segunda-feira, outubro 09, 2006

Por um punhado de terra



Inclinou-se um pouco mais. Suava de febre e toda a sua testa brilhava de gotas. Eu pensava: “Está muito mal. Não tem dinheiro. Não se pode por bem porque não tem dinheiro. Se tens que morrer, não conheces ninguém. Vai morrer porque se morre em todo o mundo.”
Reuni três moedas de euro. Decidimos tomar um café.

Era um café vazio e mal iluminado. O balcão ficava ao fundo, fechando uma esquina, com o empregado mais velho sentado porque sofria do coração, e apenas se levantava para os clientes habituais. Outros três jogavam dominó. Chegavam os sons de um fado entre os golpes das peças no mármore.
Ficámos apenas um momento; o justo para tomar o café. Ao sair continuava tudo igual: o velho atrás do balcão, olhando para os seus pés inchados; os outros a jogar. A música e a luz pareciam ir a desaparecer. Vendo-os pela última vez, ficavam como uma má recordação, negra e triste. No passeio, debaixo das árvores, começou a queixar-se, e quiz-se sentar. Procurou uma árvore e, apoiado nas suas costas, desatou a chorar. Toquei-lhe a cabeça, ao baixar a mão caiu-me uma lágrima. Chorava sobre os seus joelhos, sobre os punhos fechados na terra.

4 comentários:

Anónimo disse...

Passei para deixar um beijinho.
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«`“•.¸.♥ Daniela ♥ ¸.•“´»
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Unknown disse...

Obrigado, Daniela.
Espero que tenhas passado um fim-de-semana pelo menos tão bom como o meu.

Beijos

Rita Pereira disse...

Que texto comovente. Quase sinto a dor e a tristeza das duas personagens.

Beijo l.gato :)

Unknown disse...

Obrigado. É bom quando conseguimos transmitir o que nos impressiona e mexe connosco.

beijo Serei(a)