No fundo somos um blog de conversas de sofá, é o que nos apetece no momento. Cuidado para não entornar o copo de vinho tinto. Põe a música mais alta. Hummmmm, tiramisu...
quarta-feira, agosto 31, 2005
Open Water
Richter - Open Water
Já passaram os dias em que podia caminhar na água.
Em que podia caminhar. Esses dias já foram.
Apenas um dia permanece, aquele em que tu estás.
A memória não é uma amiga. Pode apenas dizer-te o que não tens mais.
terça-feira, agosto 30, 2005
Gerahrd Richter - Tote 1 (Dead 1)
Gerhard Richter - Tote 1
I will never again know you; we had a beautiful month, the best in my life. But that happiness i will never feel again. It is just me, me and the deadly silence. I must break the silence, release the pain, free my soul.
I take the gun; one shot, a loud bang then no more, forever silence. But i am no longer there to hear the silence, to feel the pain, to cry alone. Never again. I am free.
segunda-feira, agosto 29, 2005
Entre Linhas – Culturgest
Uma exposição com vários artistas onde o elemento comum é a linha, de caneta, de lápis, de grafiti, do que for. Alguns desenhos são surpreendestes, ao perto são linhas desordenadas sem qualquer significado aparente, ao longe são caras com olhares penetrantes envoltos em mistério.
Quase no fim, encontrei a razão da minha visita, uma sala dedicada exclusivamente à Ana Hatherly. O sétimo desenho a contar da direita e os desenhos no fundo da sala encheram a minha imaginação de palavras soltas e significados etéreos.
Um último desenho do António Poppe fez a minha delícia, parecia um borrão mas não era!
A não perder até dia 25 de Setembro.
Quase no fim, encontrei a razão da minha visita, uma sala dedicada exclusivamente à Ana Hatherly. O sétimo desenho a contar da direita e os desenhos no fundo da sala encheram a minha imaginação de palavras soltas e significados etéreos.
Um último desenho do António Poppe fez a minha delícia, parecia um borrão mas não era!
A não perder até dia 25 de Setembro.
Regresso, revisto.
domingo, agosto 28, 2005
A Palavra-escrita
A Palavra-escrita
é um labor arcaico:
sulca enigmas
venda e desvenda
o sentido do gesto
É uma imagem detida
recolhida do mais fundo cinema íntimo
onde o verdadeiro
é um ser invisível
O Cinema do mundo está aí
onde houver ilusão
onde houver vontade de ver
mesmo que seja só do nada
Ana Hatherly in "O Pavão Negro"
é um labor arcaico:
sulca enigmas
venda e desvenda
o sentido do gesto
É uma imagem detida
recolhida do mais fundo cinema íntimo
onde o verdadeiro
é um ser invisível
O Cinema do mundo está aí
onde houver ilusão
onde houver vontade de ver
mesmo que seja só do nada
Ana Hatherly in "O Pavão Negro"
sexta-feira, agosto 26, 2005
Antes do Amanhecer/Antes do Anoitecer
Lembrei-me de falar destes filmes. Uma amiga minha recomendou o “antes do anoitecer”, dizia-me entusiasticamente que eu seria a única pessoa, talvez com ela, que não apanharia o avião.
Acabei por ver primeiro o “antes do anoitecer” e apanhei o avião quase sem hesitar. Pensei que a forma de não destruir um amor seria não leva-lo até ao fim. Identifiquei-me tanto com a personagem feminina, com as crenças e motivações, quase me senti observada.
Depois vi a sequência “antes do amanhecer”/”antes do anoitecer” e decidi ficar em terra.
No “antes do amanhecer” dois estranhos encontram-se num comboio no meio da Europa. Saem em Viena porque era o destino dele e ela aceitou fazer uma paragem para desafiar o dela.
No “antes do anoitecer” eles voltam a encontrar-se, em Paris.
O que é que fica de um grande amor? Será possível uma pessoa ser feliz quando deixa um grande amor para trás?
Não sei responder a estas perguntas. Mas o melhor é mesmo não deixar nada para trás e adiar a viagem de avião.
Numa partida adiada, se o avião cair, no último milésimo de segundo teremos o conforto de que pelo menos lutámos por aquilo que queríamos, mesmo que tenhamos falhado.
O Sonho Americano
america
Desde 1990 que há milhões de palermas em todo o mundo que sonham em ganhar uma lotaria especial. Não, não é o euromilhões, mas sim um bilhete para viver nos Estados Unidos da América sem o receio de ser devolvido à procedência, onde as mulheres parecem tendas ambulantes, o passa montanhas está na moda e tudo é proíbido pelo profeta (excepto apedrejar mulheres e andar na rua com uma kalachnikov a tira-colo).
A abertura das inscrições para o próximo sorteio anual de vistos de residência nos EUA, o Diversity Visa Lottery, decorrerá entre Novembro e Dezembro de 2005. Esta poderá uma oportunidade única de poder viver o “sonho americano”.
Mas qual sonho?! E quando acordares?
quinta-feira, agosto 25, 2005
Corre atrás dele! #2
Atrás de mim, escuto os passos do tempo, apressados, imparáveis, que se dilatam em vastos desertos de eternidade. Não terás todo este tempo a tua beleza. Por isso, agora, vive nesta pele, sua, gasta-a no tempo; aplica todas as tuas forças e vive. Não podes parar o sol mas, ao menos, corre atrás dele. Corre atrás dele!
Edukadores
É um filme muito poderoso, difícil, desconfortável, pesado, cru!
Um grupo de jovens rebeldes, revoltados contra o capitalismo, com a maneira injusta de distribuição da riqueza, toma a justiça nas próprias mãos. Nós os espectadores, engolimos em seco, fazemos parte do sistema, fomos de carro para o cinema, com um bocadinho de sorte até conseguimos um convite oferecido pela rádio ou um patrocinador, temos as nossas casas mobiladas, com uma televisão (desligada no meu caso), um trabalho cinzento (ou não) onde sonhamos com férias, viagens, fins de semana.
Saí da sala com um nó no estômago.
Para onde foi o meu idealismo fervoroso? Continuo a poupar todas as gotas de água que posso, a desligar todas as luzes, a evitar comprar roupa feita com petróleo, as marcas globais. Tento comprar coisas portuguesas mas quando chega aos ténis o que posso fazer? Faço desporto, caminhadas, ginásio!
Porquê que estou a tentar arranjar desculpas para as minhas escolhas? São sempre escolhas e escolhi ver o filme e recomendá-lo ao mundo. Pode não servir de muito, mas o pouco que for já é qualquer coisa.
quarta-feira, agosto 24, 2005
Piazza
Giacometti Piazza
Quatro homens atravessam uma praça, cada um deles movendo-se em direcção ao centro, mas nenhum se dirige ao encontro de outro. Uma mulher sozinha, isolada e imóvel perto do centro. As figuras existem independentemente, dentro da sua unidade aleatória, com os seus multiplos caminhos que sugerem ambições e opções individuais.
David (não é o Fonseca)
terça-feira, agosto 23, 2005
In satisfaction garanteed
Recentemente, a empresa onde trabalho fez uma survey à job satisfaction. Interpretaram-se as respostas e resultaram conclusões: os meus colegas de trabalho não estão mesmo nada satisfeitos, e nem sequer ao pior dos inimigos recomendariam trabalhar neste antro. “Antes é que era! A tesouraria era feita por três pessoas: uma ia ao banco, outra contava as caixas e a outra era eu...”, mais palavras para quê?
Pessoalmente, acho esta questão da motivação (acerca da qual já se produziram mais de 943 compêndios e outros tantos estudos surgiram directamente das mentes iluminadas de gurus americanos) bastante simples de resolver. Esqueçam as festas de Natal com karaoke e vinho da casa à descrição, cartões de parabéns com assinaturas carimbadas, e, por favor, esqueçam a merda do empregado do mês. Apresento-vos o método Gato, que resolve o problema em apenas dois passos:
1. apresente a sua carta de demissão; e
2. comece a procurar o seu emprego perfeito.
Pessoalmente, acho esta questão da motivação (acerca da qual já se produziram mais de 943 compêndios e outros tantos estudos surgiram directamente das mentes iluminadas de gurus americanos) bastante simples de resolver. Esqueçam as festas de Natal com karaoke e vinho da casa à descrição, cartões de parabéns com assinaturas carimbadas, e, por favor, esqueçam a merda do empregado do mês. Apresento-vos o método Gato, que resolve o problema em apenas dois passos:
1. apresente a sua carta de demissão; e
2. comece a procurar o seu emprego perfeito.
Grão de Areia
Este fim de semana estive na praia do xiringuito. Um areal de 100 m de comprimento rendilhado com rochas, rochinhas e pedrinhas. Uma praia lindíssima quando não estamos em Agosto, os barcos não passam os dias num zumbido constante e os aviões não têm mensagens do tipo: “leia os Anjos e Demónios”.
Na barraquinha de sumos naturais a celebridade do dia era a Merche. Não a vi! Disseram-me: “está ali a Merche, aquela do...”. Já era tarde demais, a minha atenção já estava longe.
Se, ao menos, fosse o “Famoso Telmo”. Aquele rapaz simpático que serviu de desculpa aos “intelectuais” do nosso aclamado país para chamar a minha geração de rasca.
Ironicamente, a minha geração rasca foi construída com base nos programas educativos, nos professores, nos projectos de cidadania e nos exemplos dados pelos supostos intelectuais deste país.
“Famoso Telmo”, estás perdoado, podes voltar aos programas da TVI, mas desta vez vê lá se sabes o que é um pintelho.
Na barraquinha de sumos naturais a celebridade do dia era a Merche. Não a vi! Disseram-me: “está ali a Merche, aquela do...”. Já era tarde demais, a minha atenção já estava longe.
Se, ao menos, fosse o “Famoso Telmo”. Aquele rapaz simpático que serviu de desculpa aos “intelectuais” do nosso aclamado país para chamar a minha geração de rasca.
Ironicamente, a minha geração rasca foi construída com base nos programas educativos, nos professores, nos projectos de cidadania e nos exemplos dados pelos supostos intelectuais deste país.
“Famoso Telmo”, estás perdoado, podes voltar aos programas da TVI, mas desta vez vê lá se sabes o que é um pintelho.
segunda-feira, agosto 22, 2005
Narco Polo's trips #2
Narco Polo (1970-….), é provavelmente o viajante mais famoso da Linha da Coca. Ele bateu todos os outros viajantes com a sua determinação, a sua influência e o seu nariz assombroso (ao lado do qual o apêndice nasal do Julio Isidro mais parece o do Michael Jackson).
A sua viagem entre a Zambujeira e S. Teotónio durou 24 dias. Ele chegou mais além que os seus predecessores, muito para além de Sonega e Cavaleiro. Tornou-se um confidente da palhaça Tété. Viajou por toda a costa alentejana e voltou para contar a história, tornando-se no Senhor do Cabo Sardão (também conhecido pelo Senhor dos Manéis).
A sua viagem entre a Zambujeira e S. Teotónio durou 24 dias. Ele chegou mais além que os seus predecessores, muito para além de Sonega e Cavaleiro. Tornou-se um confidente da palhaça Tété. Viajou por toda a costa alentejana e voltou para contar a história, tornando-se no Senhor do Cabo Sardão (também conhecido pelo Senhor dos Manéis).
Férias
http://lonelyplanet.com/experimentaltravel/contents.cfm
Acho que vou começar com uma Literary Journey, passo pelo Alternating Travel, pelo Dog Leg Travel e o Yellow Arrow e, acabo com um Thalasso Experimental na casa de um amigo ou amiga. Mas é do Ero Tourism que eu gosto!
Acho que vou começar com uma Literary Journey, passo pelo Alternating Travel, pelo Dog Leg Travel e o Yellow Arrow e, acabo com um Thalasso Experimental na casa de um amigo ou amiga. Mas é do Ero Tourism que eu gosto!
Dandy Warhols
sexta-feira, agosto 19, 2005
Corte de cabelo
cutting
Ontem fui cortar o cabelo. Não tendo preferência, calhou-me uma brasileira, nova, não feia e com um corpo fantástico. Tocava-me com a suavidade de quem sente o toque, com cuidado, não querendo agredir o espaço vital do meu cabelo. Aos poucos, foi-se perdendo o receio, talvez por perceber que as suas mãos já não me eram estranhas, entranhadas.
Não foi um corte de cabelo, foi um acto sexual.
Lua Cheia
Os Dias que acompanham as noites de Lua Cheia são sempre estranhos, difíceis. É como se estivesse um olho gigante no céu a inquirir sobre o que andei a fazer no último mês. Ontem fechei as janelas todas e enrolei-me num sono pesado mas pouco tranquilo. A presença da Lua anula as paredes, as janelas e as grossas camadas de roupa da minha cama. Tive sonhos estranhos com pessoas conhecidas que iam mudando de cara em casa nova situação.
De manhã ouvi esta música e é verdade: there is a light and it never goes out.
Take me out tonight
Where there’s music and there’s people
And they’re young and alive
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven’t got one
Anymore
Take me out tonight
Because I want to see people and I
Want to see life
Driving in your car
Oh, please don’t drop me home
Because it’s not my home, it’s their
Home, and I’m welcome no more
And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure - the privilege is mine
Take me out tonight
Take me anywhere, I don’t care
I don’t care, I don’t care
And in the darkened underpass
I thought oh god, my chance has come at last
(but then a strange fear gripped me and I
Just couldn’t ask)
Take me out tonight
Oh, take me anywhere, I don’t care
I don’t care, I don’t care
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven’t got one, da ...
Oh, I haven’t got one
And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure - the privilege is mine
Oh, there is a light and it never goes out
De manhã ouvi esta música e é verdade: there is a light and it never goes out.
Take me out tonight
Where there’s music and there’s people
And they’re young and alive
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven’t got one
Anymore
Take me out tonight
Because I want to see people and I
Want to see life
Driving in your car
Oh, please don’t drop me home
Because it’s not my home, it’s their
Home, and I’m welcome no more
And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure - the privilege is mine
Take me out tonight
Take me anywhere, I don’t care
I don’t care, I don’t care
And in the darkened underpass
I thought oh god, my chance has come at last
(but then a strange fear gripped me and I
Just couldn’t ask)
Take me out tonight
Oh, take me anywhere, I don’t care
I don’t care, I don’t care
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven’t got one, da ...
Oh, I haven’t got one
And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure - the privilege is mine
Oh, there is a light and it never goes out
quinta-feira, agosto 18, 2005
Charlie e a Fábrica de Chocolate
Fui ver o filme ontem à noite, com uma barra de chocolate na mão dada pela querida Ilha.
O Tim Burton continua igual a si mesmo, o Johnny Depp com o seu charme sombrio e o Charlie é o Peter Pan da Terra do Nunca. Posso acrescentar que sou viciada em chocolate, chocolate com pimenta, chocolate 80% de cacau, chocolate com café, chocolate com gengibre, chocolate com chá verde, chocolate Tiramissu, chocolate whisky. Para mim a Av. de Roma significa Fauchon e o El Corte Inglês um paraíso Gourmet!
É evidente que não posso ter qualquer opinião isenta sobre o filme. Adorei simplesmente. Sei que é previsível, os estereótipos são gritantes, o menino gordo, a menina mimada, a competitividade americana, o nerd dos jogos de computador e o menino coitadinho pobre, o único que tem direito a sentimentos nobres.
O resto é uma delícia achocolatada.
O pormenor das bandeiras escapou-me. Penso que também tem a bandeira do Iraque. Não ligo nada a política, a minha cabeça é mesmo como uma fábrica de chocolate, aquela fábrica.
O Tim Burton continua igual a si mesmo, o Johnny Depp com o seu charme sombrio e o Charlie é o Peter Pan da Terra do Nunca. Posso acrescentar que sou viciada em chocolate, chocolate com pimenta, chocolate 80% de cacau, chocolate com café, chocolate com gengibre, chocolate com chá verde, chocolate Tiramissu, chocolate whisky. Para mim a Av. de Roma significa Fauchon e o El Corte Inglês um paraíso Gourmet!
É evidente que não posso ter qualquer opinião isenta sobre o filme. Adorei simplesmente. Sei que é previsível, os estereótipos são gritantes, o menino gordo, a menina mimada, a competitividade americana, o nerd dos jogos de computador e o menino coitadinho pobre, o único que tem direito a sentimentos nobres.
O resto é uma delícia achocolatada.
O pormenor das bandeiras escapou-me. Penso que também tem a bandeira do Iraque. Não ligo nada a política, a minha cabeça é mesmo como uma fábrica de chocolate, aquela fábrica.
quarta-feira, agosto 17, 2005
The Historian
Este é o livro que estou a ler agora. Pensei que depois de um mês e meio com o universo negro (introspectivo) da Iris Murdoch precisava de algo mais leve. Disseram-me que era um livro ao estilo do Código Da Vinci e eu pensei logo em suspense, narrativa pouco elaborada e absorvente.
The historian é um livro cheio de demónios, daqueles que me acordam no meio da noite com um beijo de terror. Dos que seguram na minha mão quando a deixo caída fora da cama, ou que me abraçam na escuridão das noites de insónia.
É também um livro com uma narrativa bem elaborada, personagens coerentes, complexas e ligações intrigantes. As referências histórias à Europa Medieval dão um ar sério à história do conhecido Draculya, aos mapas em forma de dragão e às pequenas feridas semi-cicatrizadas no pescoço do bibliotecário.
Com todo este peso fico feliz com a minha colher de beterraba e todas as cores quentes. Até fiquei inspirada para o meu próximo quadro (amarelo e cor de laranja).
(R)evolução
Penso que faz três anos que discutiamos gravemente. Por não sei o quê! Eu sorria nervosamente, inseguro nos meus desejos. Uma relação ocupa um lugar reservado no meu espírito, ainda lhe peço entusiasmo, consolo e precisão, sem retórica. Sem dúvidas, sem champagne, sem a mão sobre o coração, com o desejo único de sentir muito, de entrar num mundo extravagante.
Em mim desencadeou-se uma grande revolução. Há três anos estava completamente desesperado. E, agora, tudo mudou. Como? Não posso explicar. Quero apenas viver. Viver para mim. Apreciar a beleza do mundo. Quero salvar-me.
Tenho todo um programa dividido em duas partes essenciais: a primeira é do amor, a segunda da liberdade. Explicarei tudo se um dia o quizeres, se regressarmos ao mesmo hemisfério. Não quero recomeçar, não quero iniciar um século.
Em mim desencadeou-se uma grande revolução. Há três anos estava completamente desesperado. E, agora, tudo mudou. Como? Não posso explicar. Quero apenas viver. Viver para mim. Apreciar a beleza do mundo. Quero salvar-me.
Tenho todo um programa dividido em duas partes essenciais: a primeira é do amor, a segunda da liberdade. Explicarei tudo se um dia o quizeres, se regressarmos ao mesmo hemisfério. Não quero recomeçar, não quero iniciar um século.
O mar, o mar - fim
“Com mais frequência do que se pensa, aquilo que as pessoas fazem é aquilo que querem fazer”
Iris
Aconteceu algo durante a semana passada. Não foi do livro. Não foi do funeral. Não foi da chuva sobre a terra quente. Não foi de ver toda aquela terra queimada. E foi tudo junto.
Parece que as pessoas estão sempre à procura de uma razão para não agirem, para justificarem o que têm não deixando de exprimir o que gostariam de ter. Refugiam-se em ilusões, em construções racionais sem o mínimo de vontade própria. Eu também faço parte dessas mesmas pessoas, quero ver mais além mas continuo aqui. Afinal o que é que eu quero daqui para levar para o “mais além”?
Foi assim que começou a revolução.
Iris
Aconteceu algo durante a semana passada. Não foi do livro. Não foi do funeral. Não foi da chuva sobre a terra quente. Não foi de ver toda aquela terra queimada. E foi tudo junto.
Parece que as pessoas estão sempre à procura de uma razão para não agirem, para justificarem o que têm não deixando de exprimir o que gostariam de ter. Refugiam-se em ilusões, em construções racionais sem o mínimo de vontade própria. Eu também faço parte dessas mesmas pessoas, quero ver mais além mas continuo aqui. Afinal o que é que eu quero daqui para levar para o “mais além”?
Foi assim que começou a revolução.
terça-feira, agosto 16, 2005
sexta-feira, agosto 12, 2005
Auto-colante
No vidro traseiro do seu carro, um auto-colante:
“Gosto de filmes pesados, mulheres quentes e bolas com creme.”
“Gosto de filmes pesados, mulheres quentes e bolas com creme.”
quinta-feira, agosto 11, 2005
Relógio
Eu deitei o meu fora, imaginei que o tempo correria mais devagar ou que seria mais livre. Enganei-me.
Ver
quarta-feira, agosto 10, 2005
Seu Jorge
Do Brasil para a Europa. Da favela para as cidades monumentais. Do Mané Galinha da Cidade de Deus ao músico do mundo.
Numa entrevista, o Seu Jorge falou da sua experiência num comboio na região de Paris que acabou tragicamente quando uma pessoa se atirou para a linha do comboio. Suicídio. Na carruagem onde seguia as pessoas reagiram com naturalidade. Mas o Seu Jorge não compreendeu. Nem podia. Na favela onde foi criado as pessoas não acabam com a própria vida, passam a maior parte do tempo a lutar por ela.
Numa entrevista, o Seu Jorge falou da sua experiência num comboio na região de Paris que acabou tragicamente quando uma pessoa se atirou para a linha do comboio. Suicídio. Na carruagem onde seguia as pessoas reagiram com naturalidade. Mas o Seu Jorge não compreendeu. Nem podia. Na favela onde foi criado as pessoas não acabam com a própria vida, passam a maior parte do tempo a lutar por ela.
Paula
Morte, sempre ausência.
A dor da ausência, esquecendo objectos amanhã preciosos.
“Ela dizia”, repetirem-se frases, palavras musicais em recordações, o desespero de voltar a viver o tempo, respostas tardias.
Lembras-te do gesto? E do sorriso triste?
Das mãos, da suavidade quando nos roçavam o rosto?
Pouco a pouco o ausente afasta-se em cada recordação,
há sempre alguém que ocupa o seu lugar;
as suas coisas vão perdendo aroma.
Cada dia o teu nome passa menos pelo lábio.
As lágrimas já não caem; apenas uma furtiva.
Secam, esgotada a fonte.
A morte era apenas um pretexto: o esquecimento é bem mais cruel que a sua visita.
Desculpa Paula, andava esquecido.
A dor da ausência, esquecendo objectos amanhã preciosos.
“Ela dizia”, repetirem-se frases, palavras musicais em recordações, o desespero de voltar a viver o tempo, respostas tardias.
Lembras-te do gesto? E do sorriso triste?
Das mãos, da suavidade quando nos roçavam o rosto?
Pouco a pouco o ausente afasta-se em cada recordação,
há sempre alguém que ocupa o seu lugar;
as suas coisas vão perdendo aroma.
Cada dia o teu nome passa menos pelo lábio.
As lágrimas já não caem; apenas uma furtiva.
Secam, esgotada a fonte.
A morte era apenas um pretexto: o esquecimento é bem mais cruel que a sua visita.
Desculpa Paula, andava esquecido.
terça-feira, agosto 09, 2005
O Ódio
la_haine
Nunca tinha visto nada assim. A primeira imagem acerta-nos em cheio no estômago: o mundo, perdido no vazio, coberto pelas chamas de um cocktail molotov. A história é aparentemente simples. Mas, também, é exactamente como o quer ser. E aí vamos nós numa viagem até onde o ódio vive, até às entranhas dele, que cresce e não pode ser parado. Quando pensamos que está tudo bem, tudo vai mal. Quando encontramos a paz, a guerra vem ter connosco. E lá estamos, nos suburbios que se evitam, onde as pessoas pensam constantemente em vingança.
Tecnicamente, o filme é fantástico, filmado em preto e branco, com uma grande banda sonora e três excelentes actores. Uma obra de génio, que reflecte a qualidade dos novos valores quando lhes é dado espaço para respirar.
A não perder, esta 5ª feira no Nimas: “La Haine”, Mathieu Kassovitz.
segunda-feira, agosto 08, 2005
Outra colisão
Esta teoria foi apresentada em 1975 por William Hartmann numa publicação sobre a origem da lua. Esta teoría surgiu como uma alternativa às teorias dos anos 70, pretendendo explicar a génese do nosso satélite com base na informação recolhida pelas missões Apollo.
Fundamenta-se principalmente na semelhança entre os componentes da superfície terreste com os lunares. O processo poderá resumir-se:
1. A "Proto-Terra" (Terra ainda em formação) é bombardeada por diversos corpos externos.
2. Um ou vários destes corpos colide com a Proto-Terra, o que provoca o desprendimento de uma grande parte do planeta numa direcção que permite separar-se mas não escapar à atracção gravitacional.
3. Tanto a Terra como a Lua terminam o seu processo de formação configurando-se no sistema Terra - Lua que hoje conhecemos.
Explicará isto a estranha relação de alguns terráqueos com a Lua? E os cães e os lobos? Serão uivos de saudades?
Fundamenta-se principalmente na semelhança entre os componentes da superfície terreste com os lunares. O processo poderá resumir-se:
1. A "Proto-Terra" (Terra ainda em formação) é bombardeada por diversos corpos externos.
2. Um ou vários destes corpos colide com a Proto-Terra, o que provoca o desprendimento de uma grande parte do planeta numa direcção que permite separar-se mas não escapar à atracção gravitacional.
3. Tanto a Terra como a Lua terminam o seu processo de formação configurando-se no sistema Terra - Lua que hoje conhecemos.
Explicará isto a estranha relação de alguns terráqueos com a Lua? E os cães e os lobos? Serão uivos de saudades?
Colisão
Sem dúvida um dos melhores filmes do ano. Um formigueiro desconfortável e contínuo que não deixa ninguém indiferente.
É um filme sobre racismo e não é um filme sobre racismo. É um filme sobre a natureza humana. Somos levados a julgar as personagens como boas ou más, mas a realidade é que todos têm, todos temos, oportunidades e fraquezas para o bem e para o mal.
Um par do Magnólia, sem os momentos poéticos, quase parados, onde adivinhamos o que está escondido em cada olhar. O Colisão é um filme de acção, várias vidas, várias histórias que vão colidindo.
sexta-feira, agosto 05, 2005
Mais apto, mais feliz? *
Mais apto, mais feliz, mais produtivo,
confortável, sem beber muito,
exercício regular no ginásio
(3 dias por semana)
melhorar com os teus colegas de trabalho associados,
à vontade, a comer bem
(acabaram-se os jantares de micro-ondas e gorduras saturadas),
um melhor condutor, um carro mais seguro
(uma criança a sorrir no banco de trás)
dormir bem (sem pesadelos),
sem paranoia,
amigo dos animais,
(nunca afogar aranhas no ralo),
manter-se em contacto com os velhos amigos
(beber um copo de vez em quando),
verificar a conta bancária,
favores por favores,
gostar mas não amar,
dormir bem (sem pesadelos),
sem paranóia;
consultar frequentemente o saldo bancário,
favores por favores
(não matar traças ou deitar água a ferver nas formigas),
lavar o carro (aos domingos),
não ter medo do escuro
nada de tão ridículo e desesperado
nada tão imaturo – a um melhor ritmo,
mais lento e calculado, sem fuga possível,
preocupado (mas impotente),
um informado membro da sociedade
(pragmetismo não idealismo),
não irá chorar em público,
menos hipóteses de adoecer,
pneus que aderem no molhado,
uma boa memória, continua a chorar com um bom filme,
continua a beijar com saliva,
calma, mais apto, saudável e mais produtivo
um porco numa jaula com antibióticos.
* - Baseado numa música dos Radiohead, "Fitter Happier"
confortável, sem beber muito,
exercício regular no ginásio
(3 dias por semana)
melhorar com os teus colegas de trabalho associados,
à vontade, a comer bem
(acabaram-se os jantares de micro-ondas e gorduras saturadas),
um melhor condutor, um carro mais seguro
(uma criança a sorrir no banco de trás)
dormir bem (sem pesadelos),
sem paranoia,
amigo dos animais,
(nunca afogar aranhas no ralo),
manter-se em contacto com os velhos amigos
(beber um copo de vez em quando),
verificar a conta bancária,
favores por favores,
gostar mas não amar,
dormir bem (sem pesadelos),
sem paranóia;
consultar frequentemente o saldo bancário,
favores por favores
(não matar traças ou deitar água a ferver nas formigas),
lavar o carro (aos domingos),
não ter medo do escuro
nada de tão ridículo e desesperado
nada tão imaturo – a um melhor ritmo,
mais lento e calculado, sem fuga possível,
preocupado (mas impotente),
um informado membro da sociedade
(pragmetismo não idealismo),
não irá chorar em público,
menos hipóteses de adoecer,
pneus que aderem no molhado,
uma boa memória, continua a chorar com um bom filme,
continua a beijar com saliva,
calma, mais apto, saudável e mais produtivo
um porco numa jaula com antibióticos.
* - Baseado numa música dos Radiohead, "Fitter Happier"
Gostava que lesses esta história:
http://www.fabricadesonhos.blogspot.com/
Estás longe, bem sei, e assim vais continuar. Ao menos que um sonho seja partilhado.
quarta-feira, agosto 03, 2005
A secretária #2
Mortal
Encolho os ombros, olho para o céu, duas ou três núvens que andam de prédio em prédio, que desaparecem de seguida por detrás de um monte, em direcção ao sul, o sol esconde-se nelas. Amanhã talvez faça menos calor que hoje, o ar seca, as flores caem, eu caminho, marcado por uma felicidade que não tem definição, nome, classe.
Continuo, como uma figura que não encaixa na cena, que não consta no argumento, mãos nos bolsos, camisa branca enrrugada. Mantenho-me a passo com uma brisa ligeira que traz do mar a mensagem do sal, do céu, da distância, recordações da sua fúria e, de ainda mais longe, outras cenas, outras figuras, praias onde se poderia imaginar o mar como a fronteira mais distante a partir da qual existe outro mundo.
Continuo, como uma figura que não encaixa na cena, que não consta no argumento, mãos nos bolsos, camisa branca enrrugada. Mantenho-me a passo com uma brisa ligeira que traz do mar a mensagem do sal, do céu, da distância, recordações da sua fúria e, de ainda mais longe, outras cenas, outras figuras, praias onde se poderia imaginar o mar como a fronteira mais distante a partir da qual existe outro mundo.
A secretária
É o filme da revista Premier deste mês, com a Maggie Gyllenhaal (irmã do Donnie Darko) e o James Spader (do sexo, mentiras e vídeo).
Eu diria, um filme de Sofá (so good...)!
Todas as personagens são psicologicamente afectadas, desde a secretária, uma masoquista compulsiva, até ao namorado, vítima de um esgotamento nervoso, passando pelo pai, um alcoólico carente.
O pior de todos acaba por ser o advogado que contratou a secretária, tem um olhar demente e um gosto mórbido e sádico.
O resultado só poderia ser um filme muito sexy, estranho e divertido.
Eu diria, um filme de Sofá (so good...)!
Todas as personagens são psicologicamente afectadas, desde a secretária, uma masoquista compulsiva, até ao namorado, vítima de um esgotamento nervoso, passando pelo pai, um alcoólico carente.
O pior de todos acaba por ser o advogado que contratou a secretária, tem um olhar demente e um gosto mórbido e sádico.
O resultado só poderia ser um filme muito sexy, estranho e divertido.
terça-feira, agosto 02, 2005
Madrid Revisited
Não sei talvez nestes cinquenta versos eu consiga o meu propósito
dar nessa forma objectiva e até mesmo impessoal em mim habitual
a externa ordenação desta cidade onde regresso
Chove sobre estas ruas desolada e espessa como esmiuçada chuva
a tua ausência líquida molhada e por gotículas multiplicada
O céu entristeceu há uma solidão e uma cor cinzentas
nesta cidade há meses capital do sol núcleo da claridade
É outra esta cidade esta cidade é hoje a tua ausência
uma imensa ausência onde as casas divergiram em diversas ruas
agora tão diversas que uma tal diversidade faz
desta minha cidade outra cidade
A tua ausência são de preferência alguns lugares determinados
como correos ou café gijón certos domingos como este
para os demais normais só para nós secretamente rituais
se neutros para os outros neutros mesmo para mim
antes de em ti herdar particular significado
A tua ausência pesa nestes loca sacra um por um
os quais mais importantes que lugares em si
são simples sítios que em função de ti somente conheci
e agora se erguem pedra a pedra como monumento da ausência
Não vejo aqui o núcleo geográfico administrativo de um país
capital de edifícios centro donde emanam decisões
complexo de museus bancos jardins vida profissional turismo
que um dia conheci e não conheço mais
Aqui só há o facto de eu saber que fui feliz
e hoje tanto o sei que sei que sê-lo o não serei jamais
12 esta a capital mas capital não de um certo país
capital do teu rosto e dos teus olhos a nenhuns outros iguais
ou de um país profundo e próprio como tu
Madrid é eu saber pedra por pedra e passo a passo como te perdi
é uma cidade alheia sendo minha
é uma coisa estranha e conhecida
Abro a janela sobre o largo e o teatro onde estivemos
e onde na desdémona que vi te vi a ti
Não é chuva afinal que cai só cai a tua ausência
chuva bem mais real e pluvial que se chovesse
Mais do que esta cidade é só certa cidade que jamais houvesse
numa medida tal que apenas lá profundamente eu fosse
e nela só a minha dor como uma pedra condensada
de pé deitada ou de qualquer forma coubesse
uma cidade alta como as coisas que perdi
e eu logo perdi apenas conheci
pois mais que a ela conheci-te a ti
Foi de uma altura assim que eu caí
superior à própria torre desse hotel
por muitos suicidas escolhida para fim de vida
Não é esta cidade essa cidade onde vivi
onde fui ao cinema e trabalhei e passeei
e na chama do corpo próprio a mim sem compaixão me consumi
Aqui foi a cidade onde eu te conheci
e logo ao conhecer-te mais que nunca te perdi
Deve haver quase um ano mais que ao ver-te vi
que ao ver-te te não vi e te perdi ao ter-te
Mas a esta cidade muitos dão o nome de madrid
Ruy Belo
dar nessa forma objectiva e até mesmo impessoal em mim habitual
a externa ordenação desta cidade onde regresso
Chove sobre estas ruas desolada e espessa como esmiuçada chuva
a tua ausência líquida molhada e por gotículas multiplicada
O céu entristeceu há uma solidão e uma cor cinzentas
nesta cidade há meses capital do sol núcleo da claridade
É outra esta cidade esta cidade é hoje a tua ausência
uma imensa ausência onde as casas divergiram em diversas ruas
agora tão diversas que uma tal diversidade faz
desta minha cidade outra cidade
A tua ausência são de preferência alguns lugares determinados
como correos ou café gijón certos domingos como este
para os demais normais só para nós secretamente rituais
se neutros para os outros neutros mesmo para mim
antes de em ti herdar particular significado
A tua ausência pesa nestes loca sacra um por um
os quais mais importantes que lugares em si
são simples sítios que em função de ti somente conheci
e agora se erguem pedra a pedra como monumento da ausência
Não vejo aqui o núcleo geográfico administrativo de um país
capital de edifícios centro donde emanam decisões
complexo de museus bancos jardins vida profissional turismo
que um dia conheci e não conheço mais
Aqui só há o facto de eu saber que fui feliz
e hoje tanto o sei que sei que sê-lo o não serei jamais
12 esta a capital mas capital não de um certo país
capital do teu rosto e dos teus olhos a nenhuns outros iguais
ou de um país profundo e próprio como tu
Madrid é eu saber pedra por pedra e passo a passo como te perdi
é uma cidade alheia sendo minha
é uma coisa estranha e conhecida
Abro a janela sobre o largo e o teatro onde estivemos
e onde na desdémona que vi te vi a ti
Não é chuva afinal que cai só cai a tua ausência
chuva bem mais real e pluvial que se chovesse
Mais do que esta cidade é só certa cidade que jamais houvesse
numa medida tal que apenas lá profundamente eu fosse
e nela só a minha dor como uma pedra condensada
de pé deitada ou de qualquer forma coubesse
uma cidade alta como as coisas que perdi
e eu logo perdi apenas conheci
pois mais que a ela conheci-te a ti
Foi de uma altura assim que eu caí
superior à própria torre desse hotel
por muitos suicidas escolhida para fim de vida
Não é esta cidade essa cidade onde vivi
onde fui ao cinema e trabalhei e passeei
e na chama do corpo próprio a mim sem compaixão me consumi
Aqui foi a cidade onde eu te conheci
e logo ao conhecer-te mais que nunca te perdi
Deve haver quase um ano mais que ao ver-te vi
que ao ver-te te não vi e te perdi ao ter-te
Mas a esta cidade muitos dão o nome de madrid
Ruy Belo
Abstracto #1
Tudo o que faço para decifrar o que uma mulher espera de mim, e ainda que algumas vezes acerte, é apenas uma tentativa, uma exploração às cegas num território desconhecido.
O desejo de uma mulher é a articulação de um silêncio, um labirinto, um escrito não traduzido, um cheiro sem nome, uma ideia antes da ideia. Eu sei que estou apaixonado por esta mulher.
O amor é uma matéria tão volátil e abstracta, tão impossível de explicar como fácil de reduzir a um punhado de metáforas sem sentido.
O desejo de uma mulher é a articulação de um silêncio, um labirinto, um escrito não traduzido, um cheiro sem nome, uma ideia antes da ideia. Eu sei que estou apaixonado por esta mulher.
O amor é uma matéria tão volátil e abstracta, tão impossível de explicar como fácil de reduzir a um punhado de metáforas sem sentido.
segunda-feira, agosto 01, 2005
Euromilhões
Esta semana joguei no Euromilhões. Durante semanas defendi que não queria jogar, que não queria ganhar, não queria ser escrava de um prémio de tantos e pesados milhões.
Os vencedores são apelidados de excêntricos. Estranho, só me apercebi da denominação quando estava à procura da chave vencedora na internet, ainda a trabalhar às oito da noite de um sexta-feira.
Confesso que não saberia o que fazer a tanto dinheiro. A dona Josefina diz que compraria casas para os filhos, o senhor Alberto a própria casa e um carro. E depois? À minha volta as pessoas dizem que não queriam saber de casas, que queriam viajar por todo o mundo.
Ter jogado fez-me compreender que o Euromilhões é muito mais que um jogo e um prémio. É uma fonte de inspiração desde o momento em que os números ficam na máquina até ao momento de conferir o boletim.
Será que os 113 milhões seriam suficientes para comprar o David? Ficaria eu presa a uma estátua como Pigmaleão ficou a Galateia? Pigmaleão, o escultor que procurava a perfeição na sua arte recusando-se a olhar para fora dela, acabou por se apaixonar por uma figura perfeita, de pedra, gelada...
Não ganhei...
Os vencedores são apelidados de excêntricos. Estranho, só me apercebi da denominação quando estava à procura da chave vencedora na internet, ainda a trabalhar às oito da noite de um sexta-feira.
Confesso que não saberia o que fazer a tanto dinheiro. A dona Josefina diz que compraria casas para os filhos, o senhor Alberto a própria casa e um carro. E depois? À minha volta as pessoas dizem que não queriam saber de casas, que queriam viajar por todo o mundo.
Ter jogado fez-me compreender que o Euromilhões é muito mais que um jogo e um prémio. É uma fonte de inspiração desde o momento em que os números ficam na máquina até ao momento de conferir o boletim.
Será que os 113 milhões seriam suficientes para comprar o David? Ficaria eu presa a uma estátua como Pigmaleão ficou a Galateia? Pigmaleão, o escultor que procurava a perfeição na sua arte recusando-se a olhar para fora dela, acabou por se apaixonar por uma figura perfeita, de pedra, gelada...
Não ganhei...
Playtime
playtime
Ontem revisitei tempos modernos: revi o Playtime do Jacques Tati, um dos filmes da minha vida. Este incrível filme de 1968 é uma das obras primas da comédia (a par com o “The Party”, com o Peter Sellers no seu melhor papel e sem panteras). Cada cena do Playtime é uma cascata de efeitos visuais (não especiais), que se sucedem uns atrás dos outros sem se quebrar um fio “narrativo” quase isento de diálogos, produzindo um caledoscópio sensorial no limite da nossa percepção.
Adoro este filme.
A sombra do gato
Subscrever:
Mensagens (Atom)