quinta-feira, junho 29, 2006

Madrugada



Não esqueço a madrugada, o dia acabado de nascer, o lugar prestes a adormecer, a hora em que o teu olhar me encadeou.
Entreguei-me a esse olhar, às palavras ditas contigo nelas, à minha ansiedade.

Adormeci a pensar na beleza deste dia que assim começou.
Já o apanho, assim que acordar.

domingo, junho 25, 2006

Aconteceu-me

Ontem, ela disse-me que estava inspirado.
Como podia não estar, estando lá ela?

segunda-feira, junho 19, 2006

Parcela



Cumpri a minha parte de crueldade e destruição. Os efeitos do amor ou da ternura são fugazes, mas o do erro, os de um único erro, não acabam nunca, como uma doença sem cura. Li que nas regiões boreais, quando chega o inverno, a congelação da superfície dos lagos acontece de forma súbita, um golpe que cristaliza o frio, uma pedra atirada, uma pegada, um pé que salta fora dela e ao cair um segundo depois é aprisionado no gelo.

quarta-feira, junho 14, 2006

Obscuro

O amor não é senão a necessidade de sentir-se com outro, de pensar-se com outro, de deixar a insuportável solidão de quem se sabe vivo e condenado. E assim, procuramos no outro não quem o outro é, mas uma simples desculpa para imaginar que encontrámos uma alma gémea, um coração capaz de bater e quebrar o silêncio entre os latidos do nosso, enquanto corremos pela vida ou a vida corre por nós até acabarmos.

sexta-feira, junho 09, 2006

O grande dilema



No fundo, tudo se resume a este grande dilema que me atormenta: a Branca de Neve ou o pomar?

Tenho mesmo que escolher?

segunda-feira, junho 05, 2006

Fazer amor com uma ovelha vai contra tudo o que é masculino.



Bem, já conheci e até tenho alguns conhecidos ovinosexuais, incluindo campinos ribatejanos e um motard de Faro; muitos actores de teatro e de novelas também o são – com efeito, o Victor Espadinha era considerado o arquetipo do homem português (por alturas da Exposição do Mundo Português). Foi um grande choque quando confessou publicamente que o que mais gostava nas ovelhas não era o queijo! Então o que há de errado em todos estes homens que expressam o seu amor por ovelhas? O que há de horrível nisso? Uma sociedade que desvaloriza o amor, desvaloriza tudo aquilo em que se baseia uma sociedade civilizada – amor e compromisso.

Então isto é algo que os heterosexuais devem temer dos ovinosexuais? Bem, podem estar relaxados, todos os straight guys. Não têm nada com que se preocupar. A grande maioria dos ovinosexuais prefere ter sexo no mesmo ambiente emocional que vocês – como expressão de amor mútuo, afecto e comprometimento. Não os vão violar ou forçá-los a uma posição submissa. A maioria dos ovinossexuais não quer ter sexo com vocês porque procuram algo numa relação sexual apenas possível com uma ovelha – o amor e o afecto de uma parceira devota. Não têm nada que os temer, vocês não os atraem minimanente. Apenas uma minoria (e é uma muito pequena minoria – menos de 3%) que também gosta de sexo com heterosexuais percebe os vossos medos e não irão ter sexo a menos que fique claro que é de comum acordo e que não há qualquer tipo de impedimento para gritar béééé ao atingir o orgasmo.

sábado, junho 03, 2006

Aberração

“Qualquer desvio de outra pessoa relativamente aos nossos hábitos de pensamento, quando ainda não se lhe pode chamar demência.”
Dicionário do Diabo

quarta-feira, maio 31, 2006

Coisas de que eu me lembro #1

Lembro-me que, em tempos, conheci um anónimo.

terça-feira, maio 30, 2006

Critica-me isto!



Se, para além da nossa mãe, há algo em que podemos acreditar toda a nossa vida: os críticos de cinema são uma merda.
Não tenho qualquer tipo de problema com as suas opiniões sobre filmes, ou sobre o seu carácter como ser humano, mas tenho problemas com a sua capacidade de percepção completamente condicionada por tudo o que um crítico espera de um crítico. Na realidade, eles escrevem uns para os outros.
Eles é que a levam a direito. Fizeram um curso de qualquer coisa com uma boa média para uma universidade privada, usaram os seus dons de retórica para sacar gajas, beberam marcas de cerveja de que ninguém ouviu falar (conhecidas nas respectivas terras como “aquela merda que sabe a mijo de gato mas que os estrangeiros gostam de beber para se armar”), e acabaram finalmente num qualquer jornal dito de referência a criticar filmes para as massas ignorantes (nós, portanto).
O problema é que que estes grupos de comunicação social, estas corporações do anti Cristo, lavam-lhes a massa cinzenta e fazem-nos escrever tanto que não lhes sobra tempo para escrever algo que seja criativo e valha a pena ler. São forçados a assistir a horas sem fim de filmes por semana, sobre os quais é esperado que escrevam críticas com 2 a 5 centenas de palavras até à sua reforma.
O resultado deste abuso são centenas de páginas merdosas com dezenas de críticos de cinema a plagiarem-se uns aos outros e a escreverem a mesma merda de opinião. É claro que há uns poucos inconformados por aí. Se todos os outros dizem que o filme é uma merda, eles que é uma obra-prima.
Este espertos do demo descobriram que para serem notados se devem por à parte do esparguete popular, e fazer uma crítica completamente oposta ao que o povo anda a dizer. O povo gosta de dizer coisas, e de esparguete sobre-cozido com ketchup às costas. Estes génios do mal descobriram que o seu jornal dá valor a esta cruzada contra o gosto popular.
O problema é que estes críticos são acefalos. Na verdade, eles não têm qualquer opinião acerca do filme, e escrevem a crítica numa perspectiva que não a própria. E ainda piora, agora todo o crítico aprendeu isto, atirou a ética janela fora e começou a fazer o mesmo.

A solução para os críticos de cinema e suas opiniões de merda:

Não lhes dês atenção. Se és um adolescente imberbe, um rebelde que fuma charros, como podes não curtir o Tom Cruise a rebentar com tudo em seu redor? Não há nada mais divertido do que o som de um pescoço a quebrar para os poucos que têm a capacidade de ver a coisa de um ângulo completamente diferente. A percepção é tudo, e a maior parte dos críticos de cinema devia estar a coçar as hemorróidas na aula em que este conceito foi ensinado.
Se vais escrever uma crítica, primeiro aprende a ser original e criativo (não copies este texto como eu). Vê o filme de todos os ângulos possíveis, e percebe que a tua opinião é apenas isso. Irás então descobrir a tua independência como escritor que é livre de escrever o que bem lhe apetecer, e que podes finalmente e de uma forma honesta afirmar que todos os críticos de cinema são uma merda.

Cinema Descodificado

Fui ver o filme que lidera as bilheteiras nacionais. Nunca nenhum outro filme foi tão visto na primeira semana de exibição. Um livro milionário que se transformou em filme milionário. E os críticos de cinema não perderam a oportunidade de fazerem a criticazinha da praxe; a literatura descartável que pode, ou não, resultar num bom filme.

Pensei que fossem críticos de cinema, mas afinal também percebem de literatura! Porquê que tudo o que é mainstream tem de ser considerado mau pelos supostos intelectuais. Será que a democratização das ideias põe em causa o estatuto de iluminados da triste elite de intelectuais.

Fui ao cinema, não fui ver o filme, fui ao cinema, fui à sala que não tem pipocas distrair-me um bocado. Sem expectativas. Não gostei do filme, foi fraco, muito fraco. Gostei do livro, não o transformei na verdade absoluta da minha vida ou da minha crença religiosa. Foi importante ter uma perspectiva diferente do que veio pre-formatado da minha educação religiosa, dos sermões dos padres, do mistério divino. Descartável? Pôs uma população inteira a ler, numa sociedade em que a leitura está longe de ser um hábito corrente. Os líderes religiosos entraram em pânico, fizeram comunicados, palestras, proibiram, ameaçaram. Descartável?

Quando tantos milhares de portugueses se interessam por um tema tão controverso, é porque estamos no bom caminho. Descartável? Os críticos é que têm de descartar as ideias preconcebidas do que é descartável, não é desprezível uma curiosidade colectiva que provoca questões e discussões.

É pena a arrogância não ser destacável!