No fundo somos um blog de conversas de sofá, é o que nos apetece no momento. Cuidado para não entornar o copo de vinho tinto. Põe a música mais alta. Hummmmm, tiramisu...
segunda-feira, maio 30, 2005
Metamorfose
bug #3
Vivemos imersos sem sentir o país, as nossas palavras esfumam-se a dez passos.
Com dedos grossos, gurdurosos como vermes, e palavras pesadas, certas; os insectos aninham-se nos seus olhos, agarram-se com tentáculos que brilham.
A classe política: julgam e servem-se de gente mediocre.
A minha feira
A familiaridade da capa (talvez de outras feiras) e a recomendação no blog Havana sonha em Marrakech levou-me a comprar e saborear o Quiosque da Utopia. Vibrei com o homem que queria o sonho dos outros, ri com a revista mais lida, quase me identifiquei com o compilador de coincidências e idealizei a minha própria utopia.
Também comprei e li a Biblioteca de Zoram Zivkovic (Cavalo de Ferro), um livro de contos sobre livros, personagens estranhas em situações surrealistas.
“É estranho como o ser humano aceita com facilidade o impossível quando este deixa de o surpreender.”
Continuo a ser surpreendida por livros assim, que aparecem numa barraquinha de gelados ou na caixa de correio sem serem anunciados.
Também comprei e li a Biblioteca de Zoram Zivkovic (Cavalo de Ferro), um livro de contos sobre livros, personagens estranhas em situações surrealistas.
“É estranho como o ser humano aceita com facilidade o impossível quando este deixa de o surpreender.”
Continuo a ser surpreendida por livros assim, que aparecem numa barraquinha de gelados ou na caixa de correio sem serem anunciados.
sexta-feira, maio 27, 2005
get lost
quarta-feira, maio 25, 2005
terça-feira, maio 24, 2005
Terça-feira
É terça-feira, feira da ladra, concerto dos Duran Duran, e a lua continua gordinha, mas 10 minutos atrasada. “Girls on Film”, claro que vou levar a minha Lomo das cores.
Fala
death
Falava como nunca tinha falado ou como falava desde que a conheceu, como lhe falava num furioso impulso que tornava transparente a sua definitiva opacidade. Às vezes de pé, às vezes ajoelhado. Tanta frase gritada! Ao amanhecer, quando partiu o cortejo, falaram-lhe contudo falando, mas já em voz baixa e descendente como um segredo que segue cansado para lá do tempo e da razão. E assim foi como ele falou, aquela vez; até sentir o frio e olhar longe.
segunda-feira, maio 23, 2005
Arriba Natural Destruída
Este fim de semana choquei com um notícia muito triste. Uma arriba natural em Albufeira foi destruída, onde foi construído um caminho, com cerca de 200 metros, por uma máquina escavadora durante a noite do passado dia 10 de Maio.
Mas nem tudo são más notícias. Felizmente a empresa (Multivolume - Investimentos Imobiliários SA) tem um projecto que prevê a construção de uma unidade com 278 camas, mais postos de trabalho, mais desenvolvimento económico, mais turismo. Curiosamente o alvará de espaço público foi alterado há dois anos para poder ser construído um hotel. É bom saber que as coisas correm depressa no nosso país.
A outra boa notícia é que a arriba vai ser reconstruída, já estou a imaginar a nova arriba feita em betão, perfeitamente enquadrada com o resto da paisagem.
Queremos desenvolvimento económico sustentado, queremos fazer parte da Europa, queremos oferecer turismo de qualidade, queremos qualidade de vida e deitamos fora o que temos de mais precioso: os Recursos Naturais!
Fiquei triste porque sinto que pedaços de magia vão sendo destruídos, que em breve não existirá a praia, a arriba, o parque natural, animais livres, o mar com o verde...
Mas nem tudo são más notícias. Felizmente a empresa (Multivolume - Investimentos Imobiliários SA) tem um projecto que prevê a construção de uma unidade com 278 camas, mais postos de trabalho, mais desenvolvimento económico, mais turismo. Curiosamente o alvará de espaço público foi alterado há dois anos para poder ser construído um hotel. É bom saber que as coisas correm depressa no nosso país.
A outra boa notícia é que a arriba vai ser reconstruída, já estou a imaginar a nova arriba feita em betão, perfeitamente enquadrada com o resto da paisagem.
Queremos desenvolvimento económico sustentado, queremos fazer parte da Europa, queremos oferecer turismo de qualidade, queremos qualidade de vida e deitamos fora o que temos de mais precioso: os Recursos Naturais!
Fiquei triste porque sinto que pedaços de magia vão sendo destruídos, que em breve não existirá a praia, a arriba, o parque natural, animais livres, o mar com o verde...
Wind #19
Lua Cheia
Miradouro do Adamastor, pôr do Sol, nascer da Lua. Depois um copo de vinho no animatogarfo...
sexta-feira, maio 20, 2005
Armageddon #1
Evitar o terrorismo largando bombas no Iraque foi uma ideia tão óbvia que até me espanto de ninguém ter pensado nisso antes.
É tão simples, um autêntico ovo explosivo (in your face) de Colombo. Se a Espanha tivesse feito algo semelhante a Portugal, não estaríamos no caos em que estamos actualmente.
No momento em que o Governo bloqueou a compra do Totta pelo Santader (a primeira tentativa), o Governo Espanhol devia ter declarado a sua Guerra ao Terrorismo.É sabido que a melhor maneira de apanhar terroristas é voar a 30 mil pés acima da capital que os abriga e largar bombas – de preferência bombas de fragmentação. O bombardeamento de Lisboa talvez provocasse alguns protestos, quanto mais não fosse ali para o Largo do Caldas, e há até alguma probabilidade de crescer um sentimento anti-espanhol no que restasse da cidade e como tal um aumento dos potenciais terroristas (para além dos actuais que se concentram em Chelas). Mas este facto justificaria por si a táctica do bombardeamento.
Espero que estejam a acompanhar o meu raciocínio.
É tão simples, um autêntico ovo explosivo (in your face) de Colombo. Se a Espanha tivesse feito algo semelhante a Portugal, não estaríamos no caos em que estamos actualmente.
No momento em que o Governo bloqueou a compra do Totta pelo Santader (a primeira tentativa), o Governo Espanhol devia ter declarado a sua Guerra ao Terrorismo.É sabido que a melhor maneira de apanhar terroristas é voar a 30 mil pés acima da capital que os abriga e largar bombas – de preferência bombas de fragmentação. O bombardeamento de Lisboa talvez provocasse alguns protestos, quanto mais não fosse ali para o Largo do Caldas, e há até alguma probabilidade de crescer um sentimento anti-espanhol no que restasse da cidade e como tal um aumento dos potenciais terroristas (para além dos actuais que se concentram em Chelas). Mas este facto justificaria por si a táctica do bombardeamento.
Espero que estejam a acompanhar o meu raciocínio.
Come Armageddon, come!
Será difícil encontrar uma controvérsia católica nos últimos 20 anos que não envolva, de algum modo, Joseph Ratzinger. Parte disso é a própria natureza da função, mas mais nenhum elemento comptemporâneo da Congregação para a Doutrina da Fé – e talvez nunca – tenha gozado do estatuto de Ratzinger ou do seu centralismo na vida da igreja.
Ele e João Paulo eram homens que acreditavam que as ideias tinham peso, Ratzinger perseguiu o que considerava serem ideias perigosas. Se as suas tácticas e as suas certezas absolutas, ao fim ao cabo é o suposto representante de deus na Terra (apesar de nunca alguém ter visto a procuração que o determina), são ou não mais perigosas do que as ideias que ele tentou suprimir é uma questão que será respondida nos tempos que se aproximam.
Ele e João Paulo eram homens que acreditavam que as ideias tinham peso, Ratzinger perseguiu o que considerava serem ideias perigosas. Se as suas tácticas e as suas certezas absolutas, ao fim ao cabo é o suposto representante de deus na Terra (apesar de nunca alguém ter visto a procuração que o determina), são ou não mais perigosas do que as ideias que ele tentou suprimir é uma questão que será respondida nos tempos que se aproximam.
quinta-feira, maio 19, 2005
Islão
Esta semana ouvi uma história intrigante, uma conhecida minha converteu-se ao Islamismo. Fiquei tão curiosa em saber porquê que uma mulher ocidental, com acesso a informação e liberdade de expressão física opta por se converter a uma religião que começa por impor restrições na forma de vestir e coloca as mulheres na base da hierarquia social.
Confesso que me impressiona qualquer atitude extremista face a religião, desde o padre que diz que é preferível matar uma criança de 5 anos ao aborto até aos muçulmanos que estão dispostos a sacrificar a sua vida a favor de uma crença.
Não deixa de ser irónico o facto de a fonte de salvação ser também uma grande causa de morte por esse mundo fora.
Confesso que me impressiona qualquer atitude extremista face a religião, desde o padre que diz que é preferível matar uma criança de 5 anos ao aborto até aos muçulmanos que estão dispostos a sacrificar a sua vida a favor de uma crença.
Não deixa de ser irónico o facto de a fonte de salvação ser também uma grande causa de morte por esse mundo fora.
beauty #8
quarta-feira, maio 18, 2005
O tempo
Tarde
terça-feira, maio 17, 2005
Se nos encontrarmos de novo
Um livro poético, uma história de amor da escritora portuguesa Ana Teresa Pereira, que representou, para mim, uma mudança inesperada de sentido, de força, de crenças e de esperança.
No antes, a vida andava mais cinzenta, mais triste, a razão ia ganhando terrenho à minha capacidade de sentir. Parecia que os velhos dilemas da adolescência voltavam para redescobrirem respostas apoiadas na razão. A minha velha frase, sempre dita com desfaçatez, voltava a martelar na minha cabeça: o amor não passa de um bug do sistema operativo. A crença, confusa e racional, de que a consciência humana é uma ilusão, que não passa de uma armadilha da mente para acreditarmos que somos mais que máquinas biológicas, o Ghost in the machin.
O livro falou-me de amor, do amor entre duas pessoas que não se entregaram a sentimentos não absolutos, que esperaram um pelo outro, mesmo sem saberem o que o destino lhes reservava, que não tiveram medo da solidão porque o seu íntimo era maior que qualquer companhia não inteira.
É bonito o amor...
Enquanto alguém acreditar que o amor existe eu também posso acreditar.
Foi assim que entrei no mundo da Iris Murdoch para não querer voltar a sair.
No antes, a vida andava mais cinzenta, mais triste, a razão ia ganhando terrenho à minha capacidade de sentir. Parecia que os velhos dilemas da adolescência voltavam para redescobrirem respostas apoiadas na razão. A minha velha frase, sempre dita com desfaçatez, voltava a martelar na minha cabeça: o amor não passa de um bug do sistema operativo. A crença, confusa e racional, de que a consciência humana é uma ilusão, que não passa de uma armadilha da mente para acreditarmos que somos mais que máquinas biológicas, o Ghost in the machin.
O livro falou-me de amor, do amor entre duas pessoas que não se entregaram a sentimentos não absolutos, que esperaram um pelo outro, mesmo sem saberem o que o destino lhes reservava, que não tiveram medo da solidão porque o seu íntimo era maior que qualquer companhia não inteira.
É bonito o amor...
Enquanto alguém acreditar que o amor existe eu também posso acreditar.
Foi assim que entrei no mundo da Iris Murdoch para não querer voltar a sair.
evil / sin
O pecado é uma tentativa de obter prazer e saber que não existem e que nunca nos foram dados. Um assassino não é necessariamente um pecador. Mas o pecador é por vezes assassino.
Se o bem e o mal estão igualmente fora do alcance do homem contemporâneo, do homem corrente, social e civilizado, o mal distingue-se pelo sua profundidade. O santo esforça-se por recuperar um dom perdido, o pecador persegue algo que nunca possuiu.
Se o bem e o mal estão igualmente fora do alcance do homem contemporâneo, do homem corrente, social e civilizado, o mal distingue-se pelo sua profundidade. O santo esforça-se por recuperar um dom perdido, o pecador persegue algo que nunca possuiu.
Quem anda nos meus olhos
Quem anda nos meus olhos
A querer salvar o mundo
Com espadas de lágrimas?
És tu D. Quixote, e vou matar-te.
Quem anda na minha sombra
A arrastar a armadura negra
Do Cavaleiro da Resignação
És tu D. Quixote, e vou matar-te.
Quem anda na minha'alma
A querer estrangular gigantes
Com mãos de adormecer lírios?
És tu D. Quixote, e vou matar-te.
Quem anda na minha ira
A enterrar punhais de solidão
Nos monstros dos Desvios Nevoentos?
És tu D. Quixote , e vou matar-te.
Quem anda no meu sonho
A ressuscitar filhos mortos nos regaços,
Para morrerem outra vez de fome?
És tu D. Quixote, e vou matar-te.
Quem anda na minha voz,
A iludir-me de clangores de peleja
Na cidade dos inimigos trocados?
És tu D. Quixote, e vou matar-te.
Sim, matar-te
Para nunca mais sentir na cara
o frio de lâmina das tuas lágrimas
E ficar diante da vida,
Terrível e seco
De mãos nuas- à espera de outras mãos de algum dia,
Suadas da camaradagem do mundo novo.
José Gomes Ferreira
A querer salvar o mundo
Com espadas de lágrimas?
És tu D. Quixote, e vou matar-te.
Quem anda na minha sombra
A arrastar a armadura negra
Do Cavaleiro da Resignação
És tu D. Quixote, e vou matar-te.
Quem anda na minha'alma
A querer estrangular gigantes
Com mãos de adormecer lírios?
És tu D. Quixote, e vou matar-te.
Quem anda na minha ira
A enterrar punhais de solidão
Nos monstros dos Desvios Nevoentos?
És tu D. Quixote , e vou matar-te.
Quem anda no meu sonho
A ressuscitar filhos mortos nos regaços,
Para morrerem outra vez de fome?
És tu D. Quixote, e vou matar-te.
Quem anda na minha voz,
A iludir-me de clangores de peleja
Na cidade dos inimigos trocados?
És tu D. Quixote, e vou matar-te.
Sim, matar-te
Para nunca mais sentir na cara
o frio de lâmina das tuas lágrimas
E ficar diante da vida,
Terrível e seco
De mãos nuas- à espera de outras mãos de algum dia,
Suadas da camaradagem do mundo novo.
José Gomes Ferreira
segunda-feira, maio 16, 2005
evil / live
let be light
Os grandes, tanto no bem como no mal, são os que abondonam as cópias imperfeitas e se dirigem para os originais perfeitos.
Para mim não existe a menor dúvida, os maiores entre os santos jamais fizeram uma “boa acção”, no sentido comum da palavra.
Por outro lado, existem homens que desceram até ao fundo dos abismos do mal e que, em toda a sua vida, não cometeram o que vocês chamam de “maldade”.
Saraband
Fui Finalmente ver o filme influenciada por um jantar animado na quinta-feira passada, quando um amigo me disse que o Ingmar Bergman era um dos realizadores com maior capacidade de abalar os sentidos. Eu achei terrível, deprimente em todas as suas formas.
É a história de um casal que esteve separado durante 30 anos e voltou a encontrar-se. Incomodou-me o envelhecimento dos sentimentos, a fala de esperança, as relações entre pais e filhos e a lembrança de um amor.
O passar do tempo é algo que me atormenta, pensar que estou a deixar passar algo importante e, ver que tantas pessoas chegam ao fim da vida com o lamento inconsolável de que a sua vida foi uma triste existência...
Talvez por isso sou hiper-curiosa, hiper-activa e ando sempre pseudo-apaixonada por uma imagem, por um poema, por uma história, por um olhar, por um aroma...
É a história de um casal que esteve separado durante 30 anos e voltou a encontrar-se. Incomodou-me o envelhecimento dos sentimentos, a fala de esperança, as relações entre pais e filhos e a lembrança de um amor.
O passar do tempo é algo que me atormenta, pensar que estou a deixar passar algo importante e, ver que tantas pessoas chegam ao fim da vida com o lamento inconsolável de que a sua vida foi uma triste existência...
Talvez por isso sou hiper-curiosa, hiper-activa e ando sempre pseudo-apaixonada por uma imagem, por um poema, por uma história, por um olhar, por um aroma...
sábado, maio 14, 2005
Viajar
Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.
Álvaro de Campos
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.
Álvaro de Campos
sexta-feira, maio 13, 2005
Poesia
http://www.volte-face.conflitoestetico.com/
É uma sugestão de poesia para o D. Quixote, no dia em que só penso em ir para casa ler um livro de terror bem ao estilo do Edgar Allen Poe (the ghost writer). É preciso é ir variando as leituras, uns livros fazem-nos sonhar, outros acordam-nos para vida e outros ainda, servem só para enganar o tempo!
Hummmmm...
http://www.acime.gov.pt/saboresdomundo/livro.html
Tiramisú com um copo de vinho tinto e a festa está feita!
Sofa so good
Tiramisú com um copo de vinho tinto e a festa está feita!
Sofa so good
Toca
Em relação a analogias, esta é uma das boas; podes entender agora um pouco do que senti numa tarde de verão de areias quentes e águas luminosas. Eu estava aqui e, em frente a mim, um abismo impensável que se abria profundo entre dois mundos, o da matéria e o do sentir.
Até hoje, os homens de ciência são incapazes de dar conta da presença, ou de especificar, as funções de um certo grupo de neurónios do cérebro. Este grupo seria uma terra de ninguém, apenas desperdício de espaço para dar origem a teorias imaginativas. Eu não estou de acordo com os especialistas (os “expertos” como diz o meu pai), eu estou perfeitamente consciente das possíveis funções daqueles centros nervosos no esquema das coisas. Com um toque posso fazê-las entrar em jogo, com um toque digo, posso libertar energia, com um toque posso estabelecer comunicação entre este mundo e o dos sentidos.
Até hoje, os homens de ciência são incapazes de dar conta da presença, ou de especificar, as funções de um certo grupo de neurónios do cérebro. Este grupo seria uma terra de ninguém, apenas desperdício de espaço para dar origem a teorias imaginativas. Eu não estou de acordo com os especialistas (os “expertos” como diz o meu pai), eu estou perfeitamente consciente das possíveis funções daqueles centros nervosos no esquema das coisas. Com um toque posso fazê-las entrar em jogo, com um toque digo, posso libertar energia, com um toque posso estabelecer comunicação entre este mundo e o dos sentidos.
quinta-feira, maio 12, 2005
Ilhas Afortunadas
Janeiro 2004
Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
mas que, se escutamos, cala,
por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.
Fernando Pessoa
CocoRosie
Nada melhor para definir o meu estado de espírito matinal, sons sensuais e infantis, mistura estranha.
Ontem fui ao cinema ver “uma canção de amor”, não é propriamente um filme alegre, mas é intenso. As personagens vivem perdidas em histórias negras de existências tristes e refugiam-se na literatura, ou encontram esperança noutras histórias de existências menos tristes.
Para quem gosta de frases soltas, com ou sem significado.
Ontem fui ao cinema ver “uma canção de amor”, não é propriamente um filme alegre, mas é intenso. As personagens vivem perdidas em histórias negras de existências tristes e refugiam-se na literatura, ou encontram esperança noutras histórias de existências menos tristes.
Para quem gosta de frases soltas, com ou sem significado.
quarta-feira, maio 11, 2005
Revolta
Este ano decidi ir de férias para o Irão, um dos países do eixo do mal. Algumas pessoas ficam incrédulas a olhar-me desconfiadas ao mesmo tempo que me chamam doida. Outras perguntam-me o que é que eu procuro nestas visitas “perigosas” a países em guerra!
Eu digo que quero ter uma experiência diferente, quero desafiar as ideias impostas pelos EUA, ideias que eu repudio mas que muitas vezes encontro enraízas na minha maneira de agir, nas atitudes inconscientes face à cultura muçulmana.
Esta semana o Expresso referia o maior desastre industrial da história ocorrido em Bhopal nos anos 80, da responsabilidade de uma empresa Americana. Deste acidente resultaram mais de 20 mil mortes e mais de 150 mil pessoas ainda sofrem as consequências. O responsável pela empresa foi detido, pagou uma caução e voltou para a América sem ser julgado. Este é só um exemplo!
O que me custa a compreender é porquê que 3000 vidas americanas valem mais do que milhões de vidas no outro lado do mundo, ao ponto de justificarem guerras, bloqueios económicos e xenofobia.
Sim vou ao Irão, e o meu bloqueio vai para os EUA, país que nunca visitei nem tenciono visitar!
Crónica impressa em papel branco, tamanho A4. (V.2)
Estou num autocarro, rodeado de bancos de plástico laranja com esquiços de escrita a caneta de feltro preta, piso anti-derrapante de borracha castanha. Entra um homem de face disforme com orelhas proeminentes, faltam-lhe alguns dentes e os que ainda possui desafiam a simetria. Como se a sua boca fosse um projecto desconstrutivista de um qualquer dentista moderno - um designer estomatologista . O autocarro pára. Um táxi quer mudar de faixa. O motorista do autocarro explode em protestos vocais (não posso classificá-los como verbais, quando nem sequer os consigo distinguir duma gravação áudio de dois grupos rivais de babuínos), a máquina acompanha o homem num dueto surreal.
O meu hipotálamo discorda do surrealismo factual. Guerrilha interna.
O homem disforme junta-se aos protestos. Esvai-se numa torrente de esboços de frases que lhe passam entre os dentes podres de verborreia. Penso, "eu não fui feito para isto". Os outros passageiros juntam-se ao grotesco protesto. "Eu não fui feito para isto. Que posso fazer para nunca mais entrar num autocarro, nunca mais ser agredido pela simples existência de pessoas que, por razões que desconheço, escaparam à evolução, ao progresso?". Também me ocorre a possibilidade de ser eu quem escapou ao progresso, com os seus bancos de plástico, caixilhos de alumínio lacados, wap, reality shows, sacos de plástico, talheres de plástico, java, zara, centros comerciais, pizzas mexicanas. Sim, uma média e uma coca-cola de lata, por favor.
Como posso nunca mais entrar num autocarro? Inscrevo-me numa universidade privada, na lapa, no curso de gestão (claro). Depois, licencio-me, (isto é, sei exactamente o mesmo que sabia mas tenho um papel que atesta o contrário), vou trabalhar para o banco de portugal, num edifício cinzento com cadeiras de plástico nas salas de espera iluminadas por luzes flourescentes.
O meu hipotálamo discorda do surrealismo factual. Guerrilha interna.
O homem disforme junta-se aos protestos. Esvai-se numa torrente de esboços de frases que lhe passam entre os dentes podres de verborreia. Penso, "eu não fui feito para isto". Os outros passageiros juntam-se ao grotesco protesto. "Eu não fui feito para isto. Que posso fazer para nunca mais entrar num autocarro, nunca mais ser agredido pela simples existência de pessoas que, por razões que desconheço, escaparam à evolução, ao progresso?". Também me ocorre a possibilidade de ser eu quem escapou ao progresso, com os seus bancos de plástico, caixilhos de alumínio lacados, wap, reality shows, sacos de plástico, talheres de plástico, java, zara, centros comerciais, pizzas mexicanas. Sim, uma média e uma coca-cola de lata, por favor.
Como posso nunca mais entrar num autocarro? Inscrevo-me numa universidade privada, na lapa, no curso de gestão (claro). Depois, licencio-me, (isto é, sei exactamente o mesmo que sabia mas tenho um papel que atesta o contrário), vou trabalhar para o banco de portugal, num edifício cinzento com cadeiras de plástico nas salas de espera iluminadas por luzes flourescentes.
Os olhos de Isa
Nos olhos de Isa a chuva grita e a noite
Acende fogueiras.
Os meus olhos param. Nos olhos de Isa.
Oh, nos olhos de Isa espreguiça-se a madrugada
E o vento acorda para ajudar os pássaros a voar
E as árvores a acenar-lhes uma bandeira de folhas, uma tristeza verde.
Nos olhos de Isa.
Nos olhos de Isa a manhã explode num inferno de estrelas,
Num clarão de silêncio, em estilhaços de rosas, pétalas de sombra.
Nos olhos de Isa os poetas vagueiam num bosque de mel
Onde as abelhas constroem a tarde
Desesperadamente.
Nos olhos de Isa ninguém repara na minha solidão.
Joaquim Pessoa
Acende fogueiras.
Os meus olhos param. Nos olhos de Isa.
Oh, nos olhos de Isa espreguiça-se a madrugada
E o vento acorda para ajudar os pássaros a voar
E as árvores a acenar-lhes uma bandeira de folhas, uma tristeza verde.
Nos olhos de Isa.
Nos olhos de Isa a manhã explode num inferno de estrelas,
Num clarão de silêncio, em estilhaços de rosas, pétalas de sombra.
Nos olhos de Isa os poetas vagueiam num bosque de mel
Onde as abelhas constroem a tarde
Desesperadamente.
Nos olhos de Isa ninguém repara na minha solidão.
Joaquim Pessoa
Acordar
Adoro acordar no meio de um sonho e depois ficar os minutos seguintes à deriva, à procura desse fragmento de imaginação mascarado de vida.
terça-feira, maio 10, 2005
Imortalidade
Temos que ser como fumo ou viver entre o fogo do espírito; não podemos mais regressar à chama. Se o nosso pensamento mudou para sonho, a nossa vontade para desejo, tal como o fumo desaparecemos no fogo que criámos.
Mas regressa a dúvida: devemos imortalizar-nos congelando ou deixar o fogo de uma efémera, mas ardente, existência consumir-nos?
Mas regressa a dúvida: devemos imortalizar-nos congelando ou deixar o fogo de uma efémera, mas ardente, existência consumir-nos?
segunda-feira, maio 09, 2005
Memória
É curioso como as memórias me alimentam nos momentos em que não existo e me aprisionam nos momentos em que quero existir.
Para quê cometer os mesmos erros, deixar o coração solto à espera que tropece e caia?
Por outro lado que sentido faz a vida quando estamos limitados a actos mecânicos, parcialmente vivos e condicionados?
Para quê cometer os mesmos erros, deixar o coração solto à espera que tropece e caia?
Por outro lado que sentido faz a vida quando estamos limitados a actos mecânicos, parcialmente vivos e condicionados?
Connected
Este nosso mundo encontra-se completamente conectado com cabos; que a um pouco menos do que a velocidade do pensamento, cruzam como um relâmpago desde o amanhecer ao crepúsculo, de norte ao mar, através de inundações e desertos.
domingo, maio 08, 2005
Leva-me
Leva-me contigo para a ilha das flores.
Encontramo-nos na rua das flores, tu levas um ramo de flores e eu a minha camisa amarela, passamos na praça das flores e voamos, nadamos, corremos até à ilha das flores.
Encontramo-nos na rua das flores, tu levas um ramo de flores e eu a minha camisa amarela, passamos na praça das flores e voamos, nadamos, corremos até à ilha das flores.
sexta-feira, maio 06, 2005
quinta-feira, maio 05, 2005
Sigur Rós
UM mundo
Através do que parecia sorte, pela sugestão de um pensamento fútil livre de laços familiares e pelos caminhos que percorri centenas de vezes, a verdade invadiu-me, e vi um mundo completo, uma esfera desconhecida; ilhas e continentes, e grandes oceanos, nos quais barco algum navegou desde que o homem ergueu o seu olhar para o sol.
Pensas que isto é apenas linguagem retórica, mas é tão difícil ser literal.
Pensas que isto é apenas linguagem retórica, mas é tão difícil ser literal.
quarta-feira, maio 04, 2005
Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
Miguel Torga
Sonho
Enquanto dormia, lembrei-me da história da lagartixa e do elefante. Tão pequenina a lagartixa, tão grande o elefante. Depois acordei e reparei que estava só como a lagartixa!
Trim Trim
No domingo fui ver o filme premiado do Indie Lisboa, a forest for the trees! Era a história de uma mulher num profundo estado de abandono, desesperada por emudecer o grito estridente da solidão.
Senti-me tão incomodada com o desenrolar da acção, as perseguições da personagem principal à vizinha, os telefonemas, as mensagens e sobretudo quando tocava à campainha!
Conheci uma pessoa assim, carente, triste, desesperada, que implorava a minha atenção, que me pedia desculpas e para nunca me afastar. O contraste com a sua aparência fria, calculista e racional era desconcertante.
Senti-me tão incomodada com o desenrolar da acção, as perseguições da personagem principal à vizinha, os telefonemas, as mensagens e sobretudo quando tocava à campainha!
Conheci uma pessoa assim, carente, triste, desesperada, que implorava a minha atenção, que me pedia desculpas e para nunca me afastar. O contraste com a sua aparência fria, calculista e racional era desconcertante.
Permanente
Fotografia e livro permanecem, um pedaço de relva verde para ar e exercício, agora vai-se a força do corpo; meia-noite, uma casa velha onde nada mexe excepto um rato.
A minha tentação está quieta. Aqui no fim da vida.
A minha tentação está quieta. Aqui no fim da vida.
terça-feira, maio 03, 2005
Boomerang
Apesar de o mundo continuar a mudar a sua forma rápido como uma núvem, tudo o que é conseguido regressa ao princípio.
Aconteceu
É verdade, poderia perfeitamente não ter acontecido. Foi aquele milésimo de minuto em que senti que o mundo me pertencia, o milésimo de centímetro por onde escorreu a minha vida, o milésimo de momento em que uma liberdade gritou por mim, o milésimo de nada em que o abismo me acolheu, o milésimo de mim que sentiu o infinito em ti!
segunda-feira, maio 02, 2005
É o que dizes
Está tudo na minha cabeça, dizes, e não tem nada a ver com felicidade. A chegada do frio, a chegada do calor, a mente tem todo o tempo no mundo.
Agarras-me no braço e dizes-me que algo vai acontecer,
algo estranho para o qual estivemos sempre...
Agarras-me no braço e dizes-me que algo vai acontecer,
algo estranho para o qual estivemos sempre...
Momentos inesquecíveis
Onde estão esses momentos que nos rasgam a alma e iluminam o espírito? Que nos fazem sorrir, chorar, vibrar, sonhar, sentir, desejar, querer...
E depois nos abandonam em angústia e nostalgia porque os deixámos escapar!
E depois nos abandonam em angústia e nostalgia porque os deixámos escapar!
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