quinta-feira, junho 16, 2005

Kerman

Uma cidade à beira do deserto, mais perto do Afeganistão e Pakistão, na rota do ópio.

A população mudou completamente, são mais pobres, com o olhar mais pesado. Na habitual visita ao mercado da cidade senti-me desconfortável e reparei que um homem de mala nos seguia... BRRRRRR... Mas isso não me impediu de comprar umas sementes para misturar com o chá preto.

Ontem fui ver um pôr do sol nas montanhas, não resisti em tirar várias fotografias em contra luz. Eu sei que provavelmente o filme ficou queimado, mas não resisti!

Hoje o destino foi Reyan, uma cidadela a 100 km de kerman, e toda feita de lama das montanhas e é uma pequena amostra do que foi Bam (cidade completamente destruida no sismo de 2003).

O próximo destino será o deserto, dois dias de caminhada e a dormir em tendas com a população nómada.

Amanhã é também o dia das eleições. Não percebo muito de marketing político mas parece-me que eles ainda têm muito que aprender, ou será uma questão cultural? As fotografias raramente são de frente, parece que os candidatos estão sempre a olhar para muito longe, não transmitem confiança nem seguranca, só distância.

Comida iraniana

A especialidade e kebab, ou seja, espetadas de carne com arroz basmati. Como fiquei logo enjoada de carnegrelhada comecei a aventurar-me no menu. Frango com nozes e qualquer outra coisa preta. Beringela de todas as formas mas sempre com iogurte. Sopa de especiarias e lentinhas (tambem misturei com iogurte - nao e um costume iraniano).

No primeiro dia comi dizi, no guia vinha a expressao: if you dare... Pois e um genero de cozido a portuguesa feito em sopa de tomate, o caldo e bebido e a carne amassada com um pilao. A pasta fica com um sabor unico, vale pela experiencia.

Porque a hora da refeicao tambem e uma experiencia social, ja comi pizza duas vezes. Os iranianos sao doidos por pizza e eu tambem gosto desta pizza, e mesmo diferente.

A minha perdicao e o pao, em todo lado ha padarias com pao sempre a sair, o pao tipo papel, o pao com sementes de flores da montanha, o pao com ervas aromatica, o pao...

E assim vou ficando com curvas mais redontas, aquilo que se pretende esconder por estes lados!

terça-feira, junho 14, 2005

Coisas

Hoje bebi sumo de cenoura com gelado de rosas, comi beringela com iogurte cozido e cortei a franja pela segunda vez desde que sai de Lisboa.

Amanhã o caminho continua para sul, 40 graus, calças, túnica, lenço, meias, tenis... Muitos litros de chá...

E sem dúvida A VIAGEM...

Yazd

É uma cidade fantástica e muito religiosa, todas as mulheres andam de chador (véu preto até aos pés). O meu lenço cor de rosa é um sucesso, umas mulheres riem, outras não conseguem esconder o espanto. Os homens fitam-me de uma forma estranha, sempre nos olhos, ja aprendi a baixar o olhar.

Segundo a UNESCO, Yazd é a cidade mais antiga no mundo, as construções são feitas em tijolos de areia do deserto e lama das montanhas. Chove uma vez por ano e conta-se que na última vez que nevou as pessoas bateram palmas e correram para a rua para apanharem o que julgavam ser flocos de algodão.

Tudo tem cor de areia menos os pequenos oasis caseiros ou públicos e as mesquitas cobertas de azulejos coloridos.

O hotel é um jardim rodeado de quartos. À noite sabe bem olhar as estrelas, num tapete persa cheio de almofadas, ouvir a água da fonte e as rezas cantadas ao longe. Ramalah Ali ba ba.... Ripata la la... Mohammed... Akiteti la la.

Kasham-Yazd Um dia na estrada

Olhamos para as montanhas e ficamos perdidos na imaginacão de histórias que não são nossas, 'o quadro negro', ' o tempo para cavalos bêbados'... A vegetação é quase inexistente, é um deserto de pedra, uma paisagem agressiva que nos entra pelos olhos.

Durante a manhã passamos em Abyaneh uma vila feita de lama no meio da montanha. Como seria de esperar metade das casas estão em ruinas e não é da gerra! É um local cheio de mistério, habitado por velhotes com trajes coloridos e rodeado de montanhas com pequenas grutas (buracos) que eram casas em tempos já esquecidos.

Ainda passamos em Natanz para visitar mais uma mesquita. Aqui cometi o segundo crime, o lenço deslisou e eu nao reparei... Entretanto apareceu um Ali... Nao aconteceu nada...

Tenho um lenço cor de rosa novo

É verdade, é macio e fresco. O que tinha trazido de Lisboa fazia comichão, impedia-me de ouvir bem e fazia barulho quando eu comia.

Posso olhar para todos os lados e toda a gente, menos para a polícia, são maus, já os vi a insultar uma mulher por andar com os tornozelos descobertos (era iraniana).

Teheran é uma cidade caótica, o planeamento urbanístico é uma piada de mau gosto e o trânsito um desafio à nossa inteligência, onde estão 3 faixas eles fazem 4, nos cruzamentos mais vale fechar os olhos...

Os únicos interesses da cidade são os museus e a montanha, mas para quem está num país tão exótico o impulso é de andar na rua a sentir a dinâmica da cidade.

Em Qom, um dos princiapis centros religiosos do país, tive de usar um segundo véu ate aos pés para visitar a grande mesquita.

Em Kasham , o Ramalah do hotel veio para a nossa mesa com duas garrafas de cerveja sem alcool, dissimuladamente misturadas com alcool caseiro muito manhoso. Passados 10 minutos o ramalah estava com os copos a recitar poesia. Foi a minha primeira ilegalidade.

domingo, junho 12, 2005

Ja ca estou

A chegada ao aeroporto foi algo traumatica. Senti imediatamente um destinto cheiro a chamussa! Chamussa no Irao?

Fui logo obrigada a por um lenco na cabeca e no meu primeiro dia de passeio fui educadamente aconselhada a comprar roupa mais comprida e lencos maiores. Sabia ao que vinha, mas agora sinto uma certa revolta...

A cidade e feia e agora vou para o campo.

quinta-feira, junho 09, 2005

É já amanhã

Por esta hora amanhã, já estarei em Paris a fazer escala a caminho de Teheran.

Perdi o entusiasmo, não me apetece ir simplesmente. É a habitual resistência à aventura misturada com a aversão aos costumes islâmicos. Parecia simples, mas agora que se aproximam os dias de 30/40 graus e eu tapada da cabeça aos pés, com um véu, sem poder mostrar os tornozelos, calças só com camisas que tapem as ancas e nos templos o traje terá de ser completo, negro, comprido, largo, quente...

Já estou habituada a esta resistência à partida, amanhã já sei que tudo terá um sabor diferente. Pelo menos desta vez vou dormir em hotéis, com camas... A aventura vai ser enganar a polícia dos costumes.

quarta-feira, junho 08, 2005

Limites


just walk Posted by Hello

O amanhecer, a chuva que espera pelo acordar, a chegada do calor, temos todo o tempo.

Na minha mente, um segredo desfeito. Encontro-te com um começo; a vida – uma circunferência da qual fazia parte e consegui abrir. Estou agora num espaço aberto, a perder de vista, com a forma do desejo e os limites de um sentimento que penso não ter fim.
Há outro céu, ainda mais tranquilo, e outro nascer de sol; algures, uma pequena praia.

Pudesse eu...

Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes

Sophia de Mello Breyner
(é um poema da minha vida, juntamente com os olhos de isa)