quinta-feira, junho 25, 2009

Mapas



É curioso, vivemos a vida na primeira pessoa do singular mas, chegado o final, aparece-nos a opção de uma alteração do relato. Esta nova velocidade das coisas é a que nos permite então ver-nos de fora, ver-nos olhar, sentir-nos sentir, morrendo morrer. Talvez se trate do mais primário dos mecanismos de defensa ou do mais convincente dos placebos. Talvez por isso todos aqueles desesperados que dizem ter estado mortos e voltam para contá-lo insistem na imagem de si mesmos cada vez mais reduzida, ali abaixo. A pessoa como personagem, um espelho de carne e osso. O corpo como um plano, como um sem-fim de gráficos e cálculos. A escada de caracol do ADN, a medula como uma via láctea. O corpo visto como essas fotos tiradas a grande altitude - castanhos e verdes e azuis - que se utilizam para fazer os mapas.

2 comentários:

Anónimo disse...

...e as veias, semelhantes a rios, que precorrem e penetram a terra, estendendo-se para além do visível, como o mapa da nossa mente.

Unknown disse...

Sim, o que realmente interessa está muito para além do visível.