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Caro Pinóquio,
Tinha eu 7 anos quando vi as tuas Aventuras pela primeira vez. Lembro-me de ter gostado muito nessa altura. A verdade é que eu reconhecia-me em ti, no teu ambiente, o meu ambiente.
Queixei-me, torci a boca, escondi a cabeça debaixo de lençóis para não tomar o xarópe amargo. A torrada com manteiga dos dois lados, a tarte de maçã com canela e, ás vezes, um ovo cozido ou a casca de um queijo eram um prato sofisticado para ti; o mesmo para mim.
Também eu , quando ia e regressava da escola, via-me envolvido em batalhas de lama no inverno, murros e pontapés em qualquer estação do ano.
E, há pouco tempo, regressáste. Apareces na TV mas continuas o mesmo. Eu, envelheci. Estou no outro lado da barricada. Já não me reconheço em ti, mas nos teus conselheiros: no chato do professor Gepeto e no grilo que tanto me irritava. A fada? Não gosto do sistema dela. Quandos és perseguido por assassinos, bates desesperado à sua porta, ela põe a cabeça de fora com a sua cara pálida, como uma figura de cera, recusa deixar-te entrar e deixa que te pendurem numa árvore.
Hás-de ver por ti: a idade difícil, tanto para ti como para os teus educadores. Não és mais uma criança, e irás rejeitar a companhis, as leituras, os jogos dos mais novos; mas também não és um homem, e irás sentir-te incompreendido e rejeitados pelos adultos.
Afinal não somos assim tão diferentes. Mas, não sei bem porquê, isso não me faz sentir melhor.
2 comentários:
Adorei...
:)
Bom fim-de-semana, linda!
Pode ser que te veja amanhã ou domingo... Takk!
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