quarta-feira, setembro 06, 2006

Uma certa água #2

Ao abotoar as calças, senti o umbigo saltar como uma concha empurrada por uma onda mais forte e, logo, o mesmo ruído, agora mais nítido, mais alto. Sentei-me, passei a mão pela cara, prevendo a barba áspera por fazer, apenas esperava.

Levantei-me para ver a minha cara no espelho, as calças cairam sobre os sapatos desatados, e abri a boca. Foi então que a àgua começou a jorrar boca fora. Primeiro em gotas, depois em fluxos mais fortes, ondas, marés, até que um quase maremoto me arrastou para fora da casa-de-banho. Espantado, tentei agarrar-me ao corrimão da escada, cheguei a esticar os dedos, mas não havia dedos, apenas água derramando-se escadas abaixo, atravessando o corredor, a saleta de fotografias desmaiadas. Antes de chegar ao saguão pensei que seria bom, agora, não ser mais riacho, nem fonte, nem lago, mas um rio farto, caminhando em direcção à rua, talvez ao mar.

3 comentários:

Rita Pereira disse...

Gostei da tua historia. Também eu gostava de poder ser água e poder correr livre para o mar, ser esse o meu único objectivo. Era tudo tão mais fácil...

Beijo para ti l.gato

Unknown disse...

Mas tu já és uma Serei(a), a água é o teu elemento. O caminho para o mar nem sempre é um objectivo fácil.

beijos para ti, menina

Unknown disse...
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