quarta-feira, dezembro 14, 2005

Sala 2



Tudo está pronto e preparado para o corte. As facas fumegam. O abdomen marcado. Debaixo dos panos brancos há algo que geme.
“Sr. Dr., está tudo pronto.”

A primeira incisão, como se abre um pão. “Pinças!” Algo púrpura começa a sair. Mais profundo. Os músculos: húmidos, brilhantes, frescos. Há um ramo de rosas na mesa?
É pus o que salta? Terão cortado o intestino? “Dr., se se põe em frente à luz, nem o demo pode ver o diafragma. Anestesia, não consigo operar, o homem que vá passear mais o seu estômago.”

Silêncio pesado. Cai uma tigela de inox no azulejo, a enfermeira oferece bolas de algodão esterelizadas. “Não consigo encontrar nada nesta porcaria!” O sangue escurece. “Tire-me a máscara!” Por fim. “O ferro em brasa, enfermeira!”

“Por esta vez tiveste sorte. A coisa estava a ponto de rebentar. Estás a ver esta pequena mancha verde? Mais três horas e o estômago enchia-se de merda.”
Barriga fechada, pele cosida. “Bom dia, meus senhores.” A sala esvazia-se. A morte escorre para outra sala.

3 comentários:

black_bri disse...

Puxa, fiquei impressionada. Estou sem palavras.

Unknown disse...

Eu custumava ver o ER... nota-se?

black_bri disse...

Nota-se um pouco porque eu também via. Vai na volta um dia destes ainda conseguimos fazer nós a série. ah ah ah ah