O 25º aniversário do pontificado do Papa foi celebrado com o aplauso de muitos conservadores.
Houve mesmo quem afirmásse que o Papa merecia o Nobel da Paz.
João Paulo II pegou numa instituição que começava a libertar-se das grilhetas de séculos de curteza de espírito e autocracia e tornou-a no que pode ser descrito como uma instituição totalitária.
Em 1958, João XXIII assumiu o papado. Meses depois pediu um “aggiornamiento,” uma “modernização” da igreja. As missas começaram a ser dadas nas línguas nativas. Aos padres, freiras e leigos era dada maior participação e autoridade. O Papa João convencionou um Concílio no Vaticano que acabou com séculos do que ele chamou de “santo isolamento” incentivando a igreja a participar na luta pela paz e justiça. O Vaticano chamou a esta nova igreja o “Povo de Deus”.
O Papa João XXIII morreu pouco tempo depois da convenção Vaticano II. Mas as reformas que ele iniciou tomaram raiz. Na África do Sul, os católicos desempenhavam um importante papel na resistência ao apartheid. Na América Latina, o fenómeno da ‘teologia da libertação’ levou a igreja até a milhões de pobres agricultores que tinha ignorado durante muito. Na Europa e América do Norte, as velhas hierarquias estavam a ser desafiadas, mas especialmente a hierarquia de género. Justiça e igualdade eram os temas em foco.
Vinte e cinco anos depois, desapareceu tudo.
João Paulo II participou nas reuniões do Concílio do Vaticano em 1960 e opos-se às mudanças. Assim que tomou o lugar quiz anulá-las. Para conseguir este objective, centralizou fortemente os poderes. As suas intervenções fizeram crescer uma oposição generalizada. Em 1989, mais de 300 eminentes teólogos europeus, incluindo alguns romanos, assinaram a Declaração de Colónia, que acusava o papa de “passar por cima e forçar de um modo inadmissível” as suas competências no campo do ensino da doutrina. Acusava-o de nomear bispos por tudo o mundo “sem respeitar as sugestões das igrejas locais e negligenciando os direitos estabelecidos.” Descrevia a retirada pelo Vaticano de teólogos qualificados do ensino, porque não gostava do que diziam, como “uma perigosa intrusão na liberdade de pesquisa e ensino.”
Nos anos 80, o teólogo francês Marie-Dominique Chenu afirma-o directamente. João Paulo regride para um “prototipo da igreja como uma monarquia absoluta.” Tal como os monarcas absolutos, o Papa João Paulo II recusa-se a ouvir o povo. Torna-se ainda mais agressivo. João Paulo II rebusca e amplifica a doutrina da ‘infalibilidade papal’ e beatifica o seu autor, Papa Pio IX.
Quando os bispos católicos mundiais se reuniam em Roma, todos os 5 anos, não era para debaterem entre si mas para receber a palavra do papa, e para serem questionados sobre alturas em que poderão ter sido pouco agressivos na defesa da doutrina da Igreja.
João Paulo II rapidamente criou uma linha contra aqueles que viram no Vaticano II uma abertura para democratizar a Igreja. Dentro da Igreja a sua liderança será lembrada como nada para além de autoritária.
Em 1979, o teólogo católico suiço Hans Kung, cuja licença para ensinar em instituições católicas foi revogada pelo Vaticano, afirmou que o novo papa, “tinha lançado uma estranha batalha contra as mulheres modernas que procuravam um modo de vida contemporâneo.” Desde então, o papa impediu a discussão da ordenação das mulheres. Até nos seus últimos dias o papa continuou a defender os seus arcaicos valores na Igreja. Um esboço recente de uma directiva do Vaticano baniria as raparigas do altar, eliminando assim uma das restantes áreas de participação permitida às mulheres. Os padres apenas podem permitir a ajuda de raparigas na missa se receberem uma autorização especial do bispo. Os padres, segundo o esboço, nunca devem sentir-se obrigados a recrutar raparigas.
Esta directiva também iria proíbir os Católicos Romanos de dançar ou até bater palmas nas suas igrejas. Iria proíbir os padres de citarem outros textos, nos seus sermões, que não os evangelhos.
O papa morreu, mas o seu impacto na Igreja irá continuar por muitos anos, porque serviu-se da sua longa e doentia permanência no trono não apenas para alterar o rumo mas para escolher a dedo aqueles que se tornarão os novos líderes da Igreja. O papa João Paulo II foi bem mais activo que os seus antecessores ao rechear a sede e filiais da Igreja com os seus homens.
Em 15 anos, o seu antecessor Paulo VI nomeou apenas 26 novos cardeais, mas em 25 anos o papa João Paulo II nomeou 226. Criou cerca de 500 santos, mais do que todos os papas dos últimos 4 séculos juntos. O papa João Paulo II nomeou mais de 70% de todos os bispos católicos, e todos excepto 5 dos 135 cardeais que irão escolher o seu sucessor.
Sim, de facto foi um papado com “apêgo extraordinário.” Um fardo que irá ser carregado na Igreja Católica por futuras gerações.
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