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Horto
homens cegos procuram a visão do amor
onde os dias ergueram esta parede
intransponível
caminham vergados no zumbido dos ventos com os braços erguidos - cantam
a linha do horizonte é uma lâmina
corta os cabelos dos meteoros - corta
as faces dos homens que espreitam para o palco
nocturno das invisíveis cidades
escorre uma linfa prateada para o coração dos cegos
e o sono atormenta-os com os seus sonhos vazios
adormecem sempre
antes que a cinza dos olhos arda
e se disperse
no fundo do muito longe ouve-se
um lamento escuro
quando a alba se levanta de novo no horto
dos incêndios
prosseguem caminho
com a voz atada por uma corda de lírios
os cegos
são o corpo de uma fogo lento - uma sarça
que se acende subitamente por dentro
Al Berto
Este poema é uma metáfora do sentir. Todos somos cegos. Cegos quando não sentimos, cegos quando não seguimos o que sentimos.
Hoje sei que fui cega ontem. Amanhã provavelmente vou descobrir que continuei a ser cega hoje.