quarta-feira, maio 04, 2005

Súplica



Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga

2 comentários:

Carlos Gouveia disse...

Fiquei sem palavras. Parado e imóvel. A lembrar-me do que já vivi em tempos passados. Mas sinto. Está aqui. Obrigado pela lembrança.

Anónimo disse...

De fazer arrepiar, encarquilhar mesmo até o dedo gordinho do pé. Simples e poderoso, como o mar, essa imensidão de água salgada.