quinta-feira, abril 06, 2006

Preciosa



A noite viva, a chuva silenciosa que vai do interior do homem até aos olhos, iluminando sombras, revelando beleza, como se ao morrer terminásse a morte, como sangue que se derrama. Tenho esperança de sonhar que amo, a minha carne será um dia como água corrente e o meu corpo silencioso.
A sombra converte-se em mistério, o último esquecimento morrerá com o homem, e a minha voz, e os meus olhos, tudo será divino ao perder a memória.
A dor insiste, mas não se acaba. A angústia queima-me os olhos, procuro a palavra precisa, eu ofereço-te a sombra, a paciência onde esqueço a espera, onde esqueço está angústia que não se move.

Ainda cai a chuva, escura como o mundo do homem, negra como a nossa carência, cega sobre cruzes. Um som como milhares de batimentos de coração em simultâneo, o som de pés sujos. No campo de sangue onde as pequenas esperanças são enterradas: o cérebro humano. Cai o sangue dos homens famintos.
No coração auto-exterminado, feridas de uma triste e incompreendida obscuridade, lágrimas de uma lebre abatida.

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