segunda-feira, junho 06, 2005

A matéria das palavras



Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes.
É a hora do infinito desacerto-acerto.

O vulto da nossa singularidade viaja por palavras
matéria insensível de um poder esquivo.

Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação.
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.

Aspiramos à alta liberdade
um bem sempre suspenso que nos crucifica.

Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.

Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma perfeição
especialista em fracassos.

Estrangeiros sempre
agudamente colhemos os frutos discordantes.


Ana Hatherly

2 comentários:

anoeee disse...

Fizeste-me lembrar a inocência anterior a essa ansiosa fruição do mundo... Como aquele poema das «Asas do Desejo»...

Lu disse...

Adorei a exposição do centro de arte moderna sobre a Ana Hatherly, quando as letras se misturam com as imagens.

Nunca cheguei a ver o filme "asas do desejo", uma grande falha! Gostei o poema.