segunda-feira, novembro 19, 2012

Pedro e o Lobo. Mau?



Há não muito tempo disse-me alguém que era o seu restaurante favorito, o mais fashion, o mais “glamouroso”, que iria promover a paz mundial e o arrefecimento global e que era uma falha enorme eu nunca lá ter ido. Pronto, fui lá este sábado.

Pedro e o Lobo, o restaurante com dois chefs imberbes e alegadamente talentosos. Confesso que estava curioso. A sala de refeições é bonita e bem mobilada, apesar do excesso de luz artificial. A refeição? Consegue-se bem melhor pelo mesmo preço (Alma) ou mais baratos (Cantinho do Avillez, Tasca da Esquina, Ibo, Salsa e Coentros,…). As navalhas com pera e rabano eram de uma mediocridade confrangedora; os peixes (robalo, salmonete e bacalhau) apenas impressionaram pelo tamanho diminuto da dose; a carta de vinhos é curta e altamente inflacionada (nenhum tinto abaixo dos 22€). Uma pessoa não pode deixar de se sentir enganada.

Pedro e o Lobo. Mau? Não exageremos, digamos antes medíocre. É daqueles restaurante de moda, com imenso cachet e armado em gourmet. E é um restaurante a que não voltarei. Foi uma perda de dinheiro para toda a gente, incluindo para o próprio restaurante.

segunda-feira, setembro 03, 2012

Oslo, August 31st


Muito bom este filme: um actor extraordinário (Anders Danielsen Lie), fantástica a adaptação de um romance dos anos 30, excelente fotografia e realização (Joachim Trier). Sim, é sobre um toxicodependente; sim, é forte e triste; não, não acaba bem. E depois? A vida não é um sonho, se as pessoas se querem continuar a enganar-se, a tapar os olhos, a viver a vida como se estivessem entre o Canal Panda e o Sexo e a Cidade, então escusam de ir ver este filme. A opção é delas, mas nunca a minha.

sexta-feira, julho 06, 2012

Este Belcanto do Avillez



Agradeço desde já ao meu querido cunhado o convite para este fantástico jantar no Belcanto, o restaurante de José Avillez. “Não custa nada.” Claro que custa chef, não se atinge este nível para além da atmosfera assim por acaso.
Este é daqueles raros sítios em que há uma relação emotiva com as iguarias, e um chef que merece bem a reputação. O espaço é sóbrio, acolhedor, de um subtil e discreto bom gosto, além de revelar um enorme respeito pela história do local. Vamos então à refeição. Depois de uma excelente série de pequenas entradas para animar a boca, comi uma cavala marinada e braseada e, como prato principal, um salmonete com molho dos fígados e ovas vegetais. Terminou-se com uma sobremesa chamada Tangerina, com o citrino em diversas texturas e temperaturas. Tudo nada menos do que soberbo.
É óbvio que este nível de cozinha tem o seu preço e não será para todas as bolsas. Não o aconselho a quem não dê o devido valor ao que come ou que o faça apenas para encher o bandulho. É um mimo que me posso permitir oferecer (vá lá) uma vez por ano, mas isso sou eu e as minhas prioridades. Na realidade não se trata de comida óptima ou de um bom restaurante, é uma experiência que emociona.

quarta-feira, junho 27, 2012

As Furnas do Guincho


As Furnas do Guincho continuam a ser um dos restaurantes onde se come o melhor peixe do país (do mundo?). Isto para além de um óptimo serviço, informal e atencioso; e de uma decoração de muito bom gosto e a tirar partido da excelente localização bem perto do mar.

Abriram-se as hostilidades com umas belas ostras do Algarve, enquanto se esperava pelo momento alto do jantar: um majestoso robalo ao sal, arranjado e servido com mestria, que serviu de repasto à meia-duzia de convivas. Seguramente, um dos melhores peixes de sempre.

É caro? Para quem não souber apreciar devidamente a excelência de um peixe fresco, claro que sim. Obviamente, recomendo

terça-feira, junho 19, 2012

The morning after

"The morning after", Izumi Ueda Yuu
"Os meus olhos vêem, a minha mão toca; mas estas expressões ingénuas não traduzem a verdadeira experiência."

As marcas da instalação da Izumi Ueda Yuu. A resistência, a regeneração através do fogo. // The spot marks the footprints, the morning after Izumi's instalation. The resistance, the fire regeneration.

terça-feira, maio 29, 2012

Umai - A Oriente tudo de novo


Os chefs Paulo Morais e Anna Lins inspiram-se a Oriente, e muito bem por sinal. Depois de ter estado em Singapura e em Bangkok, é tão bom saber que posso encontrar o mesmo tipo de aromas e sabores por cá.

Entre os meus favoritos, destaco: o bacalhau fresco, beringela com molho miso, cogumelos grelhados, siu mai, gyosa e o sushi/sashimi. Um destaque especial para o usuzukuri com que gosto de terminar a refeição; uma espécie de carpaccio japonês sobre uma cama de gelo em que peixes como o lírio (um açoreano sazonal), "boca negra" (mais próximo do sabor da lagosta) ou a dourada atingem um nível próximo do nirvana.

Sou cliente habitual e continuarei a sê-lo. Obviamente, recomendo.

segunda-feira, abril 02, 2012

Dia das Mentiras: a sua avó está morta


Numa das piores piadas que o destino alguma vez esgalhou, a sua avó morreu no dia das mentiras.
Recebeu o telefonema da sua irmã por volta das 3 da madrugada – uma hora particularmente sádica devido ao facto de teres de acordar e pensar por uns minutos antes que te venha a ideia que se pode tratar da pior partida que alguma vez te pregaram.
"É a tua irmã," diz uma voz que parece... de alguma forma, embargada. "Desculpa acordar-te, mas não penso que pudesse esperar. A avó morreu há uma hora atrás." Espera lá... ela estava a conter lágrimas? Ou a tentar não se rir?
Ao início estava completamente atordoado, e sem saber o que pensar ou dizer. Lembrava-se de alguma coisa da noite anterior – qualquer coisa de hoje. Meu Deus. Como poderia ser a sua irmão tão cruel? Será que não tem qualquer noção dos limites do humor?
"És doente," disse à irmã. "Como podes fazer isto?"
"O quê?" disse a irmã. Soltando o seu choro, e/ou riso. "A avó foi-se! Porque me dizes isso? Não sabes que estou a sofrer?"
Ele começou a questionar-se. "Dia das Mentiras?" perguntou timidamente.
"Não!"
Afinal não era piada. A sua avó tinha mesmo morrido no Dia das Mentiras.
"Oh meu Deus, desculpa. Oh meu Deus!"
"A ambulância acabou de sair da casa. Queres vir cá?"
"Claro, sim. Vou agora mesmo." Acorda a mulher e conta-lhe a notícia, a chorar. Ela faz o melhor que pode para o consolar. Ela veste-se, traz-lhe roupa e sai de casa para ir aquecendo o carro e mantê-lo confortável até casa da sua avó.
Ele senta-se por algum tempo no escuro, pensando sobre a sua avó, nos seus biscoitos favoritos, que uma vez – era ele um adolescente rebelde – irritou-se, chamou-lhe um nome feio, correu para o quarto e bateu com a porta. E ela comprou-lhe os biscoitos, olhou-o nos olhos e disse-lhe que gostava muito do seu neto. Apercebe-se que, mesmo depois do que aconteceu nesse dia, nunca lhe retribuiu a confissão. E agora ela foi. Com carácter definitivo.
Ouve então a sua mulher lá fora, "Oh não!"
"O que foi?" gritou de volta.
"O carro não pega."
Mal consegue falar. Como pode a vida ser tão cruel? "Não pega? Estás a brincar comigo?"
Há uma pausa. E depois: "Dia das Mentiras!"
Mas sim... a sua avó continuava morta.

sexta-feira, março 23, 2012

Salsa & Centros


Mais um jantar memorável no Salsa & Coentros. Um dos melhores de Lisboa, não desfazendo nos raros demais. A perdiz com couve lombarda estava perfeita: desossada e desfiada, com o tempero em ponto de rebuçado e envolta em deliciosa lombardia. O intercambio de sabores entre a ave e o legume resulta em casamento feliz e duradouro.

Este e outros pratos foram acompanhados com um Churchill's Estate, Douro tinto 2008, cuja 1ª garrafa brilhou e elevou a qualidade do repasto.

Obviamente, recomendo.

sexta-feira, março 16, 2012

Tomba Lobos, Portalegre


Lacão assado no forno, Chef Júlio Vintém
Fomos em direcção a Portalegre com óptimas referências do Tomba Lobos e já com uma mesa reservada para almoço. Chegámos até um pouco cedo demais mas não fomos nada mal recebidos por isso, antes pelo contrário. Lá estava uma bela mesa com vista sobre o jardim.

Vieram então uns “peixinhos da horta” para a mesa. Na realidade, era mais tempura que peixinho: uma massa fina e estaladiça a envolver feijão-verde, cebola, pimento, … uma óptima e deliciosa surpresa. Deliciosos também o queijo de cabra artesanal e o carpaccio de bacalhau. Nas iguarias principais, as pataniscas finas e estaladiças estavam bastante honestas, embora as migas que as acompanhavam pudessem ser um pouco mais interessantes (de hortelã? tomate?). Veio também um lacão de porco assado no forno para a mesa e aqui é que a coisa rebentou a escala: o joelho do bacorinho é desossado e submetido a uma cozedura para amaciar a carne (as minhas desculpa ao chef Júlio Vintém se estou a induzir em erro), é depois panado com pão ralado e vai ao forno apenas o tempo suficiente para criar uma crosta estaladiça e consistente. Nada menos que perfeito.
Acompanhou-se com vinho tinto da região: Pedra Basta e Terrenus, ambos do enólogo Rui Reguinga. Vinhos sugeridos pelo simpático e eficiente serviço de sala e que se revelaram óptimas escolhas.

Saímos de lá conquistados e com intenções de regresso. Obviamente, (re)comendo.

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Foi Bocca


Tinha já ouvido falar muito do Bocca e as minhas espectativas eram as melhores. Levaram-me lá e não me convenceu. É restaurante de frieza armada em chique, com empregados a condizer; a qualidade das iguarias é de facto muito boa, mas de parca quantidade e de preços inflacionados; a muito gabada carta de vinhos é de facto impressionante mas está longe de ser a melhor, falta-lhe equilíbrio (o tinto mais barato custa 22€).

Comeram-se umas ostras de entrada, saborosas e frescas mas nada que justificasse os 3,50€/cada. Depois chegaram as minha vieiras (tão somente duas) sobre um risotto de marisco, agradaram e comeria outras duas se não tivesse de recorrer ao FMI; de qualquer maneira, em nada superiores às belas vieiras do Ibo. Provei o curto filete de corvina a baixa temperatura com xerém de ostra da minha Maria e também me agradou mas, mais uma vez, nada que justificasse o preço. Acompanhou-se com um Vinha do Almo Escolha 2008, um discreto alentejano com aroma de frutos secos, de sabor interessante e com taninos macios.

Foi Bocca.

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Nonsense I


Bem-vindos ao parque onde eu a levei até ao rio, para falar sobre gregos, sexo e David Lynch. Cigarros descartados do verão passado drenados de sarjetas para a água de peixes saudáveis. A sua cabeça eclipsou o sol, mas ainda estava tudo tão vibrante na minha visão periférica. Não conseguimos dançar buzinas e autocarros, fomos então dormir na relva do outro lado.