depois de ser ajudado pelo sábio japonês, lá volta ao dojo e sai de lá com um torneio de karate na agenda (ainda não existiam palms nesta altura). Dani tem dois meses para aprender karate, sacar a garina e rebentar com a boca ao macaco.

E mais não conto... vão já a correr ao DVD Club alugar o Matrix!

segunda-feira, novembro 28, 2005

Estranhos desejos



Lá começam a berrar os meus desejos. Calam-se acobardados, regressam inofensivos, transformam-se, correm. Atravessa-me o corpo uma corrente fria, vinco os dedos no sofá. São os desejos que me levam, culpo-os por toda a chuva que golpeia a janela.

A Strange Day

Give me your eyes
That I might see the blind man kissing my hands
The sun is humming
My head turns to dust as he plays on his knees
As he plays on his knees

And the sand
And the sea grows
I close my eyes
Move slowly through drowning waves
Going away on a strange day

And I laugh as I drift in the wind
Blind
Dancing on a beach of stone
Cherish the faces as they wait for the end
Sudden hush across the water
And we're here again

And the sand
And the sea grows
I close my eyes
Move slowly through drowning waves
Going away
On a strange day

My head falls backs
And the walls crash down
And the sky
And the impossible
Explode
Held for one moment I remember a song
An impression of sound
Then everything is gone
Forever
A strange day

quinta-feira, novembro 24, 2005

Demasiado

Chateia-me ter demasiado trabalho. Esqueço-me de comer, como demais, digo que sim a toda a gente, não atendo o telemóvel e quando chego a casa fico a olhar para uma vela a arder, em transe. O som da cera a ferver junto ao pavio.

Ze French Revolution #2




Durante um dos fulgurantes momentos de paranóia revolucionária acéfala, 1.376 pessoas foram guilhotinados em apenas 47 dias. “Ah granda Liberdade! Como gostam de brincar contigo.” Eu sempre preferi o moderado Montesqieu ao Robespierre a os seus companheiros radicais (o BE da altura).

Lei da moralidade política: o mal afasta o bem à medida que toda a gente se torna corrupta enquanto a vida política se torna numa guerra entre todos, num perpétuo e inquieto desejo pelo poder que apenas termina em morte.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Lost & found



Aos vinte anos um homem está louco de amor, e assim, talvez, aos cinquenta esteja apaixonado por uma perversa adolescente, sendo capaz de cometer loucuras sublimes. Mas o homem de trinta anos que ama pela primeira vez é discretamente cauteloso. Não se apaixona de forma violenta, deixando-se cair suavemente.

Tinha perdido algumas ilusões sobre as mulheres; tinha visto mais de um amigo arruinar-se num casamento absurdo; conhecia o prazer da liberdade de solteiro, sem cansar-me dela; via riscos onde os putos percebiam ecstasy, o homem aparentemente maduro era apenas uma feliz libertação da solidão. Em vez de procurar, esperava ser procurado, era egoísta e restricto. Encontrei-a, e com ela momentos de um afecto adormecido, que seguia sóbrio, de olhos abertos, cuidadoso, demasiado orgulhoso para parecer angustiado.

terça-feira, novembro 22, 2005

Viagem de nada a nada

Durante os últimos três anos a minha não tem seguido um rumo fixo. Indo de nada a nada, sem patrão nem destino, sem refúgio. À deriva. Empenhado na inutil fuga de mim próprio, em busca de um lugar onde cair vivo. Bebendo Bacardis e beijando lábios e vendo filmes e escrevendo textos, em geral bastante maus, há que reconhecer tudo isto.
Bacardependente assumido. Nunca poderia ser Burroughs.

Uma vida em constante movimento, a travessia contínua, saídas a horas improváveis, encontros em lugares inesperados, perseguições, enganos, traições, vinganças, caras novas, gente nova, caramelos, cachupa, idas e vindas, nenhum lugar seguro, nenhum dia igual a outro. A vertigem da aventura, mais um copo.

Vendo bem as coisas, nem foi assim tão mau.

Viagens


Praia do Meco - Agosto 2005

"The traveller sees what he sees. The tourist sees what he has come to see."
G.K. Chesterton

segunda-feira, novembro 21, 2005

Sigur Rós



Foi a música que me fez viajar. Viajei para fora de mim, a música fez-me isso. Estaria louco? Não, louco estava quem não se dispôs a partir. Foi um sentir raras vezes sentido, excessivo e transbordante. Talvez tenha sido loucura.
Eles cantavam na língua da terra sem árvores; mas também não acho que precisem delas.

Takk. Por existirem; por partilharem algo de tão precioso connosco. Takk.

http://sigur-ros.co.uk/media/index.php

(suspiro)

sexta-feira, novembro 18, 2005

Boneco!


Caro Pinóquio,

Tinha eu 7 anos quando vi as tuas Aventuras pela primeira vez. Lembro-me de ter gostado muito nessa altura. A verdade é que eu reconhecia-me em ti, no teu ambiente, o meu ambiente.

Queixei-me, torci a boca, escondi a cabeça debaixo de lençóis para não tomar o xarópe amargo. A torrada com manteiga dos dois lados, a tarte de maçã com canela e, ás vezes, um ovo cozido ou a casca de um queijo eram um prato sofisticado para ti; o mesmo para mim.
Também eu , quando ia e regressava da escola, via-me envolvido em batalhas de lama no inverno, murros e pontapés em qualquer estação do ano.
E, há pouco tempo, regressáste. Apareces na TV mas continuas o mesmo. Eu, envelheci. Estou no outro lado da barricada. Já não me reconheço em ti, mas nos teus conselheiros: no chato do professor Gepeto e no grilo que tanto me irritava. A fada? Não gosto do sistema dela. Quandos és perseguido por assassinos, bates desesperado à sua porta, ela põe a cabeça de fora com a sua cara pálida, como uma figura de cera, recusa deixar-te entrar e deixa que te pendurem numa árvore.

Hás-de ver por ti: a idade difícil, tanto para ti como para os teus educadores. Não és mais uma criança, e irás rejeitar a companhis, as leituras, os jogos dos mais novos; mas também não és um homem, e irás sentir-te incompreendido e rejeitados pelos adultos.

Afinal não somos assim tão diferentes. Mas, não sei bem porquê, isso não me faz sentir melhor.

Dúvida

“Creio que é preferível condenar um ser imaginário à realidade que um ser real à ficção”
José Carlos Somoza

Não será ao contrário?
Lembrei-me do Pinóquio!

O teu nome?

Dormes sobre carícias nocturnas numa cama desconsolada, pálida, lisa, despojada, com a garganta descoberta preparada para ser mordida, demasiado ardente para ser pura. Os teus lábios abrem-se lentamente e dizes – nada mais ouço que uma palavra – prazer.

E toda a tua cara é mel para a minha boca, e todo o teu corpo alimento para os meus olhos; os teus braços compridos e mãos que queimam, palpitam, o teu cheiro, os teus pés. Chamo-te desejo.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Terror as usual



O mundo foi mais visitado pela violência colectiva (em termos absolutos, e provavelmente em valores per capita também) nos séculos XX e XXI do que em qualquer outro período nos passados 10.000 anos. A expansão Mongol e os 30 anos de guerra na Europa foram tempos de terrível destruição. Mas o que as primeiras guerras despoletaram não é nada comparado às mortes e ao extermínio de civis características dos conflitos deste século. Entre 1900 e 2004, o mundo produziu 250 novas guerras, internacionais ou civis, nas quais a média de baixas (política e correctamente designadas como danos colaterais) ultrapassou um milhão de mortes por ano; isto significa cerca de 3 novas guerras por ano. Tudo somado, então, morreram cerca de 100 milhões de pessoas neste século como resultado directo da acção militar apoiada por um qualquer governo. Um número semelhante de civís terá morrido vítima de doenças potenciadas pela guerra e outros efeitos indirectos.

Esqueçam a gripe das aves, as pessoas "caem que nem tordos" desde há muito. A pandemia já vem de longe, e está para ficar. Tudo acabará com o último homem.

King Kard

Já não aguento o anúncio do pintas cabeludo, a música, os gestos, a imagem gasta. SOCORRO. Que pesadelo. Já me valeu 10 gargalhadas pelo susto, mas JÁ CHEGA!

quarta-feira, novembro 16, 2005

Ao largo

Passam lentos os dias em que estamos sós. Um destino conduziu as horas e trouxe companhia. Chegaram as noites. Sobre elas acendiamos palavras, as palavras que logo abandonamos para avançar, começamos a conhecer-nos por cima da voz.

Agora sim. Podemos trocar palavras suáves, que flutuam sobre o ar; estamos de novo no mundo, começamos uma história. Atrás de cada um a sua casa, o campo, a distância.

Agora cala-te. Quero dizer-te uma coisa. Às vezes, ao falar, alguém se esquece do seu braço sobre o meu, e ainda que esteja calada sabe-me bem, há tranquilidade nos corpos e entre nós. Quero dizer-te como todos traímos as nossas vidas. Uns e outros, há tanto tempo nem sabemos quanto; na recordação a alegria é igual à tristeza. Para mim a dor é suáve.

O tempo. Tudo se compreende nele. Não?

Sorriso

Não sei explicar. Chega sem avisar. São mil e um cenários que se constróem e se desfazem num instante. São tão rápidos que não consigo evitar a alteração da minha expressão no sentido de um sorriso.

terça-feira, novembro 15, 2005

Amador

Somos como são os que se amam. Ao despir descobrimos dois monstruosos desconhecidos, com cicatrizes que o desejo marca quem se ama. O tédio, a supeita que nos prende.
Apaixonados como doidos, enganamo-nos apenas para que nos incendeie o abraço; sete vezes morremos em cada dia.

Mesquita em Istambul


Outubro 2005

segunda-feira, novembro 14, 2005

A minha esperança


Por Luís Qual

alucimar



Com as costas sobre rocha que o mar varre em noites negras, sonhei um amor louco, com vaivém de tempestades, alucinante, com aroma de algas e sabor de sal. Um amor de horizontes infinitos sobre o mar e debaixo do sol, que ao crepúsculo me leva para uma caverna que a luz nunca visitou.

Com as costas sobre rocha, sonhei ir com o mar; adormecer nas profundezas e nunca mais regressar à terra dura.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Classificados



Algo te identifica com o que se afasta de ti, e é a capacidade de voltar o teu maior arrependimento. Algo te separa do que permanece contigo, é a escravidão da partida o teu mais insignificante prazer.
Dirijo-me, desta forma, às individualidades colectivas, tanto como às colectividades individuais e aos que, entre umas e outras, continuam a marchar ao som das fronteiras ou marcam o passo imóvel no rebordo do mundo.
Algo tipicamente neutro interpõe-se entre o ladrão e a sua vítima. O mesmo se passa entre o cirurgião e o seu paciente. Meia-lua horrível, objecto furtado de peso indiferente.
O que há de mais desesperante na terra, que a impossibilidade em que se encontra o homem feliz de ter pouca sorte e o homem bom, de ser uma besta?

Aleijar-se, cair, regressar, partir! Toda a mecânica social se arruma nestas palavras.

(Nota: Confesso que foi um post no blog Uroborus - http://www.uroborus.nsilva.com - que me deu o ponto de partida para este texto. Obrigado RSD.)

quinta-feira, novembro 10, 2005

O que cai



Não posso escrever sobre ti mais verdadeiramente que tu mesma. Não que seja incapaz por natureza, mas porque a tua verdade foi escrita por ti. E porque tu escrevias para ser lida depois de desapareceres, porque a li já contigo longe e a fiz minha, essa verdade é a mais forte de todas. Não poderei ir mais além. O que guardo de ti, e que só a mim pertence, não é da ordem da verdade mas sim da física. Joelhos que se tocam, sabor a vinho na língua, perfume nos braços, olhar e voz que me abraçam. Isso é só meu.

Nada me leva à escuridão, a noite leva a luz, os objectos são reais, não se veem mas sentem-se. E o silêncio é o que cai quando tudo se sabe e nada se espera.

Esta manhã

Fiquei com o teu cheiro na ponta dos meus dedos, no meu pescoço, na roupa, por todos lado. O teu sabor ficou nos meus lábios, numa melodia de beijos. O teu olhar, ai o teu olhar, ficou gravado no meu peito como uma chaga que não fecha nunca.
Hoje não tenho frio, não posso ter...

quarta-feira, novembro 09, 2005

Pontos de luz

Nunca tinha pensado se seria a única pessoa a fechar os olhos e olhar os pequenos pontos de luz que se formam na minha escuridão. Agora sei que não estou sozinha a imaginar os milhares de pontos que se juntam e separam numa dança sem fim.

terça-feira, novembro 08, 2005

Balões



Gosto de balões de ar quente. Fazem-me pensar em viagens sem destino. Em destinos perdidos no azul do céu.

Paris 2006



Sem dizer palavra, levantou um pouco o fragmento. Todos o tinhamos visto, ainda que ela aparentemente o ignorasse. À medida que crescia o medo, tornavamo-nos mais cautelosos. Corriamos como loucos, populações inteiras em fuga. Algo novo e poderoso rompeu a vida da cidade, homens e mulheres só pensavam em salvar-se, abandonando casas, empregos, negócios, tudo, mas não o nosso comboio, a maldita máquina da qual já nos sentíamos parte, como mais um assento, continuava com a precisão de um relógio.

Faltavam duas horas. Duas horas mais tarde, à chegada, já saberíamos o que nos esperava. Duas horas. Uma hora e meia. Uma hora. Já caia a escuridão. Vimos ao longe as chamas da nossa cidade e ela sem poder fugir, um halo laranja no ceu. O comboio apitou, as rodas ressoaram no labirinto de encruzilhadas. A estação – agora escura - , os cartazes, os horários, tudo estava como de costume. Ainda estavamos em movimento, quando reparei que a estação estava deserta. Por mais que procurasse não vi uma única figura humana. O comboio parou, por fim. Corremos para a saída. Pareceu-me ver ao fundo um funcionário que desapareceu por uma porta, aterrorizado. Que se teria passado aqui? Não encontraríamos uma pessoa nesta cidade? De repente, a voz de uma mulher, alta e violenta como um disparo, “Socorro!”. O grito ecoou com a sonoridade dos lugares abandonados para sempre. O ódio já tinha chegado.

A marcha dos Pinguins



Ninguém me tinha dito que o filme tinha entrado em circuito comercial. Quando o vi em cartaz fiquei doida.

As expectativas eram altas, ia com os sentidos todos em alerta. Um filme sobre pinguins. Um Documentário. Quem diria que seria um filme cheio de sensibilidade, poesia, ternura e beleza?

O filme excedeu todas as expectativas! Até na banda sonora.

Fiquei a compreender melhor porque me chamam pinguim, é pelo andar trapalhão, ora de pé ora a deslizar no chão. Também gosto da dança de mimos. A parte do bico é quando estou a fazer birra...

segunda-feira, novembro 07, 2005

Centro

Lancei um olhar em redor. Tinha chegado o momento de partir. Entristeci, recordando os dramas em que um indivíduo se vê fora do seu lugar e cai só junto ao rio. Estou de acordo com esses pensadores que dizem que nos devemos dar por satisfeitos de passar dificuldades. Aparentemente, o sofrimento purifica.

Estava no centro exacto do meu quarto, não sei bem porquê, comecei a pensar que no mundo há muitos homens sem criados.

domingo, novembro 06, 2005

Uma casa na escuridão



“O amor é o sangue do sol dentro do sol. A inocência repetida mil vezes na vontade sincera de desejar que o céu compreenda. Levantam-se tempestades frágeis e delicadas na respiração vegetal do amor. Como uma planta a crescer da terra. O Amor é a luz do sol a beber a voz doce dessa planta. Algo dentro de qualquer coisa profunda. O amor é o sentido de todas as palavras impossíveis. Atravessar o interior de uma montanha. Correr pelas horas originais do mundo. O amor é a paz fresca e a combustão de um incêndio dentro, dentro, dentro, dentro, dentro dos dias. Em cada instante de manhã, o céu a deslizar como um rio. À tarde, o sol como uma certeza. O amor é feito de claridade e da seiva das rochas. O amor é feito de mar, de ondas na distância do oceano e de areia eterna. O amor é feito de tantas coisas opostas e verdadeiras. Nascem lugares para o amor e, nesses jardins etéreos, a salvação é uma brisa que cai sobre o rosto suavemente.”

Este foi o livro que li durante as férias. As emoções da viagem foram ficando coladas às páginas do livro. Comecei por me sentir embalada pelas palavras, um poema em forma de prosa.

A escuridão chegou mais tarde, de repente. Fui surpreendida por uma violência que não conseguia compreender e as emoções atacavam todos os poros da minha pele até me deixarem entorpecida.

Talvez por isso tenha sentido a viagem de outra forma. As montanhas que pareciam esculturas de areia e me faziam sorrir a cada perspectiva nova. O almoço na montanha com as vozes Búlgaras ao longe. O grupo a tocar e a dançar sons ciganos à porta de um mosteiro. As velhotas a fiarem na soleira das portas numa povoação cheia de burros e carroças. As montanhas verdes salpicadas com as cores quentes do Outono.

Estive longe de casa, mas encontrei-me no fundo de mim própria.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Just a perfect day


Doisneau

Just a perfect day,
Drink Sangria in the park,
And then later, when it gets dark,
We go home.
Just a perfect day,
Feed animals in the zoo
Then later, a movie, too,
And then home.

Oh it's such a perfect day,
I'm glad I spent it with you.
Oh such a perfect day,
You just keep me hanging on,
You just keep me hanging on.

Just a perfect day,
Problems all left alone,
Weekenders on our own.
It's such fun.
Just a perfect day,
You made me forget myself.
I thought I was someone else,
Someone good.

Oh it's such a perfect day,
I'm glad I spent it with you.
Oh such a perfect day,
You just keep me hanging on,
You just keep me hanging on.

You're going to reap just what you sow,
You're going to reap just what you sow,
You're going to reap just what you sow,
You're going to reap just what you sow...

Sétima madrugada de violência nos arredores de Paris



“Alguns jovens pegam fogo a carros e envolvem-se em confrontos com a polícia, na sétima madrugada de violência registada nos arredores de Paris. Estes confrontos começaram na passada quinta-feira, quando dois adolescentes morreram electrocutados quando fugiam da polícia, em Clichy-sous-Bois.”
Público

Só me lembro do “Ódio” do Mathieu Kassovitz. Ou da “voz de Lila” do Chimo. Filme e livro que marcaram o meu ano de 1997, quando os anos ainda não se misturavam.

1997, o ano do cometa Hale-Bopp.

No tempo



Era uma vila do mar. Lembras-te? Sentados no muro da igreja, a esta distância no tempo. Desejámos poder regressar. Afinal, a água estava demasiado fria.

O tempo?

À medida que passa, o tempo tende a misturar-se com tempo. Começa com os dias da semana. Segunda-feira primeiro confunde-se com terça. Depois é uma misturada que se junta a quinta-feira. Sexta-feira continua isolada, o entusiasmo, as saídas com os amigos, os dias intermináveis a comer em família, o livro que andava esquecido há 3 dias, desde o fim de semana passado.

Os meses também se confundem. A semana passada fui jantar com a Joaquina... Ãhhh... Não... Espera... Foi há dois meses...

Eu estou na fase dos anos. Estamos em 2005... Espera se calhar ainda é 2004... Não, não... Já estamos em 2007. Quantos anos tenho? Ai... Algures entre os 20 e os 30... Será? Mas já fui a tantas festas dos 30 anos! Será que já fiz a minha? Mas quando? Já me lembro foi em 2006.

Como será quando começar a confundir as vidas? E se não houver outras vidas? Será que o tempo se mistura com o vazio?

quarta-feira, novembro 02, 2005

E real



Acordas no país das maravilhas, que existe só porque alguém o sonha. Se esse alguém acorda evapora-se como quando sopramos uma vela, mas é verdade que existo, dizes a chorar. Está também Platão e a sua história da caverna; Descartes e a possibilidade de que tudo não seja mais que um jogo de um mau génio.
Eu apenas sonhei que caminhava junto a ti; se sonho que te amo, se sonho que existes, quem despertará no final do meu sonho?

Um velho sabedor sorri e sossega-me, eu poderia aceitar a ideia de que nada de bom me tivesse ocorrido de verdade, mas que tu não tenhas existido parece-me improvável. Sim, tu estás aqui segreda o velho, se não existe nada mais que eu, não existe nada de mim.

O Regresso não desejado

Custa tanto voltar ao dia a dia de trabalho. Até já me tinha esquecido como conduzir um carro e como detesto andar com as janelas fechadas.

Hoje apetecia-me ir ao cabeleireiro alinhar o que andou mal tratado durante duas semanas, depois ir à acupunctura relaxar os músculos. Almoçar o pequeno almoço do Mandarim, ir à praia que fica mesmo em frente e acabar a tarde na esplanada da graça a ver Lisboa adormecer em cores alaranjadas.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Deep nail



A religião Muçulmana restringe o uso de alcoól e é proíbido na maior parte dos países do Médio Oriente. A pornografia e a sexualidade explicita e implicita no acto de cortar as unhas dos pés em público, é também proíbida.

Mesmo assim, não consegui resistir a publicar esta imagem obscena correndo o risco conspurcar a mente pura de um árabe com pensamentos impróprios que o levem a procurar a casa de banho mais próxima para se autoflagelar repetidamente no membro mais erecto que um quarto crescente.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Do lado certo #3

O outro lado das coisas: a floresta ardente; a sombra, negra, esquiva e felina, de garras e dentes escondidos numa noite que se cheira, voraz e sanguinária, que pisa a terra como um pé gigantesco e fere o solo de cinzas.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Lentidão #1



Aproximei-me do sofa onde planeava sentar-me tranquilo por algumas horas, juntando as peças espalhadas de mim próprio. Sentado entre uma janela e uma parede que imagino pintada de verde lima, aquele recanto parecia flutuar sobre a terra como um barco-casa algures em Caxemira. Os gatos vieram sentar-se ao meu lado.
Deixei cair os sapatos. Senti o quente do soalho de madeira nas solas dos meus pés. Pela janela entrava o aroma de terra molhada que o sol começava a evaporar. Liguei o leitor de cds, hesitei na escolha, play.

Ontem, fui ver “Alice”. Tinhas razão, é muito bom: fiquei impressionado com a abordagem estética a Lisboa, não a costumamos ver assim (um “período azul”). À saída, uma amiga comentou “acho que faz juz ao cinema português... é muito lento”. Este problema da lentidão causa-me algum transtorno. Dizerem que um filme (ou uma música, por exemplo) é muito lento não significa nada para mim; é apenas uma característica, como ser a preto e branco, francês, alemão ou japonês.

Penso que foi Pascal que disse que todo o infortúnio dos homens vem de uma única coisa: a sua incapacidade de permanecerem tranquilos num quarto. Regra geral, acho que as pessoas têm uma grande dificuldade em lidar com a lentidão. Ah, e o silêncio.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Do lado certo?

As montanhas são de uma indefinida substância clara, vidro pintado de verde. Só nas manhãs cinzentas, quando o céu não está coberto de núvens autênticas mas de uma súbtil tela enovoada, se descobre que as montanhas são de pedra. Tornam-se então mais sólidas; todo o país é como um curral fechado, rodeado por muros de prisão naturais. A liberdade é um conceito relativo; adverte-se logo a falta de vias que nos conduzam de regresso, ouvem-se veículos distantes a duas horas, quatro, doze, que param numa estação de serviço uma vez por semana.

Vista da cidade, parecia bem mais interessante. Estando aqui, pelo contrário, torna-se indiferente e banal, com noites sombrias e luzes tremulas, comida gordurosa, ataques de mosquitos, chás de ervas amargas. Em tais circunstâncias somos menos sensíveis à beleza natural que os turistas, com todo o optimismo de quem está apenas de passagem.
Registo o mais que posso: manhãs tranquilas de uma simplicidade quase perfeita, cheias de sol que queima até à sombra, passaros solitários (raros, pois as pessoas estão sempre prontas a disparar), bosques onde reina o silêncio, a profundidade, o infinito e o esquecimento.

terça-feira, outubro 25, 2005

Do lado certo



Alguém disse havia cidades para sonhar do outro lado das montanhas. Não disse se estavam suspensas no ar, submersas em lagoas, ou perdidas bem no interior da floresta. Os que lá foram nada encontraram, apenas torres altas. Apenas tu trouxeste algo para continuares a sonhar, algo que não se vê no nevoeiro matinal, um pé descalço de mulher, um sonho de outro deixado nos teus olhos, pedindo-te que o sonhes para além das montanhas onde não há cidades para sonhar.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Segredei

Aquilo não foi paixão, foi uma vaga ternura. O que se dá a uma criança doente; o que inspira os tempos idos e as noites pálidas.
Só com a comoção cantamos por dentro: quando o sentir nos agita, se recolhe e cala.
Tivesse sido paixão, verdadeira, e estas palavras noutro tempo mais alegres, não teriam letras mas apenas lágrimas.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Antony, o regresso



Quantas feridas abertas por esta música escondida de nós há demasiado tempo – amor, paixão, dor, sonho. Tristeza doce, alegria profunda, que nos são reveladas; uma linguagem nova numa noite ao fim de Outubro. Todo o mundo, todos os sentimentos, numa musica sentida bem dentro.

www.antonyandthejohnsons.com/

quinta-feira, outubro 20, 2005

Undress Code #1



Acabou de me chegar às mãos um exemplar da “Política de Apresentação Pessoal” da empresa onde trabalho (é claro que não vou dizer que se trata do Hotel Alfa, ali mesmo em frente às Twin Towers). Resumindo:

Cabelo – nada de cortes à Oasis, nem “daqueles que agora se usam muito” e que parece que foram feitos por alguém com Parkinson em estado avançado. Isso poderia dar aos clientes a ideia de que nesta empresa trabalham rabetas e viciadas da pastilha. Se querem um emprego, vão para o Bairro Alto! “Os estilos de corte/penteados devem transmitir um aspecto limpo e asseado” (sic). Atenção às raizes dos cabelos pintados!

A meu ver, este primeiro ponto tem as suas vantagens: sei agora que neste hotel nunca haverá lugar para o Garcia Pereira, a Vanda Stuart, Abel Xavier e Pedro Santana Lopes. É reconfortante.

terça-feira, outubro 18, 2005

Passagem

Em ti está o que vamos deixando para trás, o que temos feito com paixão, definitivamente já perdido; em ti vemos a graça que se foi, as paisagens e o céu de ontem, quando as coisas que continuas a recordar flutuam sobre as águas do esquecimento.
Mas vives e estás, olhas para aquelas nuvens, aquele sonho tão distante, as flores daquele dia, acreditas que podes mudar a sorte e, ainda que vamos direitos à morte, alimentas-te do passado.

Amanhece


Ao amanhecer, quando pássaros ensaiam o despertar, começa o momento nostálgico de todo o pó que a morte abandonou. Hora dos nascidos, costelas de novos seres humanos.

A nostalgia do teu pó atravessa-me, aperta-me o peito.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Fire, walk with me

Uma chama invisível, a tua cólera persistente seca o mundo, sangra-o, para acabar com tudo.
Arde sem chamas, apagado e ardente, cinza e carvão incandescente, arde no céu e faz subir as núvens. Arde na solidão que nos desfaz, que enlouquece. Entre os meus ossos, arde como arde o tempo, como caminha o tempo para a morte, com os seus passos apressados; arde como a solidão que te devora, imola-te sem chama, sede dos lábios. Para acabar com tudo.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Vou de Férias

Fiquem bem no sofá.
E nos meus blogs favoritos:

http://ilusoespoeticas.blogspot.com
http://anoeee.blogspot.com
http://estupidamentefeliz.blogspot.com
http://fabricadesonhos.blogspot.com
http://www.uroborus.nsilva.com

São poucos e tão diferentes.

Se eu voltar estranha olhem para o meu pescoço, procurem estacas de madeira ou balas de prata e fujam que eu mordo... @ #

quinta-feira, outubro 13, 2005

Considerações Kafkianas

O caminho verdadeiro passa por uma corda, que não está estendida ao alto, mas sim sobre o solo. Parece mais preparada para fazer tropeçar, que para se seguir o seu rumo.
Todos os erros humanos são fruto da impaciência. Interrupção prematura de um processo ordenado, obstáculo artificial levantado em redor de uma realidade artificial. A partir de certo ponto não há retorno. Este é o ponto que devemos alcançar.

O possuir não existe, existe apenas o ser: esse ser que respira até ao último momento, até à asfixia.

Em tempos não conseguia compreender porque não obtinha uma resposta à minha pergunta, hoje não compreendo como pude estar enganado ao ponto de perguntar. Mas não estava enganado, perguntava apenas. Apenas medo e nervosismo foram a sua resposta à afirmação de que talvez possuísse mas não era.


Nota: Aproveito para recomendar uma visita a http://kafkiano.blogspot.com/ . Este é um site onde "respira" Miss Kafka e que muito nos agrada.

Alice



É um filme lindo.
A sequência de imagens é linda.
A banda sonora (Bernardo Sassetti) é linda.
A estação de comboios é linda.
A nossa cidade é linda.
Ele (personagem) é lindo.

Somos realmente um país de poetas. É nestas alturas que tenho orgulho de ser Portuguesa.

quarta-feira, outubro 12, 2005

William it was really nothing

A chuva cai forte numa cidade aborrecida, depressiva.
Todas as pessoas têm que viver as suas vidas, e eu a minha. Não há-de ser nada, é a minha vida.
Como posso eu ficar com uma rapariga gorda que me irá dizer: “Queres casar comigo? Se quizeres, podes ir comprar o anel.”
Ela não se preocupa com mais nada e eu não sonho com ninguém a não ser comigo.

Não há-de ser nada.

"William it was really nothing" é uma música dos The Smiths.

Mais Chuva

Olhei pela janela, olhei para os cd’s, olhei pela janela e agarrei o seventeen seconds.

Foi uma viagem de carro intensa, com a janela aberta, a chuva a molhar-me o braço e a cara, o som que trazia recordações antigas e felizes.

Não reparei no moinho que me saúda todas as manhãs, mas hoje foi por uma boa razão.

terça-feira, outubro 11, 2005

Europa

Como podemos enganar-nos, quando o nosso destino parecia estar no centro do mundo?
Os políticos fracassaram frente ao problema humano, não são apenas traidores às causas do espírito (para eles irrelevantes), em proveito do partido do interesse, mas também homens perdidos. Perderam a sua força realizadora, o seu talento e não deixarão nenhuma marca; não sentiremos a sua falta e a sua obra nada significará aos nossos olhos.

O Mar


Outubro 2004

"Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar"
Sophia