quinta-feira, julho 07, 2005

Epílogo

Passados uma semana, três dias e 1 hora do meu regresso posso, talvez, fazer uma breve apreciação da minha viagem ao Irão.

As pessoas perguntam-me se gostei! Parece ser a questão óbvia, mas eu não tenho uma resposta pronta. O que significa gostar? É ter ficado encantada com as coisas que vi? É ter posto em causa as minhas concepções de vida, de liberdade, de humanidade, de sociedade? É ter encontrado pessoas apaixonantes que vivem por um sonho? É ter tido experiências únicas e inesquecíveis?

Tudo isto é verdade, mas voltei enjoada. Já não conseguia olhar para as mulheres com os mantos negros e olhares carregados. A noção de espaço pessoal, claramente diferente da minha, incomodava-me, sentia-me agredida cada vez que me davam um encontrão, cada vez que tentava atravessar uma estrada na passadeira.

A segregação social das mulheres é demasiado violenta para a mentalidade ocidental. É opressiva, inibidora e revoltante! Uma mulher nunca pode tocar um homem em público, nas mesquitas tem uma zona isolada tapada com lençóis, não tem o direito de se divorciar sem a autorização do homem, dificilmente consegue um emprego com uma remuneração superior a 100 Euros, tem de andar toda tapada com várias camadas de roupa larga e muitas vezes com tecidos sintéticos.

Os casamentos são arranjados entre as famílias e o homem pode visitar UMA vez a mulher antes da cerimónia. Claro que em nenhuma circunstancia a mulher poderá dançar em público, mesmo na festa do próprio casamento!

É sem dúvida um povo muito estranho, para lá da minha capacidade de compreensão. São considerados um dos países do eixo do mal e o orgulho nacional resume-se a umas t-shirts com marcas americanas ou a dizer USA. Embargo económico? Então porquê que a coca-cola e outras marcas globais de grande consumo se encontravam largamente distribuídas? Querem abrir o país para o turismo mas para visitar um simples parque natural é necessário uma autorização com 3 meses? Serão eles realmente preocupados com a natureza? Então não seria aceitável o facto de Teheran ser a cidade mais poluída do mundo, os carros terem uma média de 30 anos, os resíduos não serem tratados e a higiene nas ruas ser um conceito desconhecido!

Falta acrescentar que nós ocidentais somos considerados, juntamente com a carne suína, sujos. Não somos dignos de entrar em locais puros.

É evidente que não estava à espera de encontrar um país sofisticado, igual a muitos outros que já visitei. Não fiquei desiludida com o que encontrei. Não estava à espera de sentir tanto, de ficar tão absolutamente absorvida com o que me rodeava.

Se me perguntarem se gostei vou continuar a dizer que sim...

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