Numa das piores piadas que o destino alguma
vez esgalhou, a sua avó morreu no dia das mentiras.
Recebeu o telefonema da sua irmã por
volta das 3 da madrugada – uma hora particularmente sádica devido ao facto de
teres de acordar e pensar por uns minutos antes que te venha a ideia que se
pode tratar da pior partida que alguma vez te pregaram.
"É a tua irmã," diz uma voz
que parece... de alguma forma, embargada. "Desculpa
acordar-te, mas não penso que pudesse esperar. A avó
morreu há uma hora atrás." Espera lá... ela estava a conter lágrimas? Ou
a tentar não se rir?
Ao início estava completamente atordoado,
e sem saber o que pensar ou dizer. Lembrava-se de alguma coisa da noite
anterior – qualquer coisa de hoje. Meu Deus. Como poderia ser a sua irmão tão
cruel? Será que não tem qualquer noção dos limites do humor?
"És doente," disse à irmã. "Como
podes fazer isto?"
"O quê?" disse a irmã. Soltando
o seu choro, e/ou riso. "A avó foi-se! Porque me dizes isso? Não sabes que
estou a sofrer?"
Ele começou a questionar-se. "Dia
das Mentiras?" perguntou timidamente.
"Não!"
Afinal não era piada. A sua avó tinha
mesmo morrido no Dia das Mentiras.
"Oh meu Deus, desculpa. Oh
meu Deus!"
"A ambulância acabou de sair da
casa. Queres vir cá?"
"Claro, sim. Vou
agora mesmo." Acorda a mulher e conta-lhe a notícia, a chorar. Ela faz o
melhor que pode para o consolar. Ela veste-se,
traz-lhe roupa e sai de casa para ir aquecendo o carro e mantê-lo confortável
até casa da sua avó.
Ele senta-se por algum tempo no escuro, pensando
sobre a sua avó, nos seus biscoitos favoritos, que uma vez – era ele um
adolescente rebelde – irritou-se, chamou-lhe um nome feio, correu para o quarto
e bateu com a porta. E ela comprou-lhe os biscoitos, olhou-o nos olhos e
disse-lhe que gostava muito do seu neto. Apercebe-se que, mesmo depois do que
aconteceu nesse dia, nunca lhe retribuiu a confissão. E agora ela
foi. Com carácter definitivo.
Ouve então a sua mulher lá fora,
"Oh não!"
"O que foi?" gritou de volta.
"O carro não pega."
Mal consegue falar. Como pode a vida ser
tão cruel? "Não pega? Estás a brincar comigo?"
Há uma pausa. E depois: "Dia das
Mentiras!"
Mas sim... a sua avó continuava morta.