quinta-feira, agosto 25, 2005

Edukadores



É um filme muito poderoso, difícil, desconfortável, pesado, cru!
Um grupo de jovens rebeldes, revoltados contra o capitalismo, com a maneira injusta de distribuição da riqueza, toma a justiça nas próprias mãos. Nós os espectadores, engolimos em seco, fazemos parte do sistema, fomos de carro para o cinema, com um bocadinho de sorte até conseguimos um convite oferecido pela rádio ou um patrocinador, temos as nossas casas mobiladas, com uma televisão (desligada no meu caso), um trabalho cinzento (ou não) onde sonhamos com férias, viagens, fins de semana.

Saí da sala com um nó no estômago.

Para onde foi o meu idealismo fervoroso? Continuo a poupar todas as gotas de água que posso, a desligar todas as luzes, a evitar comprar roupa feita com petróleo, as marcas globais. Tento comprar coisas portuguesas mas quando chega aos ténis o que posso fazer? Faço desporto, caminhadas, ginásio!

Porquê que estou a tentar arranjar desculpas para as minhas escolhas? São sempre escolhas e escolhi ver o filme e recomendá-lo ao mundo. Pode não servir de muito, mas o pouco que for já é qualquer coisa.

6 comentários:

Anónimo disse...

A parte da justiça pelas próprias mãos é que me assusta, é normalmente nesse ponto que se perde a razão e em que os extremos se tocam. Deve ser muito pesado para mim, que agora só quero filmes e livres com o peso do algodão doce, mas fica resgistado para mais tarde procurar.

anoeee disse...

A coisa evoluiu de tal maneira que a única forma de não compactuares é mesmo a anarquia: ou seja, sair totalmente do sistema, cultivar a comida e as plantas para tecer as roupas, viver da terra e não produzir lixo nenhum que não seja biodegradável (ainda não foi há 50 anos que acabaram as últimas aldeias comunitárias que existiam em Portugal, totalmente auto-suficientes!)...
Hoje em dia já começa a existir quem trabalhe para essa realidade: eco-aldeias, agricultura biológica, turismo rural, comércio justo, são tudo ideias florescentes.
O problema, do meu ponto de vista, é que quem anda constantemente a ser empurrado pela vida (do trabalho para a casa, para o carro, para as compras, para o trabalho, etc...) não tem a energia para ir procurar essas realidades mais difíceis de encontrar, mais dispendiosas, mais custosas.
No entanto, há limites que eu não consigo ultrapassar, certas marcas que me enojam, certos produtos ou excessos que me deprimem - não que os não cometa, mas que se o faço é sempre para depois me arrepender amargamente.
Em relação a tudo perguntar:
1.- O que é isto? (de onde vem? quem é que o fez? o que é que implica?)
2.- Porque é que me querem vender isto? (o que é que ganham? o que é que eu perco?)
3.- O que é que eu poderia ter em vez disto? (o que é que não me querem vender? e porquê? posso obtê-lo à mesma?)

Lu disse...

A justiça com a próprias mãos é sempre problemática. Até que ponto a luta é uma causa global ou uma causa própria.

Sobre o que consumimos, todos sabemos que é muito mais caro comprar produtos diferenciados. E, é por isso que são cada vez mais raros.

A minha sugestão de consumo vai para o largo de Alfarim (perto da Aldeia do Meco) onde os agricultores locais vão vender os tomates suculentos, alfaces doces e fruta não normalizada... Hummmmmm. Mega salada! Já está na hora de almoço!

Carlos Gouveia disse...

Evolução ou transformação da sociedade?

O progresso, seja sociológico ou tecnológico, considero que seja um fenómeno de evolução. Mas se olharmos a história deste século passado (não falo da nossa, que foi a menos violenta), essa evolução foi à custa de ideais, que sofreram transformações com factos violentos, chegando mesmo ao extremo da justiça das próprias mãos.

Não estou a dizer que concordo com essa maneira de ver as coisas, nem as aceito mas interrogo-as. Tento compreendê-las. E aí pode estar o meu ideal, se é que existe.

Já estou a divagar.

"Goodbye, Lenine"

Lu disse...

E é mesmo para essa revolução que caminhamos. Vamos ver até quando milhares de pessoas vão aceitar viver entrincheiradas em bairros degradados, a viverem abaixo do limar da pobreza. A questão já não é se vai acontecer, a questão é quando.

A violência nos Edukadores é muito particular. Estava sempre à espera do momento da transformação num filme do Michael Haneke. Não aconteceu, felizmente! Neste caso havia um motivo, um ideal.

É com o mesmo actor do “Goodbye Lenine”.

Carlos Gouveia disse...

Um filme de revolta e que revolta o meu ideal, a minha utopia.
A chamada evolução da sociedade na globalização é um ciclo como outro qualquer, como a revolução industrial de há 100 anos. É como uma praga, que chega, consome tudo e depois vai embora.
Vivemos com a praga. Eu faço o meu papel: deixo-me consumir por ela até achar que é o ponto de viragem para outro ciclo.

Não me esqueço de uma frase:

"Há pessoas que não mudam..."

É verdade, como há outras que mudam...