terça-feira, dezembro 16, 2008

Odeio musicais #1: Musica no Coração



Todos os Natais é a mesma merda… três horas e meia! Há mulheres em trabalho de parto que não sofrem assim por tanto tempo. Aposto que não sou a única pessoa a torcer pelo Rolf e os seus Nazis quando andam à caça dos pirralhos lá para o final do filme. Afinal de contas este é um filme sobre uma gaja que não é suficientemente competente para ser uma Freira. Considerando a dificuldade e complexidade dos deveres de uma freira, não posso deixar de questionar acerca das suas capacidades. Que tipo de atrasada mental é esta gaja que nem sequer consegue ser uma freira em condições? Pelo que sei, os deveres em causa são:

a) vestir-se como um pinguim
b) deixar-se estar quietinha, de ar pensativo e sereno
(Há um c) que envolve espancar crianças mas é mais comum em dramas Irlandeses)

Ela é uma imbecil com problemas do foro mental e não deveria ser deixada a tomar conta de seis crianças. Especialmente crianças que transformam as coisas fofas numa forma de arte. Tal como a gaja transforma cortinas em roupas. Lembras-te daquele puto na escola a quem a mãe fazia roupas a partir dos cortinados? Não, eu também não – imagino que tenha reprimido da minha mente o seu trágico suicídio.

Já tive fantasias com a Julie Andrews a rodopiar monte acima no início da Merdosa Musica no Coração. Esperando que, desta vez, o monte de repente acabasse num precipício e ela continuasse a rodopiar até cair. A cantar durante toda a queda “until now everything is okaaaahhh!...” Plocht!

Se o meu menino, em vez de se meter na cama, estivesse cinco minutos a chatear-me com uma canção multilingue, acho que o recambiava de imediato para o Colégio Militar.

Quanto ao Capitão Von Trapp da Marinha Austríaca. A Áustria é uma terra entalada e, tanto quanto me lembro, sem costa marítima. O cabrão limita-se a dar umas voltas no lago Geneva. Então, temos uma Freira falhada, um capitão inútil e uma família de crianças ignóbeis (especialmente a mais nova com uma cara tipo couve de bruxelas) - versus os Nazis. Serei eu o único a torcer pelos Nazis? Força Rolf, vai-te a eles!

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Patologia do Francês Saltitante



Esta é uma patologia extremamente rara descoberta em 1878 e foi observada inicialmente nos lenhadores Canadianos (da parte francesa, pois claro). Os indivíduos têm uma reacção súbita e anormal a estímulos. Por exemplo, quando lhe dão uma ordem numa voz suficientemente alta o indivíduo ira executar essa ordem imediatamente e sem sequer pensar, mesmo se lhe disseres para espancar a sua própria avó, ou atirar-lhe a panela de pressão à cabeça. Também, ao ouvir frases pouco familiares ou estrangeiras irão repeti-las vezes e vezes sem conta, incontroladamente. Outros sintomas incluem movimentos estranhos quando um ruído alto é ouvido, daí o aspecto “saltitante” desta patologia.

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Creacionismo



A questão que importa colocar é: acreditam estes senhores e senhoras que os dinossauros andavam por cá há 4000 anos atrás? Estas eminências pardas apoiam o ressurgimento do creacionismo (algo entre Lazaro e um filme do George Romero), movimento que começa a espalhar-se tipo cogumelo como uma “alternativa” às explicações científicas da origem das espécies e, num sentido mais lato, do próprio Universo.

Não posso deixar de salientar o que este movimento defende, por exemplo, que às crianças deve ser ensinado que a Terra tem cerca de 6000 anos de idade (não mais do que isso); que os humanos conviveram com os dinossauros há uns milhares de anos atrás (os Flinstones devem ter-se inspirado nas sagradas escrituras); que a bíblia é um livro de elevado valor científico e que, como tal, qualquer descoberta científica que contradiga o que lá vem escrito deve ser condenada.

O que posso eu dizer:
- datação através de Carbono 14?
- fósseis que datam de há milhões de anos atrás?
- provas geológicas e físicas?
- provas da genética moderna?

“Vade-retro-Satanas”. A bíblia e apenas a bíblia contém a verdade completa e sagrada. Apenas a interpretação deste livro, letra-a-letra, é aceite. Interpretação feita por quem? Tudo o resto são apenas modestos avanços da Ciência. Vamos mas é regressar a Galileu! A Terra é plana, não esférica!

O fundamentalismo está a crescer na Europa. Devemos ter medo. Porquê? Porque se trata de um movimento claramente manipulador:
- vamos lá controlar uma massa de pessoas que não questiona nada do que é dado como a única e sagrada verdade;
- vamos lá produzir milhares de acólitos acéfalos cujo único direito é dizer “ámen”; e
- vamos lá destruir, se for caso disso, os fundamentos da Ciência e o Método Científico para atingir os nossos objectivos (uma lavagem cerebral à escala global).

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Sindroma da Alice no País das Maravilhas



Este sindroma é também conhecido como Micropsia. Os indivíduos parecem ter uma disfunção na forma como o seu cérebro processa informação visual apesar de não estar nada de errado com os seus olhos. Objectos, humanos, partes de humanos e animais, etc. são percepcionados pelo indivíduo como sendo muito menores do que são na realidade. Por exemplo, imagina olhar para o teu cão e vê-lo do tamanho de um hamster ou olhar para outro humano, que na realidade pode ter 1,85 m, e parecer o Marques Mendes. Estranhamente, a percepção persiste mesmo quando o indivíduo tem os olhos fechados.

Embora raro, este sindroma é mais frequente entre os políticos em geral e autarcas em particular.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Normal #2



A Cultura é criada definitivamente quando as pessoas chegam aos limites em que estão dispostas a viver. Então, para justificar a sua opção, criam grupos que se proíbem entre si e tentam usar o poder dos números para se sentirem confortáveis com as limitações que aceitaram. Depois de se terem proibido por razões de segurança, proíbem-se para perseguir quem for para além dos seus limites. Porquê? Porque alguém que possa ir além dos seus limites irá provar que estavam errados e assim perturbar a sua vida confortável. Uma vez que alguma coisa tenha sido aceite por um longo período de tempo, torna-se a nossa definição de normal; apenas significa que aceitas todas as limitações que todas as pessoas que te rodeiam aceitam. Bem-vindo/a ao clube do “é assim porque sempre foi assim”.

Assim que começamos a ser normais, limitamos a nossa capacidade de ver, experimentar, ou fazer coisas que estão para além da fronteira. A normalidade limita as pessoas, atrofia a criatividade

Essa cabeça erguida como a selecção nacional (da Argentina) quando te acusarem de não seres normal. Afinal de contas, não és mesmo!

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Was ist typisch Tupperware?



O que é ser Normal? O que é normal, afinal? O Diccionário define normal como “em conformidade com o padrão ou o tipo comum; usual; não anormal; regular; natural." No entanto, nada é igual neste planeta. O nosso ADN é diferente, as nossas impressões digitais são diferentes, e os pelos púbicos nas nossas virilhas são diferentes. Grãos de areia, folhas de erva, flocos de cereais... nada neste planeta foi criado por copy/paste. Até os gémeos idênticos não são iguais; até o lado esquerdo da tua face não é igual ao lado direito.

Quando entendes isto, rapidamente vês que aqueles que te chamam “não normal” estavam simplesmente a tentar guardar-te no mesmo tupperware em que eles vivem. Quando aceitas a limitação (auto-imposta) de ser normal, i.e., como todas as pessoas, estás a abdicar de coisas tuas, únicas, de ti. Eu acredito que devemos ultrapassar o normal. Salta do tupperware, atreve-te a ser mais do que isso.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Normal #1



Como reages quando és acusado de ser “não normal”. Tu não és Normal! Talvez já tenha acontecido mais vezes do que aquelas que te lembras. Especialmente quando um comentário com esses vem da tua família ou dos teus amigos mais próximos, sabe tão bem, não sabe? Este pode ser um dos melhores elogios que alguma vez receberás.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Ser Normal, ou também não.



É normalidade vestires as roupas que compras para o trabalho, o pára-arranca no carro que ainda estás a pagar, para chegar ao emprego que precisas para pagares as roupas para trabalhar, o carro e a casa que deixas vazia o dia todo para que possas viver nela.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Avaliação dos professores: a solução



No Sofa, encontrámos a solução para o imbróglio da avaliação dos professores, algo entre o “eureka!” e o “ovo de Colombo” (não, não é aquele gigante que colocam no shopping por alturas da Pascoa), chamemos-lhe o “escalfado ovo de Colombo”. Ora aqui vai.

Tendo em contas os factos inquestionáveis seguintes:

1. O ministério quer avaliação;
2. Os professores não querem ser avaliados;
3. Existem cerca de 40 mil candidatos não colocados;
4. O sistema de avaliação proposto é uma merda.

Sugiro que se despeçam 40 mil professores entre os contestatários e que se empreguem 40 mil candidatos na condição de aceitarem ser avaliados; e, dada a escatologia do actual modelo, que se faça um “copy/paste” de um modelo topo de gama oriundo de um daqueles países de referência (Irlanda, Dinamarca, Singapura, Coreia do Sul, Nova Zelândia, …). Fácil, não?

sexta-feira, novembro 21, 2008

Contra o tempo



Ela parte hoje no primeiro avião a sair do país. As últimas palavras que lhe disse foram ‘tenta não sentir a minha falta’. Fez as malas, apanhou um táxi para o aeroporto. Pensava em tempo para pensar, escapar era o seu retiro.

Ele tinha 20 minutos até ela estar no ar. Não podia esperar, tinha que chegar lá. Pagou ao taxista 50 euros para atravessar a cidade; naquele mesmo momento ela estava a partir. Tinha que lhe dizer o que sentia, ela tinha que o saber, mas apenas lhe sobravam 16 minutos e o trânsito estava lento. Ele tinha sido um idiota por ter esperado tanto, mas tinha medo que as coisas corressem mal. Mas ali estava ele, com 13 minutos até ao meio-dia, se as coisas não estivessem já tão mal seria ainda cedo. Tentou manter-se calmo, mas continuava a pensar no que faria se ela não sentisse o mesmo?

Pararam num semáforo vermelho e ele tentou não chorar. O tempo estava a escapar-se. Ela pode estar a entrar no avião agora. Perguntou ao condutor se já estavam a chegar, “não”. Não tinha a certeza de conseguir, apenas sabia uma coisa: amava-a.

5 minutos passaram, outros dez eram perdidos, tudo mentira, não ia correr nada bem. Se ela já descolou irá desaparecer por meio ano. Passaram 21 minutos e estavam quase lá, ele viu um avião a descolar. Quando saiu do táxi eram já 5 minutos tarde demais, ela tinha partido.

Virou as costas ao ouvir uma voz, “Não sabia se virias”. Viu-a a correr. Ali estava, não tinha desaparecido. Esperou por ele todo o tempo. Abraçou-a forte. “Nunca mais adiarei abraços até à hora de partir.”

quarta-feira, novembro 19, 2008

O próximo dia


Sigur Ros - Viorar Vel Til Loftarasa

Entre os ciclos de lavagem e secagem, uma música. Em voo planado, em sonhos apanhados. O relógio institucional mostra horas a fugir disfarçadas. O teu apetite aumenta. Uma música prestes a tocar.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Silêncio #2



Um silêncio absoluto, ao início, ao fim. Entre um e outro, um silêncio que se sente, que faz sentir, que absorve tudo o que o rodeia. Um silêncio de pensamentos, incontrolável, desejado. À espera nas asas que podem mover a terra. Silêncio que conforta no desconforto que ele mesmo causa, do qual já disse demasiado. O silêncio apenas se descreve pelo silêncio.

Nesta forma de comunicação, digo-te alguma coisa. Ou, não.

quarta-feira, novembro 12, 2008

eighteen seconds before sunrise



Foi a música que me fez viajar. Viajei para fora de mim, a música fez-me isso. Estaria louco? Não, louco estava quem não se dispôs a partir. Foi um sentir raras vezes sentido, excessivo e transbordante. Talvez tenha sido loucura. Eles cantavam na língua da terra sem árvores; mas também não acho que precisem delas.

Takk. Por existirem; por partilharem algo de tão precioso connosco. Takk.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Ele está de volta



Ao contrário do que muitos portugueses menos esclarecidos andaram a pensar, Pedro Santana Lopes não entrou em combustão espontânea; antes pelo contrário, manteve-se apenas algo apagado.

Ele está de volta. E, com ele, comentários surreais de alguns analistas da nossa praça: que Santana Lopes “recuperou a credibilidade perdida” com a sua recusa em responder a questões. Isto é, ao não emitir qualquer tipo de opinião, o Pedro torna-se credível… Bem, não o podemos acusar de ser completamente idiota, s’il vous plait. Pensem só na dificuldade que ele deve sentido em manter-se inerte perante os media nestes tempos.

Pedro Santana Lopes, playboy lusitano, Camarinha do JetSet (não confundir com G7), o homem que desafia e quebra as regras da política clássica, o bébé espancado em plena incubadora, o Calimero pós-revolução sexual,...

sexta-feira, novembro 07, 2008

Entre ilhas




Andando por aí, um objecto de curiosidade de alguns, sorrindo para ti mesmo e para alguns outros, uma espécie de solidão e ao mesmo tempo distanciamento. Contra produtiva, como te apercebes mais uma vez. O caminho mais longo é o mais eficiente, aquele que salta entre ilhas, e pareces viajar em círculo.

sexta-feira, outubro 31, 2008

uma floresta no japão



sentas-te à direita no balcão, é um tipo de restaurante em que podes ver coisas acontecer; uma vez a minha mãe chorou num restaurante tailandês, quando ouviu o meu estranho toque de telemóvel pensou que chorava um pato na cozinha

há uma floresta no japão em que muitas pessoas se suicidam; porque estão deprimidas, violadas, em dívida, sozinhas, ricas ou aborrecidas; talvez algumas pessoas o façam apenas porque sim. talvez se todas as pessoas configurassem o seu telemóvel com um toque a imitar um pato, e ligassem todas uma para as outras em simultâneo, a minha mãe iria desatar a rir num restaurante tailandês

quarta-feira, outubro 29, 2008

leitão de folha de cálculo



não agarrei o leitão nem o abri com uma faca, em vez disso abri uma folha de cálculo e disse “ok”, fui à biblioteca, quando alguém me faz uma crítica construtiva tento não coçar a cabeça ou dizer “iá” muitas vezes pois parece defensivo, procurei leitão na net, olhei para fotografias de órgãos, não consegui perceber para onde estavam as setas a apontar e tudo isto me lembrou a minha vida toda

quando me perguntam porque não quero abrir o leitão e observar os seus órgãos digo “sou vegetariano há quase dez anos”, digo “é uma coisa pessoal, tal como não gostar de comer ovos”, dizendo “não é político, é pessoal” torna-me no vegetariano cara-de-cu nº1

uma rapariga vem ter comigo com a sua folha de cálculo “leitão.xls”, diz-me “sou vegetariana a partir deste momento”

terça-feira, outubro 28, 2008

Como vento

Lâminas afiadas de relva voam no vento, o vento é como muitas coisas, emoções, árvores; o vento não tem vergonha, não justifica o que faz, não se arrepende; o vento é o vento, é a sua natureza.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Reflexões a 12,000 metros



A esta altitude, Lisboa é apenas um conceito, um tabuleiro de xadrez de prédios e automóveis que imita a página central da revista do meu vizinho. A este ponto da minha viagem estimo que a distância entre mim e os meus sentimentos é aproximadamente a quilometragem entre Lisboa e o Porto. Derreto-me na textura, o cinto apertado, e desapareço entre a minha chegada e o almoço de hoje.

Estou um pouco aborrecido, um pouco mais velho e estranho. Começo a divagar e a reflectir na vida que adoptei: um tipo de vida em que os homens lançavam arpões a alguma coisa muito maior e provavelmente melhor que eles próprios, querendo matá-la, querendo ver grandes nuvens de sangue para provar que existem. Imagina nascer e crescer, passando 38 anos pelo mundo a uma velocidade inimaginável; imagina um século como um quarto tão grande, um corredor tão comprido, em que poderias viajar uma vida e nunca encontrar uma porta, até teres esquecido que existem coisas como as portas.

Navego pelo ar a 12,000 metros, reflectindo no que me esqueci de saber, lembrando sorrisos que abracei. Aqui estou a 12,000 metros e mais perto da Terra do que alguma vez estive.

quarta-feira, outubro 22, 2008

2. se eu pudesse ficar em casa



dormir até sei lá quando, acordar, dormir mais, acordar, pensar “devia sair da cama”, dormir mais, acordar e pensar, “vou beber um litro de néctar de pêssego porque hoje posso fazer o que bem me apetecer, hoje é o meu dia”, ir à cozinha, fazer café, escolher uma chávena, esperar alguns segundos, adicionar açúcar, comer uma peça de fruta, ver um filme de ficção científica, ficar uma semana em casa a pensar sobre extraterrestres, pensar em pessoas com segredos, esticar-me no sofá, não me vestir, tomar um duche às 19:44, dar uma volta na vizinhança, rir-me dos autocarros que passam, podem pensar que sou doido, regresso ao sofá e vejo X-Files, levanto-me muito rápido e sinto-me tonto, levanto-me devagar e sinto-me tonto, tentar determinar se estou fisicamente doente ou se me tornei doente, dar um murro em alguma coisa, dar um pontapé em alguma coisa, adoptar um gato, capturar todos os gatos e pô-los num quarto, capturar todos os cães e pô-los numa sala, escrever observações, ouvir devendra banhart, ouvir belinda carlisle mas apenas porque o itunes está em shuffle, pensar no ebay, pensar em viciar-me numa droga qualquer, pensar em escrever alguma coisa

domingo, outubro 19, 2008

À face



A face humana é um poder vazio, um campo deserto. Após incontáveis milhares de anos em que a face humana falou e respirou, ainda tenho a impressão de que ainda nem começou a dizer o que é e o que sabe.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Apto?


Mais apto, mais feliz, mais produtivo,
confortável, sem beber muito,
exercício regular no ginásio
(3 dias por semana)
melhorar com os teus colegas de trabalho associados,
à vontade, a comer bem
(acabaram-se os jantares de micro-ondas e gorduras saturadas),
um melhor condutor, um carro mais seguro
(uma criança a sorrir no banco de trás)
dormir bem (sem pesadelos),
sem paranoia,
amigo dos animais,
(nunca afogar aranhas no ralo),
manter-se em contacto com os velhos amigos
(beber um copo de vez em quando),
verificar a conta bancária,
favores por favores,
gostar mas não amar,
dormir bem (sem pesadelos),
sem paranóia;
consultar frequentemente o saldo bancário,
favores por favores
(não matar traças ou deitar água a ferver nas formigas),
lavar o carro (aos domingos),
não ter medo do escuro
nada de tão ridículo e desesperado
nada tão imaturo – a um melhor ritmo,
mais lento e calculado, sem fuga possível,
preocupado (mas impotente),
um informado membro da sociedade
(pragmetismo não idealismo),
não irá chorar em público,
menos hipóteses de adoecer,
pneus que aderem no molhado,
uma boa memória, continua a chorar com um bom filme,
continua a beijar com saliva,
calma, mais apto, saudável e mais produtivo
um porco numa jaula com antibióticos.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Sorte

Através do que parecia sorte, pela sugestão de um pensamento fútil livre de laços familiares e pelos caminhos que percorri centenas de vezes, a verdade invadiu-me, e vi um mundo completo, uma esfera desconhecida; ilhas e continentes, e grandes oceanos, nos quais barco algum navegou desde que o homem ergueu o seu olhar para o sol.

terça-feira, outubro 07, 2008

Neo-simbolismo


A leitura de duas notícias, lado a lado, revelou-me a emergência de uma nova corrente.

1. JSD de Lisboa “tentou entregar as chaves”
“Um grupo de militantes da JSD dirigiu-se ontem à sede nacional da JSD para entregar simbolicamente as chaves das instalações da distrital da “Jota” de Lisboa à actual direcção, …” (in Publico, 3 Out)

O que é entregar simbolicamente as chaves? Será algo do tipo “epá, aqui estão as chaves, mas nem as vou tirar do bolso”, ou entregar as chaves mas ficar com o porta-chaves? Andam a brincar à política ou é mesmo assim? Kafka, teria aprovado.

2.Promessas por cumprir desde a Cimeira EU-África
“A iniciativa Eu Acuso (...) culminará com um ‘julgamento simulado, simbólico e público’ dos vários acusados – Governo, Assembleia da República, Comunicação Social e Sociedade Civil - ...”

Bem, tudo muito bem, são acusados. E depois? Imagino que dê origem a uma sentença simbólica que muito transtornará os réus. Não conseguirão sequer dormir com tanto peso na consciência. A propósito, qual será a magnitude de um peso simbólico?
A realidade é que as ONGs estão a entrar num estado de ansiedade major; preocupadas com o desaparecimento (leia-se consumo próprio) das verbas que lhes pagam os jipes com logótipo, as viagens de helicóptero e os telefones satélite onde comunicam “há pessoas a morrer aqui”. Irão deixar de morrer por isso?
Que me desculpem as ONGs que fazem realmente alguma coisa no terreno. Está aí alguém?

segunda-feira, outubro 06, 2008

1.



acorda, fica na cama mais um pouco, levanta-te, duche, bebe café, come o croissant ou uma torrada, bebe café, veste-te, certifica-te de que tens tudo o que precisas para não pareceres estúpido, sai, espera pelo autocarro, pensa em alguma coisa, pensa “olhem para mim, eu estou à espera do autocarro”, escreve alguma coisa no jornal, acena ao vizinho, entra no autocarro, senta-te antes que caias, apoia os joelhos nas costas do banco à tua frente, fica assim, olha pela janela, olha para alguém e apercebe-te que eles apenas olham um para o outro dentro do autocarro, porque olhas para fora e não para outra pessoa? decide que isso significa que és mais esperto do que eles, sai do autocarro, sente-te observado, pensa “olhem para mim, eu estou a sair do autocarro”, anda rápido, senta-te na sala e lê por vinte minutos ou coisa parecida, evita conversar com alguém, sorri um pouco, vai para o trabalho, fala com poucas pessoas, corta fotografias de revistas e cola-as na parede, corta o braço com o x-acto, vai à enfermaria, pensa numa dissecção de um porco a caminho, tenta não adormecer, pensa em comida, casos do supremo tribunal, pensa em comida, vai buscar uma maçã, come a maçã, pensa no que as outras pessoas estarão a pensar quando te vêem a comer uma maçã todos os dias, vai ao cinema, evita a conversa, memoriza frases, dá abraços às pessoas, pensa em comida, vai jantar, senta-te sozinho na mesa do canto, fala com as pessoas por vezes mas evita a maior parte das conversas, ri-te das pessoas, aquela parte do dia é aborrecida, desenha um peixe no teu próprio pulso, olha para o relógio, pensa nas vezes da vida em que irás precisar de matemática, apanha o autocarro para casa, pensa “olhem para mim, eu estou a entrar no autocarro”, sai do autocarro, pensa no dia, pensa no que farias se pudesses ficar em casa

quarta-feira, outubro 01, 2008

Então, guio




A minha mão lenta demora a escrita. Enquanto vagueia a mente, guio pela noite, guio sem pensamento, noutra parte. Passo por mim a cada esquina. Ali estou. Posso encontrar aquela pessoa?

Próximo quarteirão, lá estou eu de novo – pareço sorrir ao ver-me passar.

segunda-feira, setembro 29, 2008

Impossibilidades


Ali Cavanough, "Covering Shame"

Não envergonhes aqueles que declaras vergonhosos. Não subestimes quem não tem vergonha. Torna-te no que não te atreves; não tentes explicar o que sentes. Respira profundo, estende a tua mão ao inalcançável; fecha os olhos, abre os ouvidos, aprende a festejar o silêncio e sonha.

Deixa a escuridão sentir a luz, deixa a luz escapar à escuridão, não sonhes com energia potencial. Digere o remorso, torna-te intocável e alimenta-te do teu próprio conhecimento.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Fallen Angels




Os dedos das sombras sabem o caminho. Até os mais vazios, expiram mortos e deixam rastos de vida.

A intuição liberta a inibição onde descansam os sonhos, cativando sem tentar. O medo é deixado só, intocável, invisível, não sentido, sem sentido. Um anjo caído, um sonho. Um pulsar que desejas, “fica”.

Sentes-te afogar ou estás apenas a adormecer? Para onde quer que vás, levas as promessas na ponta dos dedos. É a tua última oportunidade, a quem chamaram esperança, alguém impreparado de olhos fechados.




Discover The National!

segunda-feira, setembro 22, 2008

Exílio



Lágrimas e sorrisos, ambos de natureza erótica, aprovados por ambos os mestres, céu e inferno. Componentes diferentes exilados de um mesmo lugar, uma fronteira de coisas semelhantes. Uma palavra honesta, um olhar profundo, tudo consumido por uma crença. Uma promessa cumprida, um toque irreal, uma veia azul.

A maldição do tempo, o prazer e a dor. A eternidade vem apenas a seguir às feridas das horas passadas. Nada é verdade, é tudo falso; todo o pedaço de material que nos agarra ao molde a que chamamos “vida” é falso. Nós fazemo-nos humanos para caber, na perfeição e sem ruído.

Uma ou duas vezes, em momentos roubados ao tempo, em olhos preciosos, quebramos o falso molde e escapamos a este mundo de tempos racionais.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Girafa #1



- Aqui está a tua girafa, menina.
- Eu sou um menino.
- É esse o espírito. Nunca desistas.

quinta-feira, setembro 11, 2008

Onze de Setembro e meia dúzia de Árabes



"Meia dúzia de Árabes com x-actos não poderiam levar isto a cabo." Bem, os Árabes conseguem fazer tudo o que os Americanos fazem (eventualmente, compram algumas coisas já feitas). Osama andou a estudar engenharia civil na altura em que as torres estavam a ser construídas. A maioria dos terroristas tinha curso superior. Alguns tinham experiência de voo e treino em simuladores.

Um avião comercial cheio de combustível é uma espécie de carro bomba voador. Será ele assim tão esperto ou o governo dos EU tão imbecil que não se terá apercebido disso? Há provas de que se pensou em tal possibilidade mas as acções não foram suficientemente rápidas para o impedir. Dar instruções aos pilotos para não abrir as portas do cockpit em circunstância alguma e obrigar as companhias aéreas a colocar portas mais seguras no cockpit poderia ter impedido os ataques. Tal como os caixas num banco são instruídos a dar o dinheiro aos assaltantes, as velhas regras dizem que os pilotos devem deixar os terroristas fazer o que bem entenderem. Qualquer pequeno gang da Amadora poderia ter feito o que ele fez.

Planejacking… “Bacano, passa para cá o Boeing!”

terça-feira, setembro 09, 2008

Eleições em Angola


A campanha do MPLA foi colorida, bem preparada e organizada
(Fonte "Jornal de Angola")

sexta-feira, setembro 05, 2008

Fernando M @ Incógnito



Mas qual Festa do Avante qual carapuça! Aqui não ha nada disso: Xutos e Pontapés, brigadas Vitor Jara, banda filarmónica das FARC, óperas e o camano... Depois não digam que eu não avisei.

quarta-feira, setembro 03, 2008

Criminalidade violenta - Lisboa, 1506



«No Massacre de Lisboa de 1506 – também conhecido como Progrom de Lisboa ou Matança da Páscoa de 1506, uma multidão movida pelo fanatismo religioso perseguiu, violou, torturou e matou entre duas mil e quatro mil pessoas, acusadas de serem judias (...)
Cerca de 93 mil judeus refugiaram-se em Portugal nos anos que se seguiram à sua expulsão de Espanha, pelos reis católicos, em 1492 (...)
A historiografia situa o início da matança no Mosteiro de São Domingos (Santa Justa), no dia 19 de Abril de 1506, um domingo, quando os fiéis rezavam pelo fim da seca e da peste que tomavam Portugal, e alguém jurou ter visto no altar o rosto de Cristo iluminado — fenómeno que, para os católicos presentes, só poderia ser interpretado como uma mensagem de misericórdia do Messias.
Um cristão-novo que também participava da missa argumentou que a luz era apenas o reflexo do sol, mas foi calado pela multidão, que o espancou até a morte.
A partir daí, os judeus da cidade foram o bode expiatório da seca, da fome e da peste: três dias de massacre se sucederam, incitados por frades dominicanos que prometiam absolvição dos pecados dos últimos 100 dias para quem matasse os "hereges".»

Deve ser a isto que os cristãos chamam o amor pelo próximo...desde que esteja de acordo com a doutrina católica e não seja judeu.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Blind?



Se nada do que fazes tem significado, se as palavras que dizes não têm um objectivo a atingir, di-lo agora e acorda de um mau sonho. Alivia-te do arrependimento que se alojou profundo. Não saias e deixa as lágrimas voltar a cair. Porque sabes que esta vez é mesmo a sério. Acreditas que desta vez é para ficar.

domingo, agosto 10, 2008

Sem calcular



Dois dias desta semana,
e voo no carro,
observando todo o asfalto a desaparecer debaixo de mim,
a estrada vai caindo para trás;
e o retorno é banido, abandonado à sua sorte.
E a vontade é de não parar.

Aqui estou eu sentado a desejar já estar a caminho de algures.
É o melhor que se pode ter: seguir.

quinta-feira, agosto 07, 2008

O dia em que o Computador engoliu a Avó



O computador engoliu a avó. Sim, é verdade. Ela teclou "control" e "enter" e desapareceu de vista. Devorou-a completamente, só de pensar nisso até me arrepio. Ela deve ter sido apanhada por um vírus. Procurei na reciclagem e nos ficheiros de todo o tipo: até fui à Internet, mas não encontrei nada. Em desespero, perguntei ao cão que procura, esgravata e refina a busca. A resposta do simpático animal foi negativa, nem uma avó foi apanhada "online".

Caros amigos e amigas, se por algum estranho acaso (ele há Entroncamentos informáticos) aparecer a minha querida avozinha na vossa "Inbox", enviem-ma de volta por favor. É claro que podem ficar com uma cópia mas a original é só para mim.

terça-feira, agosto 05, 2008

Não estranho



Um soldado de cimento, olha para os olhos e vês um berlinde vermelho, uma promessa. Uma viagem para uma cidade do México, a garganta seca.

Tenho muitos maus hábitos que ainda preciso controlar. Tivesse eu um cêntimo por cada jogo que arrisquei. Não tem piada como o tempo nos escapa? Rewind e repito a minha vida. Nunca jurei aliança a sangue algum, suor e imposto. Não me tomem por engano como dócil, não tomem a minha raiva por ressentimento. É por isso que estou quieto. Não se enganem no preço.

segunda-feira, agosto 04, 2008

Mensagem



As árvores dizem o teu nome quando o vento pergunta, a chuva repete-o quando o céu se debruça. Sinto o teu respirar nos meus lábios, os teus breves movimentos, cores que se podem ouvir.
Os meus lábios encontram o teu sorriso mesmo naquele momento. Vejo mais do que posso ver mas nunca o suficiente.
Uma mensagem, esta imagem.

sexta-feira, agosto 01, 2008

Católico artificial



Há 40 anos, mais dia menos noite, o Papa Paulo VI assinou a encíclica Humanae Vitae, que negava aos católicos o uso de métodos "artificiais" de contracepção.
40 anos mais tarde, uma dúvida persiste na minha mente ímpia: qual o grau de conhecimento real (saber de experiência feito) que esta gente terá relativamente ao sexo?

Ah pois, os meninos do coro... esses não precisam de métodos artificiais. Tudo bem perante Deus, portanto.

terça-feira, julho 29, 2008

Avante camaradas, avante!



Quando militares da Colômbia entraram no Equador e mataram um dos líderes das FARC, o nosso (salve seja) PCP reagiu indignado.

As FARC são um grupo terrorista comunista (é capaz de ser um pleonasmo, isto) cujo objective politico é instaurar o Comunismo repressivo na Colômbia, à semelhança dos desejos comunistas nacionais e tentativa efectiva em pleno PREC; as suas operações incluem o tráfico de droga, rapto para pedir resgate, extorsão e o uso geral de tácticas terroristas para controlar o povo local.

O Equador tem permitido às FARC esconderem-se dentro das suas fronteiras. Se a Colômbia tem o poder de eliminar ameaças a sua segurança nacional, tem todo o direito de perseguir terroristas para lá da fronteira. O Equador (e não a Colômbia) deveria ser condenado por alojar as FARC. Este facto poderia quase ser considerado um acto de guerra contra a Colômbia.

A reacção do PCP foi hostil em relação à Colômbia. Tal como a do Presidente do Equador Rafael Correa, que se descreve como Socialista e Católico Romano, amigo pessoal de Hugo Chavez. Tivesse o PCP alguns militares de Abril à mão e tê-los-ia mobilizado na altura junto com os militares da Venezuela e do Equador junto das fronteiras. Esta mobilização de elementos militares valida essencialmente o apoio dos governos Venezuelano e Equatoriano aos terroristas/traficantes que operam sob a capa do Comunismo.

O PCP chamou à morte do líder rebelde e mais 16 outros um ataque de um “Estado terrorista.” O que são então o Equador e a Venezuela, onde as guerrilhas regularmente descansam, treinam, obtém ajuda médica e traficam droga?

O PCP tem vindo a revelar simpatias pelas FARC e mesmo com a libertação de Betancourt, ex-candidata às eleições presidenciais por quem não revelou qualquer espécie de simpatia ou solidariedade, continua a exigir que estas sejam retiradas das listas de grupos terroristas internacionais. Será Ingrid a terrorista? Ou terá sido apenas para continuarem a contar com a presença das FARC na sua festa do Avante sem ficarem com a consciência pesada?

quarta-feira, julho 23, 2008

Viagem de um dia



O dia nasce como uma viagem, uma partida.
Outro sol se ergue e, com ele, luminosas memórias.
Um dia de viagem de cada vez.

quarta-feira, julho 16, 2008

Bairro da Fonte, 2008



O pessoal politicamente correcto, amantes de animais e plantas não transgénicas, freaks de esquerda (haverá outros?) e qualquer outra pessoa que defenda os ciganos devia tentar viver perto de alguns. O conceito de propriedade privada (a dos outros, claro) é-lhes exótica, ao contrário da apropriação dos bens de outrem que é, para eles, um modo de vida.
E que tal arranjarem a merda de um trabalho, como qualquer um de nós a quem lhe sabe bem o guito no final do mês, nem que seja para ir comprar uma t-shirt aos saldos da Zara?

Ah sim, pois claro: sou um fascista.

terça-feira, julho 15, 2008

Tudo o que não pode ser agarrado



A respeito de tudo o que não pode ser agarrado, a sua pergunta é a sua resposta. Aqui estão as minhas questões: Porque salto quando vejo uma aranha mas observo calmamente uma formiga a atravessar o chão da cozinha? Porque a piso? Porque me esqueci…

quinta-feira, julho 10, 2008

He lost control



Odiava aquilo, odiava mesmo. Dia a dia era usado por ela e ela sem o ver. Estava a dar cabo dele, pedaço a pedaço. Continuava a não te importar, não se poderia importar menos se ele apodrecesse dia a dia. Tudo o que ela queria dele era lucro, nunca ligou ao seu tempo gasto; para ela, era apenas um escravo. Era apenas com quem podia brincar todo o dia, dia a dia. Dizendo coisas que traíam a sua mente. Magoava-o e sabia que o fazia. Apesar de tudo, ele continuava a regressar.

terça-feira, julho 08, 2008

O que é isso do vegetariano transgénico?



Era suposto ter piada... os vegetarianos são anti-transgénicos.

O vegetariano típico é um sujeito amargo e pálido que se julga acima das outras pessoas apenas porque tem uma alimentação parecida com a de um coelho. Estou a falar dos fundamentalistas vegetarianos nacionais (que se confundem com os militantes do BE que não fazem vaquinhas para comer ½ prego). São ainda contra: a globalização, Bill Gates, multinacionais, máquinas de lavar, roupa de marca, touradas, circos de pulgas,... O mais curioso é que todos fazem uso da Internet e do software do Bill Gates, e é vê-los de All Stars e Adidas, t-shirts Pull & Bear, vestidinho Berska, sandalinha H&M.

Como diria o meu amigo RJ: “480 milissegundos de ofensa discreta”.

terça-feira, julho 01, 2008

Velha e cão #14

Uma velha e um cão unidos por uma trela. O cão era quase tão feio como os seus sapatos (os da velha, não os próprios). Em comum tinham um cheiro nauseabundo que se adivinhava no interior de um e no ânus do outro.
Uma ligação para a vida.

quinta-feira, junho 26, 2008

Linguagem de corpo presente



Nunca vi esse corpo apesar de o ter tocado, as suas coberturas, sapatos, roupa interior. Esse corpo que mantém a promessa de não se abster, de modificar o seu comportamento, de parar o veneno. Mais insecto que animal. Esse corpo que quer sofrer, preso numa jaula de costelas, numa grelha de arame farpado que liga dente a dente com apenas o espaço necessário para respirar pois a humilhação pode tornar-se num objecto de desejo. Esse corpo que exigiu a minha lealdade, que me ensinou a tremer, que aprendi de cor a sua topografia de carne marcada, cada osso fracturado, cada lágrima de pele meio-curada.

segunda-feira, junho 23, 2008

Um milhão apenas

Em sentimentos, em silêncio, sem razão ou matemática ou mapas-mundo, apenas um milhão de pensamentos tocados pelo desejo e memórias fantasiadas; navegamos à vista, um quadro em movimento, pintado ao amanhecer, sem palavras, sem jogos.

quinta-feira, junho 19, 2008

Gestão engarrafada



Numa conversa recente com uma pessoa que trabalha no hotel Corinthia Lisboa, surgiu-me a necessidade de falar sobre a questão dos engarrafamentos que atrofiam a gestão das empresas. Tudo isto apesar do que se diz em entrevistas, que a inovação ou as pessoas são o o que de mais importante existe na empresa. A realidade, essa é bem diferente. Baseando-me no conhecimento algo profundo do Corinthia Lisboa, e da sua gestão, vou debruçar-me sobre as práticas correntes.
Porque será tão difícil aplicar os modernos princípios de gestão? O que será preciso para os gestores agirem como tal, e não como um híbrido de merceeiro e ditador de terceiro mundo? Apesar dos inúmeros artigos e livros sobre o assunto, desde a Harvard Business Review até à TV Guia, ainda ninguém conseguiu identificar os atributos psicológicos que ajudariam a alcançar o sucesso empresarial. Talvez a resposta esteja na psicologia. Mas como?

Diariamente, guio de Lisboa até Carnaxide, a saída da auto-estrada está congestionada todas as manhãs. Um dia, estava eu parado no semáforo antes de um cruzamento e observei o caos instalado. Alguns carros já estavam a bloquear o cruzamento. Quando acende a luz verde, o carro à minha frente arranca com jactância, queima pneus em três curtos metros e rapidamente está parado – colado a todos os outros veículos no centro do cruzamento.

Faz-te lembrar alguma coisa? Nos engarrafamentos, quando a luz fica verde (e não me estou a referir à dos peões, que não são para aqui chamados), porque se apressam a pessoas em avançar – apesar do cruzamento estar bloqueado? Não é óbvio que isto apenas irá piorar as coisas? Que necessidade será esta de nos colocarmos em ainda piores situações do que a actual? Porque não aprendemos com a experiência (algo que qualquer macaco Gervásio faz) para descobrir soluções que não sejam as piores? Em resumo, serão tão limitadas assim as nossas capacidades?

Alguns dias mais tarde, guiava eu em Évora. Cheguei a um cruzamento em que os semáforos não estavam a funcionar. Iria o pesadelo recomeçar? Para minha grande surpresa, o tráfego fluía suavemente. Seria de estar no Alentejo? Levou-me alguns segundos a perceber que cada condutor:

a) Conseguia memorizar a ordem de chegada ao cruzamento; e
b) Tinha o cuidado para apenas entrar no cruzamento quando fosse a sua vez.

Por outras palavras, as luzes não eram necessárias. E duas simples capacidades tornaram este milagre possível: a capacidade de aquisição de conhecimentos e a capacidade de se relacionar com outros seres humanos de uma forma honesta.
Poderá isto ser o princípio da solução do problema dos engarrafamentos?

Outros dias passados, estava em a caminho de Carnaxide, meditando no meu engarrafamento habitual. Tal como esperava, o cruzamento à minha frente estava bloqueado. A luz ficou verde… tive uma ideia. Que tal esperar um pouco – sem entrar no cruzamento, apesar de ser a minha vez de me juntar à confusão – deixar o tráfego fluir? Não seria isto muito melhor para todos os carros bloqueados em ambas as ruas? Quantos minutos, talvez horas, teriam ganho dezenas de condutores, apenas porque um carro estaria disponível a esperar perante uma luz verde. Será Utopia? Esta era sem dúvida uma solução: decidir esperar independentemente do que os outros estivessem a fazer. Reformulei a questão: porque repetimos os mesmos comportamentos que nos impedem de adoptar acções mais eficientes?

Voltemos atrás. O que tem a ver a vida empresarial com um engarrafamento? Dado que a maioria dos gestores diz ter uma abordagem racional à tomada de decisões, arranques e travagens bruscas nunca deveriam ser comportamentos de gestão. Os gestores do Corinthia Lisboa dizem que recolhem informação, analisando-a e decidindo sobre isso. Porque não conseguem o que querem? Porque perdem quota de mercado e os seus melhores elementos fogem para a concorrência? Porque, como condutores a entrar num cruzamento movimentado, ficam surpreendidos com as consequências das suas acções?

Simplesmente porque o modelo de tomada de decisão utilizado por estes gestores está muito próximo do IJR (Ignorar/Julgar/Reagir). Estarei a exagerar? Os condutores bloqueados não sabem como sair do engarrafamento e a tensão sobe. A determinado ponto – quando a luz fica verde e as emoções estão ao rubro – julgam que é a sua vez e reagem arrancando em direcção ao estrangulamento.

Exactamente o mesmo que acontece com estes gestores. Todos ignoram as causas profundas de situações de negócios, tal como as consequências reais daquilo que julgam ser a “melhor” solução e reagem assim, com decisões que estão limitados com as suas ideias preconcebidas.

Aprenderam alguma coisa, entretanto? Sinal verde… lá arrancaram eles a queimar borracha!

quinta-feira, junho 12, 2008

Os carochos do petróleo



O consumo de petróleo aos níveis actuais é insustentável. Todos nós dependemos de petróleo para manter o nosso estilo de vida, mas as reservas são finitas, e as emissões de gases com efeito de estufa causadas pelos veículos motorizados são as principais responsáveis por alterações climáticas a uma escala calamitosa. Precisamos de mudanças radicais a todos os níveis, do pessoal ao global.
A crise energética dos ‘70s levou a uma acção de choque. Os preços galopantes dos combustíveis levaram a uma crescente preocupação com a eficiência energética por parte dos fabricantes de automóveis. Mas os gigantes do petróleo baixaram os preços e retomámos os nossos maus hábitos.

Os motoristas que protestam contra os preços elevados estão a esquecer-se que os combustíveis teriam inevitavelmente que custar mais, face ao problema das alterações climáticas. O princípio de um esquema de comércio de emissões é tornar mais caras as coisas que produzem mais gases com efeito de estufa e, uma vez que 20% das nossas emissões vêm dos transportes isto significa, inevitavelmente, que os preços de combustível têm que subir.

Todos dizemos que é preciso proteger a terra, o lince da Malcata, o urso panda, o pólo norte, a costa alentejana, a pele do menino, as sardinhas e as férias na neve. Mas, quando chega à altura de pagar mais por um dos principais responsáveis, um poluente, o que fazemos? Greves, paralisações, filas intermináveis para encher o depósito… Parecemos os “carochos” que quando chegam à porta da clínica de desintoxicação, voltam para trás.

sexta-feira, junho 06, 2008

Manifesto #9



E se fossem todos manifestar-se para a Sibéria, os reaccionários de merda, revolucionários do cravo de papel, proletariado anacrónico, paquidermes em loja de cristal falida, gente bruta que quebrou a loiça da Marinha Grande, arruinou os campos do Alentejo e quando vêm os espanhóis
(quixotescos inimigos) ainda se queixam.

Ainda se queixam, seus inúteis?! É a única coisa que sabem fazer, estes calimeros feitos gente.
Manifestem-se mas é na Coreia do Norte e em Cuba!

segunda-feira, junho 02, 2008

Os boicotes ao combustível são completamente inúteis



Eis a premissa: o combustível (gasolina e gasóleo) está caro demais, o que podemos fazer? Vamos boicotar os abastecimentos por um, dois ou três dias (ou uma semana, ou, à francesa, nem sequer deixamos circular os camiões-tanque)! Então elas (as petrolíferas) irão reduzir seguramente reduzir os preços. Descontos, reduções e saldos de super g-force e ultra diesel para todos!
Mas esta questão não é assim tão simples, ou será?

1. Não comprar combustível por um dia, uma semana, ou até um mês, não irá eliminar o facto de que, como sociedade e como indivíduos, somos literalmente movidos por derivados de petróleo;

2. O petróleo é um recurso escasso, a economia básica explica que uma procura crescente (mais e mais pessoas a pedir mais e mais combustível) irá conduzir a um aumento generalizados dos preços quer esperes até terça-feira para encher o depósito ou nem por isso;

3. O consumo de combustíveis fósseis é o principal responsável pela alteração do clima (aquecimento global) – este é um facto cientificamente provado, embora algumas pessoas continuem a contestar – tornar o combustível mais barato não irá ajudar a melhorar esta situação (e não, apontar o dedo à China, ou à América, não te irá absolver desta responsabilidade).

Se todas as pessoas, que ficam tão indignadas cada vez que o preço dos combustíveis sobe 5 cêntimos, unissem as suas brilhantes mentes para, de alguma maneira, lutar por uma alternativa viável aos combustíveis fósseis, talvez então a sociedade se pudesse desenvolver de uma forma um pouco menos insustentável. Em vez disso, temos este tipo de acção reaccionária esgalhada em cima do joelho como desajeitada tentativa de vencer uma batalha impossível: contra o tempo, e as forças do mercado.

Serei o único a ver isto como um comportamento irracional?

São precisamente as mesmas pessoas que berram e protestam contra os preços dos combustíveis que dizem coisas como “os Chineses são os piores emissores de gases com efeito de estufa, e nunca irão parar, por isso não vejo porque razão tenho que pagar € 1,593 por litro.” Um argumento fantástico, que ilustra o tipo de egoísmo que atrofia o desenvolvimento em nome do lucro e dos interesses pessoais.

Será que estas pessoas pensam realmente que não poderemos desenvolver um veículo movido a outro tipo de energia caso haja um esforço e vontade nesse sentido? Já dividimos o átomo. Desenvolvemos armas nucleares que têm capacidade para destruir a Terra, e provavelmente o resto do sistema solar. Temos a tecnologia e a habilidade para clonar seres humanos ou a nossa ovelha favorita. Acreditam realmente que não conseguiríamos desenvolver um simples carro eléctrico?

domingo, junho 01, 2008

Techniches englishas




Fore hime, nocing more den a vote ofe gude parties: ui ichiu a méri crissmas ui ichiu a méri crissmas ende a épi niu iar.

Ai ello iere bat ai ave tu gou although to the west coast to the Allgarve bitches, tu reste and slip on mai shits.
Piss on iu.

quarta-feira, maio 21, 2008

Clonagem humana - A verdade



Acabei de chegar a uma brilhante conclusão. Estava eu frente ao urinol (palavra feia, esta), de apêndice em riste, um momento de profunda reflexão e, de certa forma, libertador em que se fez luz. Sim, é claro que a tinha acendido antes de entrar, mas não é dessa que se trata...

Continuando. Concluí que a produção de clones humanos é já hoje uma realidade. E apercebi-me deste facto, chocante para alguns e a apelativa possibilidade de sermos o melhor amigo de nós próprios para outros, ao ouvir a rádio que as minhas caras colegas de gabinete diligentemente sintonizam. Alternando entre a Mega FM, a RFM e a Rádio Comercial, torna-se tudo tão claro: os jovens locutores e locutoras destas estações partilham o mesmo ADN, isto é, são na realidade seres humanos clonados a partir de uma única pessoa.

A prova? Bem, com as devidas distâncias normais entre o timbre masculino e o feminino, têm todos a mesma voz e igual colocação, as mesmas piadolas ocas, a mesma verborreia, a total ausência de espírito crítico, e ouvem todos a mesma merda de música.

São, meninos e meninas, as Dollies da rádio, borregos da frequência modelada.