terça-feira, novembro 20, 2007

Tempo de nada



O outono é a estação preferida dos convertidos. Detrás das folhas, por debaixo do dourado começam a trabalhar vermes invisíveis, mensageiros do inverno e do esquecimento. Desconfio da serenidade com que estas folhas esperam a sua inevitável queda, da sua vocação de pó e nada. Seremos assim como as folhas? Elas podem permanecer ainda uns instantes para testemunhar a condição do tempo; a derrota final dos mais altos destinos de verdura e estação. Há objectos que não viajam nunca. Permanecem assim, imunes ao esquecimento e às leis que impõem o uso e o tempo. Detêm-se numa eternidade feita de instantes paralelos. Esta condição singular coloca-os à margem da vida. Não os visita a dúvida nem o espanto.

O sono dos insectos é feito de metais desconhecidos que penetram até ao reino mais obscuro. Ninguém levanta a mão para alcançar aos breves astros que nascem. Cuidado. Uma ave desce e, atrás dela, a manhã.

No fundo do mar cumprem-se cerimónias lentas presididas pela quietude das matérias que a terra enviou há milhões de anos para o esquecimento das profundezas. Florescem os gestos desmaiados e o despertar das medusas. Como se a vida tivesse inaugurado uma face nova da terra.

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