sexta-feira, dezembro 30, 2005

Encontrei

A música...
http://easfadastambemseenganamnocaminho.blogspot.com
mas está sempre a bloquear!
Não percebo... Maldito PC, está mesmo acabadote!

Junto ao rio



O amor tinha-me transformado, o meu sentir vestia novas roupas, despertavam emoções pela primeira vez. Até então fazia-me falta o aroma. Tinha a certeza. Como teria passado todas os verões sem perceber o seu perfume que agora me enlouquece, engrossando o sangue e levando o meu pensamento para tão longe?
Não era menos verdade que até então tinha estado surdo. Já não escutava notas tocadas em pianos de brincar, agora a música entranha-se no peito, afunda-se no corpo e, algumas vezes, faz-me saltar as lágrimas. Eu, antes tão sólido e equilibrado, mostro-me inquieto e nervoso, entrego-me a comportamentos (que me dizem ser) infantís; mas, apesar de isto, era mais feliz que nunca. A minha vida anterior parecia-me a existência hibernante de uma besta fechada, ruminando ou dormindo, sem qualquer noção de um mais além.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Apaixonados

Parece que todas as músicas foram pensadas para nós. Todos os poemas escritos sobre nós. A terra mexe no dia em que os nossos corações estremecem. Chove no momento em que choramos a ausência. O sol brilha quando fazemos amor na praia com o mar a beijar a ponta dos nossos pés enrolados.

Comment #16

O destino é uma coincidência.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

O Beijo



A tua lingua é como veneno, tão inchada que me enche a boca. Prega-me ao chão e estripa-me. Tira a tua maldita voz da minha cabeça. Eu nunca quis isto, nunca quis nada disto. Quero é que morras.

Pluto Drive

Let's go to Pluto
The atmosphere's clear
We'll be really cool there
With nothing to fear

Let's go to Pluto
It's cold and it's damp
Where children are heroes
And death is high camp

I want to see Pluto
I want to have fun
I want to turn blue
Under an alien sun

Oh let me see Pluto
It seems such a gas
With oceans of methane
And petrified grass

Let's go to Pluto
Let's live on the dot
See the bad moon rising
In a lunacy knot

Come on let's do Pluto
It's really not far
An unleaded dream drive
To the prettiest star

I want to see Pluto
But maybe I'll wait
Til the earth turns to meet
It's plutonium fate

The days will be long here
The years will be more
Let's go to Pluto
Like we did before

Let's go to Pluto
Let's live on the dot
See the bad moon risingIn a lunacy knot

terça-feira, dezembro 27, 2005

Finalmente

Acabou o Natal. Acho que nunca recebi tantas prendas. Senti uma certa náusea ao ver aqueles embrulhos todos, cheios de cor e dourados. E sim, recebi o CD que andava a pedir há meses, não queria ser eu a comprar! E o livro que tem o papel especial para poupar o ambiente e mais tantas outras coisas. Até dinheiro. Dinheiro! Detesto receber dinheiro! Claro que tenho o que fazer com ele, mas... Que significado tem? Obrigado avó este ano patrocinaste 3 idas ao cinema, um jornal e um jantar de sushi com chá de pipocas. Compra umas calcinhas. Nem pensar, daqui a 1 mês estariam largas porque agora só tenho espaço para as camadas gordurosas de fritos e doces.

Ai... (suspiro)

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Natal a chupar no dedo



Fui a uma festa de Natal com os meus primos. Bem, eu não posso beber muito e a chiba chega depressa. Estava lá uma bela garina que se aproveitou de mim, apesar de lhe ter dito “não” pelo menos uma vez (seria ucraniana?). Pôs-me piercings nos mamilos e em ambas as orelhas, o que eu permiti feito idiota. Então disse-me que a podia ver nua se eu me despisse primeiro e fosse capaz de chupar o meu próprio dedo grande do pé (a rapariga tinha um fetiche com pés, não era ucraniana). Bem, após umas quantas tentativas, lá consegui abocanhar o dedão. Estava eu entusiasmado pelo aroma de roquefort quando a bácora abre a porta para que todos os presentes pudessem apreciar a cena. Que amigos de merda. Não posso continuar a viver nesta cidade; não volto a beber, não entro em festas e o Natal acabou para mim.
A partir de agora, fico em casa, só eu e o meu dedão; tomei-lhe o gosto e não quero outra coisa.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Tempo



Entre duas noites o dia: mar de luz que se levanta, relógio ao minuto. Enquanto avança o dia devora-se. E quando toca a fronteira em chamas começa a calcinar.
É meia-noite do início do século. Ouve-se o vento em fuga.
Todos nos questionam e acusam, mas nada nem ninguém responde. Nada persiste contra o passar do dia.

Ao meio da noite tudo acaba e tudo recomeça. O tempo luta com o céu; a única luz de um relâmpago. O tempo de uma vida.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Natal por acidente



Quatro dos últimos cinco Natáis foram passados com a família no hóspital ao lado de alguém morto ou por morrer. Primeiro ano: a minha avó morreu na sala de jantar enquanto eu desembrulhava uma boneca insuflável. Ano seguinte: nada. Apenas estranho. Terceiro ano: a minha mãe estava em coma devido à leucemia e morreu no dia a seguir ao Natal. Muito divertido. Quarto ano: na véspera de Natal descobrimos um tumor do tamanho de um ovo cozido no meu primo, e fomos a correr para o hóspital para passar lá mais uma consoada. Ano passado: na véspera de Natal, o meu irmão e o mesmo primo do tumor tiveram um acidente de carro que mandou ambos para o hóspital, com uns jeitosos implantes de tablier espalhados pelo corpo. Sobreviveram.

Então, o que irá acontecer este ano? Provavelmente será a minha vez.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Natal

Acabei de receber a primeira prenda.
Um Perfume. Sou alérgica.
Não faz mal... Foi a primeira!

Peru de Natal fumado



A minha mãe estava um pouco “seníl" e 1991 foi o último ano que a deixámos fazer o jantar de consoada. Ela teve que sair para ir buscar algumas especiarias ao Martim Moniz, enquanto nós tratavamos do resto dos preparativos para o jantar. O perú acabou por se revelar grande demais para a travessa, e o resultado óbvio foi um incêncio gorduroso no forno. Eu salvei a ave, e enquanto a minha irmã aguentava a porta do forno fechada, chamei os bombeiros. A minha mãe tinha tantas decorações nas janelas, que não conseguimos abrir nenhuma para deixar sair o fumo.
Quando a minha chegou, o fogo estava apagado. Eu passei a noite de Natal nas urgências de S. José, devido à intoxicação que a minha irmã sofreu. O Pai Natal também lá estava, no corredor deitado numa maca. “Cabrão do Rodolfo!”

terça-feira, dezembro 20, 2005

O casamento é uma instituição entre um homem e uma mulher?



Bem, este é o argumento mais vezes ouvido. No entanto é o mais fracos dos argumentos. Quem diz o que é o casamento e por quem deve ser definido? Os casados? Os casáveis? Isso não é como se permitissemos a um banqueiro decidir de quem é o dinheiro nos seus cofres? Parece-me que a justiça exige que, se a comunidade “straight” não consegue apresentar uma razão forte para negar a instituição do casamento entre homens e ovelhas, este não deva ser negado. E tais declarações simplistas e nebulosas, sem qualquer argumento moral válido, muito dificilmente serão razões fortes. Elas são mais expressões de preconceitos do que qualquer espécie de argumento real. O conceito de não negar às pessoas os seus direitos, a menos que se consigam demonstrar fortes razões para isso, é a base do ideal da Constituição da República Portuguesa.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Eu era um porco egoísta de merda



Penso que o meu pior Natal de sempre terá sido em 1985. O meu pai esteve doente nesse ano e o resto da família teve que trabalhar no duro para pagar as contas (a minha irmã chegou a ir vestida de índia para o Rossio tocar flauta de pã para sacar guito aos camónes e ao pessoal dos barcos do Montijo). Apesar destes tempos difíceis, o meu pai melhorou e voltou a trabalhar a tempo de pagar as dívidas.
Sobraram apenas alguns escudos, mas a minha mãe levou-nos à mesma às compras. Como naquela altura não havia a loja do chinês, contentei-me com um pão com chouriço e um sabonete do Mickey. Desde então, não mais tomei banho e nunca mais levei chouriços à boca.

Electrodomésticos

A frase da noite:
“Se olhas muito para dentro do abismo, o abismo também olha para dentro de ti.”
Resumindo, é melhor olhar para o fundo do copo e dançar.

http://www.planeta-pop.blogspot.com

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Aqui mesmo. Sim, ali.



Aqui passava a pé por estas ruas, sem emprego nem posto e sem peso. Estive no estrangeiro; nunca estive preso. Quando morrer não irei ter algum monumento.

Neste frio de inverno, sigo-te em todas as direcções do espaço e do tempo, menos numa em que não acredito: o futuro. Na direcção do meu futuro não vejo mais que um caminho sinuoso ao lado do qual o meu ego do costume segue para cima e para baixo como um pendulo bebado. Até que se dá um enorme impacto e todo o movimento cessa. É o ponto extremo do futuro. Uma espécie de meio-dia ofuscante, ou de meia-noite cega, em que já não há nada, nem eu.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

24 torpedos party people



Portugal comprou 24 torpedos, pela modesta quantia de 46,2 milhões de euros, a preços de saldo. Estes torpedos irão rechear os dois submarinos que adquirimos por uns miseráveis 769,3 milhões de euros e que irão ser entregues em 2008, ainda a tempo de participarmos na invasão do Irão.

Acham muito? Bem, se estas duas dúzias de hiper-supositórios explosivos lançadas em simultâneo desse pénis transatlânticos submersos forem o suficiente para afundar a Madeira (Alberto J.J. incluído é condição sine qua non), acho que foi tudo bastante em conta.

Come Armagedon, come!

quarta-feira, dezembro 14, 2005

A.

“Sometimes I’m dreaming
Where all the other people dance
Sometimes I’m dreaming”

Sala 2



Tudo está pronto e preparado para o corte. As facas fumegam. O abdomen marcado. Debaixo dos panos brancos há algo que geme.
“Sr. Dr., está tudo pronto.”

A primeira incisão, como se abre um pão. “Pinças!” Algo púrpura começa a sair. Mais profundo. Os músculos: húmidos, brilhantes, frescos. Há um ramo de rosas na mesa?
É pus o que salta? Terão cortado o intestino? “Dr., se se põe em frente à luz, nem o demo pode ver o diafragma. Anestesia, não consigo operar, o homem que vá passear mais o seu estômago.”

Silêncio pesado. Cai uma tigela de inox no azulejo, a enfermeira oferece bolas de algodão esterelizadas. “Não consigo encontrar nada nesta porcaria!” O sangue escurece. “Tire-me a máscara!” Por fim. “O ferro em brasa, enfermeira!”

“Por esta vez tiveste sorte. A coisa estava a ponto de rebentar. Estás a ver esta pequena mancha verde? Mais três horas e o estômago enchia-se de merda.”
Barriga fechada, pele cosida. “Bom dia, meus senhores.” A sala esvazia-se. A morte escorre para outra sala.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Aprendo



Da lua não tinha medo, era mais lunar do que solar; fixava, com os olhos bem abertos nas madrugadas tão escuras, a lua sinístra (assassina, na música que tanto gostava). Então banhava-se em raios lunares, como quem tomava banhos de sol. E ficava, límpida.

Alivia-me, sentir a tua mão na minha, por momentos sinto que a morte não existe porque já estamos em verdade na eternidade, faz com que sinta que amar não é morrer, que a entrega de mim mesmo não significa a morte, faz com que sinta uma alegria modesta e diária, faz com que não te questione demasiado, porque a resposta seria tão misteriosa como a pergunta; sinto-me previlegiado pelo sono que durmo, e deus nada tem a ver com isto.

Vou esperar, ainda que se passem anos; olho à minha volta, vejo o que tenho feito por mim e considero uma vitória minha a cada dia que passa. Amei acima de todas as coisas. Aceitei o que não entendia por não querer passar por imbecil. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada; disfarçamos com um pequeno temor o medo maior e, por isso, nunca falamos do que realmente interessa, sorrimos em público do que não achamos piada quando estamos sós. Tivemos medo um do outro, acima de tudo, mas eu escapei disso.
Um dia será o mundo com a sua impersonalidade contra o meu amor-próprio, nunca seremos um só. Avanço. Já não preciso de coragem, baixo a cabeça. Nada temo pois sei que nada voltarei a ter.

domingo, dezembro 11, 2005

Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...


Álvaro de Campos

sexta-feira, dezembro 09, 2005

um beijo na casa dos sonhos



Os teus lábios ataram-me ao segredo delicioso como mel agridoce,
agora são repousadas palavras que o mesmo gosto me leva a confessar,
e dias mais lentos que dividimos entre nós,
só para nós.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

beijo

Encontrei um escondido num olhar de despedida sem adeus. Dizia até logo enrolado em até já que queria dizer até amanhã, talvez até ao próximo nascer do sol.

dEUS

terça-feira, dezembro 06, 2005

Sister Moon



Quase sempre estiveste a meu lado, iluminando momentos terríveis; desde cedo acalmáste-me o medo, foste consolo em noites desesperadas; no meio da floresta, nos lugares mais assustadores, no mar, lá estavas; orientei-me por ti nos piores momentos. Protegeste-me.

Subia o olhar e olhava-te, sempre a mesma; no teu rosto uma expressão de dor, de amargura. E agora, subitamente, lua, estilhaças-te. É noite.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Paraíso perdido



Ali vai quem amei, que mais poderia eu dizer-lhe se já nem os meus olhos comovem?
Agora caminhas na rua como se nada tivesse em verdade acontecido. Mas eu não me esqueço do azul do céu sobre ti, acompanhando a tua nova camisa.
Levarei para longe de ti o meu rancor e se te encontrar novamente, em ti me irei gostando.

Não voltarei a querer nem a arrepender-me no ácido de recordações, não correrei emocionado nem te abraçarei. Deixar-te-ei seguir. Talvez te lembres então: “ali vai quem já me amou”.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

É assim

Que os dias se misturam com noites que acabam em dias. Ficam gravados no papel de toalha de uma mesa de restaurante, ou na memória de passos perdidos pelas ruas da cidade das cores amarelas torradas pelo sol dos dias que se misturam com noites que acabam em dias.

O que se espera



Trajectorias estelares que se dispersam bem acima de nós, é a sombra que se arrasta, o bosque mais sombrio, as árvores adormecidas, alguém passa e chama.
Não se ouviria esta música no ar em que os passaros se escondem, nomes que se apagam no tempo. Tenho os braços levantados, esperando por algo, não se sabe o quê.