quinta-feira, agosto 31, 2006

Why don't you shoot that gun on me?



Se considerarmos que tem havido uma media de 160.000 tropas no teatro de operações do Iraque durante os últimos 22 meses, e um total de 2.112 mortes, isso dá um rácio de mortes por arma de fogo de 60 por cada 100.000 soldados.

O rácio de mortes por arma de fogo em Washington D.C é 80,6 por cada 100.000 para o mesmo período. Isso significa que tens 25% mais de possibilidades de ser alvejado e morto no Capitólio, que tem uma das leis mais restritas de controlo de armas, do que no Iraque.

Tudo isto nos leva a uma única conclusão possível: Os Estados Unidos deviam retirar de Washington imediatamente.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Uma certa água #1

O primeiro aviso foi um ruído, de manhã bem cedo, quando me inclinava para lavar os dentes sobre o lavatório. Pensei que fosse o jorro de água da torneira e não prestei muita atenção: por vezes esquecia-me de portas, janelas e torneiras abertas.
Fecho a torneira para ouvir, como todos os dias, o silêncio meio azulado das manhãs, com os rumores dos automóveis, poucos ainda. Mas o ruído continuava. Como uma pequena fonte: água clara na pedra – recordei (só um pouco, porque não havia tempo) passeios remotos.
Quando me agachei para atar o sapato percebi que o ruído vinha do solo e, ainda mais agachado, exactamente de dentro do meu próprio pé esquerdo. Voltei a prestar muita atenção, até achei agradável poder sacudir de vez em quando o pé para ouvir o ruído trazer mares, memórias. Quanto atei o sapato direito, voltei a ouvir o mesmo ruído e sorri para mim próprio no espelho.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Terna é a noite



Noite dentro existe o sonho, na manhã procura-se o significado, à tarde o sentimento. Na tarde existe o sentimento em que qualquer coisa descansa, qualquer coisa se acumula, existe resignação, reconhecimento, repetição.

A noite foge-nos ao controlo.

terça-feira, agosto 08, 2006

sexta-feira, agosto 04, 2006

Face ao Objecto

Agora estou sozinho em frente ao objecto. Aqui está sobre a mesa a garrafa por que procurei mais de 20 meses.

Por agora pego na garrafa, mas não a viro. Como posso bebê-lo? Em pé como um falso suícida, com o perigoso jogo nas mãos, arma de vidro e copo de veneno... Porque tenho medo de bebê-lo até ao fundo, medo de saber a que sabe, enquanto me cresce na boca o sabor, sal que tempera a vida. Ou será pimenta? Cravinho, amoras, beijos, pele húmida.

quarta-feira, agosto 02, 2006



A sua mulher, uma dessas chamadas “colunáveis”, era célebre pela sua obesidade precoce, que lhe valia o cognome de “Bola da Sebo”. Baixinha, toda ela gorda, um sabonete monstruosos de dedos sapudos, estrangulados nas falanges e parecidos com um bouquet de salsichas cocktail, de pele reluzente e um peito enorme que pareciam querer saltar da roupa, continuava a ser solicitada pela sua presença e frescura social. A sua cara parecia uma maçã corada, e lá dentro, em cima, abriam-se dois magníficos olhos negros, sombreados por pestanas espessas. Mais abaixo, uma boca encantadora, húmida para o beijo, adornada por um dentinhos reluzentes e microscópicos.